"A posição da Igreja nunca foi muito favorável, mas me admira o fato de a fecundação assistida ser incluída entre os pecados, visto que é efetuada no mundo também em algumas estruturas católicas."

A análise é de Bruno Dallapiccola, geneticista do Conselho Superior de Saúde italiano e diretor científico do hospital Bambino Gesù, em entrevista a Giacomo Galeazzi, publicada no jornal La Stampa, 21-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Médicos e pacientes cometem pecado com a fecundação assistida?

A posição da Igreja nunca foi muito favorável, mas me admira o fato de a fecundação assistida ser incluída entre os pecados, visto que é efetuada no mundo também em algumas estruturas católicas. Em certos centros, também se faz recurso a bolhas de ar entre o óvulo e o espermatozoide para tornar a concepção o mais natural possível. Foram admitidas algumas técnicas, portanto deve ser criticado, ao contrário, o abuso da fecundação assistida: pela pressa de obter uma gravidez quase depois de um ano de relações não protegidas, há a tendência de se dirigir a uma estrutura especializada.

Existe o risco da "proveta selvagem"?

Há diversas certificações internacionais que atestam a qualidade dos laboratórios e a precisão dos diagnósticos, mas na Itália menos de 30% dos laboratórios que fazem diagnóstico genético possuem esse tipo de certificação. Frequentemente, as estruturas que oferecem a inseminação artificial não acompanham a mulher depois da terapia. Isso é um fato gravíssimo.

Existe discussão sobre o tema na Igreja?

Admira-me a referência à Fivet [fecundação assistida com transferência de embrião], porque a técnica mais utilizada, pelo menos 70% dos casos, é o ICSI [injeção intracitoplasmática de espermatozoides], isto é, a injeção do único espermatozoide na célula-ovo. É tudo muito problemático, e a Santa Sé acolheu a análise do glóbulo polar que seleciona o gameta feminino no caso de pais com problemas conhecidos, por exemplo a talassemia. A pesquisa está dando enormes passos à frente nesse setor, alcançando resultados extraordinários. A Igreja teve uma posição de abertura sobre essa nova técnica, que, de fato, é a antessala da fecundação in vitro. É o sinal de que, sobre esses temas, existem posições diversas na hierarquia eclesiástica.