18 Janeiro 2011
O referendo de Mirafiori, Sergio Marchionne [presidente mundial da Fiat], o capitalismo dos Estados e das empresas que se tornou mais agressivo de repente, com a crise. Há um enorme espaço para quem ainda acredita nos direitos, mas esse espaço está totalmente vazio. Quem tenta preenchê-lo é um grupo de políticos e intelectuais, que fundou a associação Trabalho e Liberdade, que nesta segunda-feira realizou o seu primeiro encontro público em Roma: entre os promotores, estão Mario Tronti, Aldo Tortorella, Gianni Ferrara, Francesco Garibaldo, Fausto Bertinotti, Sergio Cofferati, Paolo Nerozzi, Rossana Rossanda, e as adesões já superam as 900 em todo o país.
A reportagem é de Antonio Sciotto, publicada no jornal Il Manifesto, 18-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Formar os círculos em todas as cidades, organizar iniciativas ligando-se aos outros movimentos, apoiar a greve da Fiom [Federação dos Empregados Operários Metalúrgicos, na sigla em italiano], no dia 28 de janeiro. Também concretamente, graças a um abaixo-assinado total em benefício da Fiom, ao qual todos os cidadãos são chamados a participar. Mirafiori torna-se um divisor de águas, e antes ainda o "marchionnismo", com o inédito desafio lançado aos operários pelo novo "empresário global", o administrador delegado da Fiat.
Segundo Francesco Garibaldo, "o acordo da Fiat é grave porque nega a possibilidade aos trabalhadores de poder fazer greve e eleger seus próprios representantes e permite que a empresa escolha o sindicato que lhe seja mais cômodo". "Além disso – continua – está se tornando senso comum aquilo que Galli Della Loggia dizia no seu último editorial no jornal Corriere della Sera: que os direitos são um custo, não se deve tê-los a força, e que a globalização tem um único caminho necessário: o corte do estado social e dos direitos nas fábricas. Mas nós dizemos exatamente o contrário: os direitos nasceram justamente para limitar a economia de mercado, e não é verdade que há uma só necessidade histórica, a do capitalismo global".
"Usou-se o mesmo argumento para a Fiat, a Grécia e a Irlanda: é necessário cortar, não se pode fazer outra coisa", diz Fausto Bertinotti. "As pausas, os ritmos do trabalho são uma grande questão civil, mas não nos esqueçamos do que está por trás disso: o projeto de construção de Estados e de fábricas autoritários. Quer-se criar uma `fábrica totalitária`, onde só as máquinas e a produção contam, enquanto a subjetividade, isto é, o direito à greve e o sindicato crítico são cancelados. Também devemos procurar envolver no nosso percurso – conclui Bertinotti – o mundo do catolicismo social, Pe. Ciotti e os outros".
Gianni Ferrara retoma o tema do totalitarismo citado por Bertinotti e faz uma comparação com o nazismo: "Na Alemanha nazista, havia a absoluta centralidade do poder, que impunha e não dava nada em troca pela obediência. Hoje, nos Estados, assim como nas fábricas, quer-se criar o mesmo curto-circuito, com o pretexto da crise e das necessidades da economia de mercado global: fora com os direitos à prestação; só o comando conta,e quem obedece torna-se servo. A nossa associação deve romper com esse esquema e colocar novamente os direitos sociais e civis no centro".
Para Paolo Nerozzi, "o acordo da Fiat é pior do que a atual lei eleitoral, porque pelo menos com esta há o momento do voto. Mas não é só um ataque aos direitos dos trabalhadores, há também uma contraposição com as empresas concorrentes e a representação da Confederação Geral da Indústria Italiana: o novo modelo Machionne contra o alemão, ou o de tantas fábricas nossas, em que os industriários firmaram acordos com a Fiom".
"Nesse ponto, se tivéssemos que ouvir o Corriere – diz Aldo Tortorella, referindo-se a Galli della Loggia –, deveríamos aceitar também a escravidão. É claro que seria ideal produzir com os mínimos custos possíveis e a maior eficiência das empresas, mas alguém então nos explique por que se formaram associações, nos EUA, para abatê-la e afirmar os direitos. Só nos Estados autoritários, como a China, os trabalhadores vivem sem direitos".
Segundo Mario Tronti, "devemos agradecer a Marchionne: a novidade da sua figura de empresário global colocou novamente o trabalho no centro, fazendo com que as questões operárias e o conflito de classes ganhasse páginas nos jornais e transmissões na TV". Para Tronti, "Marchionne teve a clareza de colocar novamente em seu núcleo de base o conflito de classes: ele disse que continua na Itália só se puder fazer lucro, senão vai embora. Exatamente do seu discurso, paradoxalmente, pode-se deduzir que hoje há, mais do que nunca, uma necessidade de um sindicato conflitual e não colaborativo. Na nossa associação, agora, a tarefa é de fazer com que o trabalho permaneça no centro do discurso político e midiático italiano".
Entre as intervenções, Angelo D`orsi explicou como "se deve dar atenção não só ao trabalho nas fábricas, mas também ao dos invisíveis de Rosarno e e do interior, aos precários. E, por outro lado, há uma necessidade forte de mobilização: desde os anos 1960, não se via Turim tão ativa pelos operários, diante dos portões da Fiat".
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Uma associação para conectar trabalho e liberdade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU