28 Março 2011
Olhando-os finalmente no rosto, eles não têm o ar de guerreiros: porém, a onda dos protestos que hoje faz tremer Bashar al Assad entre os muros de Damasco e obriga Ben Ali a viver em um exílio blindado na Arábia Saudita lhes alimentaram. Malek, Amina, Asma, Sultan e muitos outros são os ciberativistas que tocaram o sinal de despertar para as revoltas que hoje sacodem o mundo árabe.
A reportagem é de Francesca Caferri, publicada no jornal La Repubblica, 28-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O que lhes reuniu em Doha nos últimos dias foi a TV Al Jazeera. "O futuro do mundo árabe chegou?" era o título do encontro: uma pergunta à qual os blogueiros responderam sem hesitar: "Sim".
"O futuro somos nós: nada do que a geração anterior fez nos abriu caminho", diz Malek Khadraoui, do Nawaat, o portal que relatou a revolução tunisiana. "Escolhemos o nosso caminho e o nosso meio, que foi a Internet. E, graças a isso, conseguimos obter a mudança que queremos. Uma mudança real: não venham nos falar de revolução virtual".
As últimas semanas para Malek e para aqueles como ele representam uma bifurcação: aquela que havia iniciado como uma revolta pacífica se transformou em uma guerra (Líbia) ou em confrontos sanguinários (Bahrein e Iêmen). E também naqueles casos (Egito) onde a transição procede, a onda está lentamente retrocedendo: a vitória do "sim" no referendo sobre a constituição há poucos dias não era o resultado esperado pelos jovens. Depois, houve a morte de um deles, Mohammed Nabous, chamado de "Mo", nas primeiras horas da batalha de Bengasi. Acontecimentos que levaram os analistas a se perguntar se os jovens árabes não estavam perdendo a batalha. "Não acredito", responde Malek. "O que vimos foi a união do pensamento político, o dos ativistas e do não político, de pessoas como Wael Ghonim, do Google: um fenômeno revolucionário e irreversível".
Mas é fato que, entre os corredores do Fórum, uma certa inquietação surgisse: "Vocês têm que deixar de falar de nós e deixar de falar conosco", disse, em um certo ponto, Nasser Weddady (Weddady para quem o segue na rede) a um grupo de políticos e acadêmicos no palco. "Durante anos, vocês nos inundaram com discursos e não mudaram nada. Agora, cabe a nós". Aplausos na sala, silêncio entre os relatores.
Entre aqueles que sorriam, a egípcia Asma Mahfouz, autora de um vídeo postado no YouTube que levou à Praça Tahrir milhares de pessoas: "A rede para nós foi um grande meio, porque ali ninguém pôde nos intimidar. Mas se equivoca quem pensa que existimos só ali: há muitíssimo trabalho real por trás daquilo que fizemos. E vigiaremos para que não seja perdido".
Efetivamente, a pressão à qual esses jovens estão submetendo governos e opinião pública é tal que, hoje, os mais navegados entre os políticos devem responder: "São cidadãos verdadeiros aqueles que estão fazendo a História, são vocês: não voltaremos para trás", prometeu, em Doha, Rachid Ghanouchi, por anos líder da oposição tunisiana, hoje figura-chave para o futuro do país.
Garantias importantes, que, porém, não bastam: "Temos novos desafios", defende Ramsey George, jordaniano, animador do www.7iber.com. "A segurança é uma: a Internet ajuda a comunicar, mas também pode expôr à repressão". Malek concorda: sem a colaboração, cimentada em anos de encontros, entre Nawaat e os egípcios do movimento "6 de abril", ele e os seus não teriam conseguido manter aberta a comunicação quando Ben Ali procurou "desligar" a Internet. Depois de anos de idas e vindas a Paris, Malek hoje voltou para a Tunísia: nos próximos meses, diz, "haverá muito a ser feito: não podemos nos deixar ser pegos despreparados".
Um desafio enorme, ao qual esses jovens nem tão certamente estão prontos: "Não posso dizer se vencerão – diz John Esposito, professor da Georgetown University, de Washington –, mas puseram estacas das quais não se voltará atrás: o número de mulheres que saíram às ruas no Egito, a colaboração sunitas-xiitas no Bahrein. Não são coisas criadas pela Internet, mas a Internet foi o meio para fazer com que saíssem para a realidade: e não há modo de anular isso. Os políticos deverão levar isso em conta".
Asma, quando lhe são ditas estas palavras, sorri: "Não fizemos aquilo que fizemos para voltar atrás. Eu começarei a estudar ciências políticas. Não era o que eu pensava fazer, mas agora tenho responsabilidades. Muitos dos meus amigos fazem escolhas semelhantes. Um conselho? Não nos subestimem. Vejam como acabaram aqueles que o fizeram".
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"Feita a revolução, agora queremos o futuro" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU