28 Fevereiro 2011
Três horas depois de o motorista Ricardo Neis, 47 anos, depor, o Ministério Público pediu à Justiça a sua prisão preventiva. Ontem à noite, a Polícia Civil também pediu a prisão. Para os promotores Eugênio Amorim e Lúcia Helena Callegari, do Tribunal do Júri da Capital, as imagens postadas na internet, aliada ao histórico de infrações graves no trânsito, revelariam um perfil violento e impulsivo do condutor.
– Ele tem até processos por ameaça. Já correu atrás de uma namorada com uma machadinha. Já tem multas por dirigir na contramão, em cima da calçada e outras infrações graves. Precisa ser preso, pois não há justificativa para o que fez – explicou Amorim.
A reportagem é do jornal Zero Hora, 01-03-2011.
O pedido foi protocolado no plantão judiciário do Fórum Central e será analisado por um juiz de uma vara criminal hoje. Conforme o promotor, o atropelamento foi um crime doloso (com intenção de matar) e duplamente qualificado, por ter sido cometido por motivo fútil e por um meio que impossibilitou as vítimas de se defender (pelas costas).
– Tentei falar com o delegado sobre o pedido. Fui informado de que ele pretendia pedir a prisão só no final do inquérito. Mas e se ele fugir? E a comoção social? – ponderou o promotor.
Em três horas e meia de depoimento, o motorista Ricardo Neis alegou legítima defesa dele e de seu filho de 15 anos, que estava no carro, para acelerar pelas costas contra dezenas de integrantes do grupo Massa Crítica, na sexta-feira passada. Sobre os momentos que antecederam o atropelamento coletivo, Neis relatou à imprensa:
– Eu disse para eles que tinha lugar para todos na via, que não havia necessidade para fazer todo aquele tumulto, e seguimos. Eles foram na marcha, e eu fui junto. E durante todo o caminho, eles foram batendo no carro, os que estavam ali atrás.
A decisão de acelerar sobre os ciclistas teria ocorrido em seguida, na versão do motorista.
– E no momento que houve uma brecha ali, eu passei um pouquinho por alguns deles. Eles se enfureceram e começaram agredir, quebraram o espelho, deram vários socos e jogaram bicicletas por cima. E, naquela situação, eu me desesperei, eu só podia sair o mais rápido possível para evitar um linchamento.
O motorista negou que tenha fugido para evitar ser identificado, alegando que deixou os documentos do carro dentro do veículo para ser encontrado mais tarde. Sobre o abandono do Golf já sem as placas, ele tentou justificar:
– Foi por causa da repercussão, para não ser linchado.
Questionado sobre o que faria se pudesse voltar no tempo, ele afirmou:
– Ah, eu teria ficado em casa.
À medida que transcorria o depoimento de Neis, vítimas do atropelamento e participantes do passeio ciclístico iam chegando para depor. Revoltada, a estudante Melissa Webster, 21 anos, contou que o bancário buzinava e não queria esperar a passagem dos ciclistas pela via.
– Ele ameaçou avançar sobre as bicicletas e freou. Falei para ele sobre o passeio, mas ele falou que estava com pressa. Depois, atropelou minha mãe.
Com lesões nas costas e nos braços, Marcos Rodrigues, 27 anos, que entrega correspondência de bicicleta, disse que houve discussão, mas negou que integrantes do passeio tenham quebrado o vidro do Golf do bancário.
– Ele foi colocando o carro para cima das pessoas. Bateram com a palma da mão para chamar a atenção dele, sem causar danos ao carro – garantiu.
– Minha sorte é que eu estava com capacete. Não foi atropelamento, foi tentativa de homicídio – disse.
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Pedida prisão de motorista que atropelou - Instituto Humanitas Unisinos - IHU