20 Março 2011
Uma mulher da Califórnia que participou de uma cerimônia de ordenação do Roman Catholic Womenpriests [Sacerdotisas Católicas Romanas] ao diaconato em 2007 se retratou publicamente por essa decisão, a fim de retornar à Igreja.
A reportagem é de Zoe Ryan, publicada no sítio National Catholic Reporter, 14-03-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Norma Jean Coon (foto), de San Diego, divulgou um comunicado no dia 8 de fevereiro em sua página da Internet.
"Quero renunciar à suposta ordenação e declarar publicamente que eu não atuei como diaconisa como parte desse grupo, exceto em duas ocasiões, quando eu li o Evangelho uma vez na missa e distribuí a Comunhão uma vez nessa mesma missa", dizia a declaração.
O chanceler Rodrigo Valdivia, de San Diego, confirmou ao NCR que Coon "fez um pedido de remissão de sua censura ao seu bispo [Robert] Brom", de San Diego.
"O levantamento da censura em que uma pessoa que participa de uma ordenação ilícita incorre é reservada à Santa Sé", escreveu Valdivia em um e-mail, acrescentando que o caso de Coon foi entregue à Congregação para a Doutrina da Fé, e a diocese ainda não recebeu uma resposta.
Uma representante do movimento Roman Catholic Womenpriests disse ao NCR que Coon não era ativa nem esteve em contato com o movimento por mais de três anos. Em janeiro, Coon contatou o movimento informando-lhes sua decisão de renunciar às suas ligações com o grupo.
Coon é a primeira mulher que foi ordenada por meio de uma associação de ordenação feminina a se retratar de sua decisão, de acordo com o Roman Catholic Womenpriests, iniciativa internacional que ordena homens e mulheres.
O Vaticano considera a ordenação de mulheres na Igreja Católica como uma ofensa grave, e os participantes são excomungados "latae sententiae", ou seja, automaticamente.
Coon disse em seu documento que se retirou do programa duas semanas após a cerimônia de ordenação em 2007 "porque eu percebi que havia cometido um erro ao estudar para o sacerdócio. (…) Eu confesso a autoridade do Santo Padre sobre as questões da ordenação e reconheço que Cristo fundou a ordenação só para homens".
Coon chamou o seu ato de "ilegítimo e não reconhecido pela Igreja Católica Romana" e assumiu que havia sido excomungada "latae sententiae".
"Formalmente, eu renuncio a toda conexão com o programa do Roman Catholic Womenpriests e nego a suposta ordenação publicamente com pedidos de desculpas àqueles cujas vidas eu ofendi ou escandalizei com minhas ações".
A página de Coon, contém sua declaração e uma oração que também retrata a sua decisão; menciona ainda que ela foi casada por 47 anos; e pede as bênçãos de Deus "sobre o meu bispo e meu pastor e aos padres de Roma que me ajudaram no processo de ser reintegrada à Igreja Católica Romana".
O NCR contatou Coon duas vezes por e-mail. Ela se recusou a fazer quaisquer comentários.
Suzanne Avison Thiel, administradora da região ocidental do Roman Catholic Womenpriests dos EUA, disse ao NCR, em uma mensagem por e-mail, que Coon não havia mantido nenhum contato com elas desde logo depois que ela havia sido ordenada, no dia 22 de julho de 2007, em Santa Barbara, Califórnia, até o dia 1º de janeiro deste ano, quando ela informou ao grupo que estava renunciando à sua filiação.
"Norma Coon (a pedido dela) não é mais membro do Roman Cathollic Womenpriests dos EUA e não está, de nenhuma forma, afiliada a nós ou a qualquer uma das nossas atividades", escreveu Thiel no e-mail.
Bridget Mary Meehan, representante de comunicação do grupo, disse que Coon lhe enviou um e-mail no dia 1º de janeiro, pedindo para que Meehan removesse vídeos e fotos dela no site do movimento. Para ser reintegrada à Igreja, segundo a explicação de Coon a Meehan, ela deveria dissolver qualquer ligação com o grupo. Meehan disse ter obedecido a esse pedido.
Membros do Roman Catholic Womenpriests disseram que Coon havia experimentado um trauma familiar pessoal, incluindo questões de saúde e a morte de seu filho de 42 anos, que morreu em 2010 devido a uma ruptura de aneurisma da aorta, de acordo com o obituário do jornal The San Diego Union-Tribune.
"Ela é nossa irmã, nossa amada irmã, e queríamos ajudá-la a seguir a sua consciência", disse Meehan ao NCR. "Não há ressentimentos. Nós compreendemos totalmente".
Meehan disse que o Roman Catholic Womenpriests adverte as mulheres que se juntam a elas "que serão excomungadas". A duração regular da preparação para o diaconato é de um ano, mas isso varia de acordo com a pessoa. O programa é individualizado para cada pessoa e inclui uma entrevista clínica de admissão e exames psicológicos, dentre outras coisas.
Como a ordenação de mulheres não é permitida na Igreja Católica, aquelas que participam das cerimônias enfrentam conflitos dentro da Igreja.
Em maio de 2010, a morte de Janine Denomme, 45 anos, de Chicago, virou notícia quando lhe foi negado o funeral em uma Igreja Católica. Ela havia sido ordenada pelo Roman Catholic Womenpriests.
O Roman Catholic Womenpriests divulgou um comunicado no dia 24 de fevereiro referente à partida de Coon: "Ela tem todo o direito de mudar de ideia e tem a obrigação de seguir a sua consciência. Continuamos sendo Sacerdotisas Católicas Romanas e continuamos seguindo a nossa consciência, e, dito de forma simples, obedecer a Deus supera a obediência ao Papa".
E continua: "A firme convicção da Associação do Roman Catholic Womenpriests é de que as mulheres que são ordenadas em um ministério sacerdotal renovado estão seguindo o primado da consciência".
"Crime grave"
A iniciativa internacional do Roman Catholic Womenpriests começou em 2002, quando sete mulheres foram ordenadas no rio Danúbio, entre a Áustria e a Alemanha, por bispos do sexo masculino. Hoje, existem 124 padres, bispos, diáconos e candidatos ao sacerdócio em sua organização. Eles reivindicam ter a sucessão apostólica.
No ano passado, o Vaticano revisou as leis eclesiásticas que regem aquilo que chama de "crimes graves" e, pela primeira vez, acrescentou a "tentativa de ordenação sagrada de uma mulher" a essa lista.
Anteriormente, casos como o de Coon poderiam ser tratados no escritório do bispo local, de acordo com o padre oblato Francis Morrisey, professor de Direito Canônico da Universidade de St. Paul, em Ottawa. "Todos esses casos têm agora de ir para a Congregação vaticana para a Doutrina da Fé, e temos que aguardar a sua decisão".
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Mulher renega seu diaconato e busca reencontro com a Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU