17 Janeiro 2011
"É um momento histórico para todo o mundo árabe: o impacto dessa revolução não irá se deter". Ala Al Aswani é um dos escritores árabes mais famosos do mundo: egípcio, com o seu Palazzo Yacoubian contou os incômodos e as tensões escondidas no seu país. Nos últimos anos, também graças a esse sucesso, tornou-se uma das vozes mais ouvidas entre as que pedem uma mudança democrática nos países da região.
A reportagem é de Francesca Caferri, publicada no jornal La Repubblica, 17-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O que lhe faz pensar que esse movimento não irá se deter?
Dois fatores. O primeiro é que o que aconteceu na Tunísia é uma verdadeira revolução, que começou de baixo: não foi um golpe de Estado militar, nem um protesto de marca islamista. O segundo é que as semelhanças entre a situação tunisiana e a de outros países são inúmeras. Tomemos o meu Egito: na Tunísia, o controle do regime sobre a sociedade era maior, mas o resto – corrupção, desemprego juvenil, eleições falsificadas, pobreza – é igual. E na Tunísia, assim como no Egito, o regime se baseava no apoio de fundo da União Europeia e de Israel. Mas as semelhanças também existem com países como a Argélia e o Marrocos, onde o descontentamento está difundido.
Não acredita que agora os líderes árabes estão prontos para enfrentar uma situação como a tunisiana?
A lição destes dias é de que a democracia se paga com o sangue: no mundo árabe, assim como no Ocidente. Vai acontecer de novo. Quanto à preparação, quero citar Gabriel García Marquez e Mario Vargas Llosa, autores de páginas belíssimas sobre a solidão dos ditadores: não entendem porque ninguém lhes conta a verdade. Portanto, não, não estão prontos.
O senhor está otimista?
Gostaria de estar. Mas temo que o caminho para a democracia será marcada por mais sangue.
Próxima etapa?
Respondo-lhe que, nas nossas ruas, assim como na Internet, vejo uma grande alegria por aquilo que aconteceu na Tunísia. Poderia lhe dizer, portanto, Egito, mas não vou fazer isso. Poderia lhe dizer Argélia, um país de grandes recursos naturais e de grandes riquezas, onde as pessoas vivem na pobreza. Ou Líbia. Há 22 países no mundo árabe, e em nenhum há uma verdadeira democracia: a Tunísia nos mostra que os árabes também podem fazer a revolução. Todo o mundo árabe está em uma reviravolta, mas não sei quem será o próximo a virar a página.
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"Os países árabes estão cheios de raiva" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU