14 Março 2011
Na segunda-feira (14) pela manhã, a situação do Japão quanto aos reatores nucleares permanecia extremamente crítica e sua evolução, muito incerta. Os temores, que a princípio se concentravam no reator 1 da usina de Fukushima-Daiichi, a 250 quilômetros ao norte de Tóquio - seu prédio externo foi derrubado por uma explosão de hidrogênio, no sábado - agora recaem sobre o reator 3 da mesma usina. Seu teto também foi destruído na segunda-feira (14) no final da manhã, por outra explosão de hidrogênio.
A reportagem é de Pierre Le Hir e Hervé Morin, publicada pelo jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 15-03-2011.
O mais urgente continua sendo o resfriamento dos reatores 1, 2 e 3. Os japoneses resolveram injetar água do mar, para afundar as paredes de contenção e resfriar o núcleo, um procedimento extremo. "O material está sendo sacrificado, deve-se agir sem dó", nota Martial Jorel, do Instituto de Radioproteção e de Segurança Nuclear (IRSN) francês. As informações provenientes do Japão não permitem saber se estão conseguindo injetar essa água fria diretamente no tanque, ou somente nas paredes, uma medida menos eficaz.
Nos dois casos, a potência residual, situada entre 5 e 8 megawatts, continuará a produzir vapor e consequentemente uma pressão que deverá ser evacuada, para manter a integridade das paredes de contenção dos reatores. O que necessariamente resultará em liberação de vapores radioativos no meio ambiente. Essas liberações certamente serão feitas durante várias semanas.
A presença de um combustível MOX, contendo óxido de plutônio, no reator 3, tornaria essas emissões mais tóxicas? "Nos primeiros produtos de fissão emitidos, não há diferença, pois o plutônio, muito pouco volátil, permanece no núcleo", acredita Vincent Crutel, especialista em contenção no IRSN. É no caso de uma explosão do núcleo, como em Chernobyl, que as partículas de plutônio envenenariam o meio ambiente.
Risco de explosão
Por enquanto, as precipitações de iodo e sobretudo de césio é que são preocupantes: a meia-vida do césio é de cerca de trinta anos, o que significa que será preciso esperar trezentos anos para que ele desapareça por decaimento natural.
As informações sobre a contaminação do meio ambiente continuam muito fragmentadas. O IRSN "teme que tenham sido efetuadas emissões consideráveis", com um impacto "muito grande" sobre o meio ambiente. Com a explosão do prédio do reator 1, a radiação, no local, teria atingido 1 milisievert por hora, ou seja, 10 mil vezes a radioatividade natural. Essa exposição equivale ao limite máximo tolerável, em um ano inteiro, para o público. Doze horas após a explosão, a radiação ainda seria de 0,04 milisievert por hora no local da usina. Para o IRSN, essas doses correspondem a "uma emissão muito grande no meio ambiente".
A rede Sortir du Nucléaire [em português: desativação do nuclear] relatou que jornalistas japoneses mediram, no domingo (13) de manhã, na cidade de Futuba, a 2 quilômetros da usina de Fukushima-Daiichi, uma radiação de 0,1 milisievert por hora.
O estado do reator 2 de Fukushima-Daiichi também causa preocupações. A operadora anunciou, na segunda-feira, que seu sistema de resfriamento também estava "quebrado" e que seria necessária uma despressurização de sua contenção a curto prazo. Junto com o risco de uma nova explosão de hidrogênio, como nos reatores 1 e 3.
Há questões também sobre o combustível armazenado na usina, muito perto dos reatores. "Não temos muita informação sobre essas piscinas", afirma Jorel. "Mas seu aquecimento é lento e não muito complicado de se administrar".
Na usina de Fukushima-Daini, a 12 quilômetros ao sul da primeira, onde estão instalados quatro reatores nucleares, sistemas de resfriamento também estão defeituosos. A Tepco vem realizando ali injeções de água e pretende efetuar operações de despressurização das contenções.
No que diz respeito às outras usinas paralisadas pelo terremoto, a situação está "em melhora geral" em relação a algumas informações divulgadas no domingo, acredita Martial Jorel. Assim, na usina de Onogawa, mais ao norte, o estado de emergência foi declarado após a medição de níveis elevados de radiação no local. Mas, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), eles poderiam resultar das emissões da usina de Fukushima-Daiichi.
Por fim, a usina de Tokai, a cerca de 150 quilômetros ao norte de Tóquio, também está tendo uma falha em seu sistema de resfriamento, mas seus circuitos de emergência teriam entrado em ação.
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Vapores radioativos de usina de Fukushima podem envenenar ambiente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU