22 Fevereiro 2011
O físico e matemático americano Edward Witten é hoje um dos principais nomes da teoria das cordas: uma ideia antiga da física que afirma que as menores unidades formadoras da matéria e da energia (incluindo a luz) são cordas vibratórias.
A entrevista é de Sabine Righetti e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 23-02-2011.
Apesar de ainda não ser comprovada, já que as cordas nunca foram "vistas", Witten aposta que a teoria terá avanços significativos nos próximos anos.
O cientista ficou conhecido internacionalmente ao encabeçar uma revolução recente na física teórica. Ele e seus colegas uniformizaram cinco variantes das cordas, em 1995, ao criar a "teoria M", hoje considerada a versão mais robusta da ideia.
Em entrevista, enquanto esteve no Brasil para um curso no Instituto de Física Teórica da Unesp (Universidade Estadual Paulista), ele disse que os aceleradores de partículas, como o LHC, poderão validar a teoria em breve -um grande passo para uma visão definitiva das leis que regem o Universo.
Eis a entrevista.
O sr. é hoje um dos principais nomes da teoria das cordas. Como explica as cordas e o fato de não haver ainda comprovação para ela?
Na física moderna, há duas teorias importantes: a mecânica quântica, que trata dos átomos e das partículas subatômicas, e a teoria da relatividade, de Albert Einstein, que trabalha as grandes escalas do Universo. As cordas são uma tentativa de unir essas duas teorias a partir de um modelo único que descreva, com eficiência, as diferentes forças da natureza [a teoria das cordas descreve a formação da matéria ao afirmar que a menor unidade da matéria são "cordas" em movimento].
Mas há quem diga que as cordas são quase uma "profecia", já que não há dados experimentais sobre elas.
A teoria não tem nada de profética. Alguns cientistas não a entendem direito e não compreendem porque ela ainda não foi comprovada. Outras teorias da física, como a mecânica quântica, estão mais desenvolvidas. Só isso.
Essa comprovação virá pelos experimentos com os aceleradores de partículas?
A teoria das cordas tem mais de 40 anos, mas ainda faltam algumas explicações.
Os aceleradores de partículas como o LHC [o acelerador de partículas mais potente do mundo, que fica em Genebra, na Suíça] podem explicar a natureza e revelar indícios de outras dimensões. Por isso, poderão contribuir para explicar as cordas.
As cordas [conforme postulado pela teoria] vibram em 11 dimensões, sendo três dimensões espaciais, a dimensão do tempo e outras tantas que não conseguimos perceber. Os aceleradores podem mostrar isso. Eu conheço alguns cientistas que trabalham no LHC, e temos mantido contato. Não acho que a comprovação da teoria venha em dez anos, como dizem por aí. Nem sei de onde veio a ideia de "dez anos". A comprovação pode vir antes.
A teoria também trata da origem da matéria. Por que existe uma obsessão para explicar o começo de tudo?
Porque isso é realmente fascinante. Há muitas perguntas sem resposta. É normal que a gente queira achar respostas, e existem muitas possibilidades sendo levantadas. Há físicos que dizem que o Universo está dentro de um buraco negro. Não há evidências suficientes para isso, mas a ideia faz sentido. Se o Universo estiver num buraco negro, ele será o máximo que você conseguirá enxergar. E, como os buracos negros são realmente muito grandes, sim, nós podemos estar dentro de um deles.
Como começou o seu interesse pela ideia das cordas?
Eu tinha colegas trabalhando com as cordas na década de 1980, e eles tiveram progressos significativos em 1984. Acabei entrando cada vez mais nessa área até chegar, em 1995, à teoria M [que une variações da teoria].
O que significa a letra M no nome dessa teoria? Há quem diga que a letra simboliza as palavras "mãe" ou "mistério" ou especulações de que o M seria o prenúncio de uma futura teoria.
Nunca quis criar polêmica com o nome da teoria M. Alguns dos meus colegas acharam que eu havia descoberto a teoria da membrana [de que as cordas teriam um aspecto em duas dimensões, em formato de membrana ou folha de papel].
Por isso, resolvi usar a primeira letra da palavra "membrana", e ficou "teoria M". Vamos deixar que o tempo nos diga se o "M" representa uma membrana ou não, no fim das contas.
Essa é a sua segunda vez no Brasil. Qual é a sua impressão sobre a ciência brasileira?
Eu estive no Brasil há alguns anos, no Rio de Janeiro, mas é a primeira vez que venho a São Paulo. Estou gostando muito da minha experiência na Unesp. Tenho trabalhado com o físico Nathan Jacob Berkovits [coordenador do curso da Unesp]. Agora está sendo ótimo conhecer os estudantes brasileiros e ter uma experiência internacional nessa área.
Além das cordas, o senhor tem algo que goste de fazer fora dos laboratórios?
Gosto de ficar com minha família, meus três filhos e minha neta. Também gosto de jogar tênis algumas vezes por semana. Mas acredito que sou melhor na ciência do que nas quadras de tênis.
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LHC dará força a teoria unificadora da física - Instituto Humanitas Unisinos - IHU