19 Fevereiro 2011
Rodoanel
O governo de São Paulo quer interligar o Aeroporto Internacional de Guarulhos com a Rodovia Fernão Dias e a construção do trecho norte do Rodoanel, que terá 44 km de extensão. Mas para Ivini Ferraz, coordenadora Rede de Cooperação da Cantareira, a obra "sacrificará a maior floresta urbana do mundo". "Todos os países têm um Rodoanel. Mas quantas têm uma floresta como esta?", indaga.
A reportagem é de Afra Balazina e Andrea Vialli e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-02-2011.
Moradores da área temem o aumento da poluição sonora e do ar com o crescimento do fluxo de veículos. A estrada passará por uma área considerada Reserva da Biosfera pela Unesco e entrará no Parque Estadual da Serra da Cantareira. Habitantes da região solicitam uma "mudança radical do traçado" ou a utilização da Rodovia Dom Pedro I, já existente.
Segundo Marcelo Arreguy, da Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), a rodovia sugerida não resolveria o problema - não atrai os motoristas porque fica muito distante. "Neste caso, as pessoas vão continuar usando a Marginal Tietê." Ele afirma que se optou por atravessar o parque por meio de túneis, evitando o desmatamento. De acordo com ele, cerca de 2,7 mil imóveis precisarão ser desapropriados.
Serão cortados 98 hectares de mata e, como compensação, a proposta é plantar 500 hectares. "Há um mito de que a obra é muito impactante", diz.
Belo Monte
A construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, provocará um desmate de uma área pouco menor do que o município de Cubatão, afetará ribeirinhos e indígenas. Já foi dada a licença para instalação do canteiro de obras, o que é questionado pelo Ministério Público Federal no Pará. Indígenas e diversas organizações fizeram um protesto neste mês em frente ao Congresso Nacional pedindo o cancelamento definitivo da obra - os índios dizem que não foram ouvidos. Segundo ambientalistas, a construção da hidrelétrica desviará praticamente todo o fluxo de água do Rio Xingu num trecho de 62 quilômetros, obrigará a migração de mais de 40 mil pessoas e gerará uma quantidade expressiva de gás metano, que provoca o aquecimento global.
Procurada, a Chesf informou que questões relacionadas à Belo Monte deveriam ser respondidas pela Sociedade de Propósito Específico Norte Energia S.A. (Nesa). O consórcio não respondeu às perguntas da reportagem feitas por e-mail e telefone.
Pré-sal
O fantasma do acidente no Golfo do México ronda o pré-sal. Enquanto nos Estados Unidos a exploração ocorria a 1,5 mil metros de profundidade, a do Brasil será muito maior - até 7 mil metros - e mais complexa. Os trabalhos se estenderão até 300 km da costa, entre os Estados do Espírito Santo e Santa Catarina.
Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace, afirma que as emissões de gases-estufa do pré-sal poderão anular a redução de emissões que o País tem conseguido com a queda no desmatamento da Amazônia. "Estamos trocando um passivo de emissão do desmatamento pelo do petróleo."
Em razão de tantas incertezas e da pouca experiência existente para a exploração do pré-sal, o físico José Goldemberg dá um conselho: "Ir devagar".
A Petrobrás afirma investir fortemente na prevenção e estar preparada para atuar em casos de acidentes. "Todas as unidades marítimas de perfuração que trabalham para a Petrobrás são equipadas com sistemas de detecção, que podem prover o fechamento imediato e automático do poço, prevenindo seu descontrole", diz a empresa.
Ela também ressalta que os investimentos previstos "vão permitir um desenvolvimento sem paralelo da indústria de base e expansão das empresas de engenharia, indústria naval, produtoras de equipamentos de grande porte e prestadoras de serviço".
Candiota
O Complexo Termelétrico Candiota, no Rio Grande do Sul, uma das obras de geração de energia que constam do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), é questionado pela poluição causada pela queima de carvão mineral, considerado um dos combustíveis fósseis que mais contribuem para o aquecimento global e coloca em risco a qualidade do ar. A licença de operação concedida pelo Ibama para a terceira etapa do empreendimento, chamada de fase C, foi questionada pelo Ministério Público Federal.
"A empresa Companhia de Geração Termelétrica de Energia Elétrica (CGTEE) tem violado sistematicamente, desde 2005, os padrões de emissão estabelecidos pelo Ibama nos parâmetros de material particulado, óxidos de nitrogênio (NOX) e dióxido de enxofre (SO2)", segundo a procuradora Paula Schirmer.
Para o diretor de meio ambiente da Eletrobras CGTEE, Luiz Henrique Schnor, a Candiota III foi construída sob as exigências ambientais vigentes e os testes de emissão têm se mostrado dentro do estabelecido. "As Fases A e B são projetos antigos, construídos em períodos que não havia legislação ambiental", diz.
Porto Açu
O complexo portuário e industrial idealizado pelo empresário Eike Batista na região de São João da Barra (RJ) é um mosaico de empreendimentos que reúne terminal portuário, estaleiro, siderúrgicas e usinas térmicas a gás e carvão. As licenças ambientais estão sendo emitidas caso a caso - cinco dos empreendimentos já foram licenciados e outros quatro estão sendo avaliados pelo órgão ambiental fluminense.
O complexo, cuja construção já está em andamento, deve elevar a população da cidade dos atuais 32 mil habitantes para 250 mil habitantes. Outra preocupação é que o empreendimento avance sobre áreas de proteção marinha. O diretor de sustentabilidade do Grupo EBX, Paulo Monteiro, explica que os impactos estão sendo compensados com investimentos em tecnologias ambientais de ponta e também com a criação de reservas ambientais. "Acabamos de criar uma reserva particular que irá proteger 4 mil hectares de restinga na região", afirma.
Porto Sul
Os setores hoteleiro e ambientalista afirmam que a construção de um complexo portuário - com um porto público e outro privado - para escoar minério de ferro em Ilhéus (Bahia) afastará turistas e impactará a Mata Atlântica na região.
O projeto pode afetar a Área de Proteção Lagoa Encantada e prejudicar animais ameaçados de extinção, como o macaco-prego-do-peito-amarelo. Eles dizem que o porto deveria ser construído em Aratu, na Região Metropolitana de Salvador, área que já está degradada.
Neste mês, o Ibama fez um parecer sobre o porto privado e diz que "não deve ser concedida licença prévia para o empreendimento no local proposto" e pede que a empresa Bahia Mineração (Bamin) dê outras alternativas de locais em Ilhéus. Mas Rui Rocha, do Instituto Floresta Viva, diz que o projeto tem de sair do município, pois todas as regiões são sensíveis.
Para compensar os estragos, o governo estadual diz que serão identificadas áreas degradadas para serem recuperadas e que deve ser criada uma nova Unidade de Conservação (como um parque ou reserva) nas proximidades da Bacia do Rio Almada.
A Bamin diz esperar uma posição do Ibama nos próximos dois meses. E prevê para o seu projeto "as mais modernas tecnologias e planos de manejo e monitoramento de fauna e flora". "A geração de riqueza para todo o Estado será enorme."
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Danos vão de desmate a ocupação irregular - Instituto Humanitas Unisinos - IHU