23 Fevereiro 2011
"Os frigoríficos Bertin e JBS Friboi formaram, em 2009, a maior companhia do mundo no segmento de proteína animal do mundo. Porém, ao se unirem e construírem uma planta industrial, o grupo adquiriu madeira de empresa que já recebeu matéria-prima de fazenda com área embargada pelo Ibama".
A reportagem é de Thais Jervolino e publicado por Amazonia.org.br, 23-02-2011.
Esse é um dos diversos casos de grandes empresas envolvidas com a cadeia produtiva predatória que ilustram a pesquisa "Quem se beneficia com a destruição da Amazônia", lançada pelo Conexões Sustentáveis: São Paulo - Amazônia, iniciativa que busca mobilizar as cadeias de valor dos setores da pecuária, da madeira e da soja por meio de pactos setoriais para a preservação da floresta amazônica e seus povos.
De acordo com Leonardo Sakamoto, coordenador da ONG Repórter Brasil, um dos autores do estudo, grandes empresas como Casas Bahia e Magazine Luiza estão relacionadas com o desmatamento, ao comprar produtos de fornecedores ligados a crimes socioambientais na Amazônia. "O desafio é colocar o desenvolvimento sustentável sem impedir que classes sociais mais baixas tenham acesso aos produtos, já que produtos ilegais não possuem o mesmo valor do que o sustentável", explica.
Um dos objetivos do estudo é alertar as empresas e os consumidores sobre a importância de adotar modelos de negócios que não financiem a exploração predatória dos recursos naturais, a exploração desumana de trabalhadores ou que cause danos às populações tradicionais.
Outro autor da pesquisa, Marques Casara, diretor da empresa Papel Social, destaca a influência do governo na ilegalidade. "Hoje há novas formas de fraudar a extração de madeira e elas são perpetuadas pelo próprio Estado. Na Secretaria do Meio Ambiente do Pará há uma quadrilha que frauda o sistema de controle. No Mato Grosso, funcionários do alto escalão foram pegos em um escândalo de esquentamento de madeira", diz.
De acordo com a pesquisa, ao destacar algumas cadeias produtivas que impactam o meio ambiente, a intenção não é "procurar culpados (até porque, em última instância, todos nós, consumidores, somos responsáveis), mas unir esforços para resolver o problema e monitorar a solução. Com a transparência que uma sociedade que vive na era de informação exige".
Legitimação da ilegalidade
Atualmente, a atividade de extração de madeira ilegal no Pará movimenta ao ano cerca de R$ 2 bilhões. De acordo com Valmir Ortega, diretor do Programa Cerrado-Pantanal da Conservação Internacional do Brasil, uma das questões mais preocupantes é o fato de que a atividade ilegal é legitimada pelos habitantes onde ela se encontra. "Os atores que investem em ilegalidades como a grilagem, extração de madeira ilegal, supressão de floresta, associação com madeireiras ilegais, precisam de um capital inicial de R$ 1 milhão. Após dois anos, a atividade obterá um retorno ao investidor de R$ 15 a R$ 20 milhões. Duvido que haja outra atividade com tal taxa de retorno. O mais preocupante é que boa parte da sociedade acha que esse processo é legítimo. Há um entendimento que nessas regiões a lei não pode ser cumprida. Por isso combater essas práticas é tão difícil", comenta.
Políticas de compras positivas
Segundo Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, as políticas de compras que excluem negociações feitas com aqueles que estão em listas de atividades predatórias, como a do desmatamento, não são suficientes. "É preciso adotar políticas positivas, nas quais se decide e divulga o que se quer comprar, ao invés de excluir fornecedores com base de referência em listas amostrais de exclusão".
Para ele, esse é o momento de abandonar a postura simplista de "limpar a barra". "É preciso estruturar a cadeia e não excluí-la cada vez mais", afirma.
Leia o estudo na íntegra aqui.
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Estudo mostra os beneficiários da destruição na Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU