17 Janeiro 2011
"Minha mulher e meus filhos foram um grande apoio durante todo o meu ministério, e sei que continuarão sendo...". Quando o arcebispo de Westminster, Vincent Nichols, presidente da Conferência dos Bispos da Inglaterra e do País de Gales, ordenou-o sacerdote católico junto com outros dois ex-bispos anglicanos, John Broadhurst e Andrew Burnham, as famílias completas estavam ali na catedral, sábado de manhã, assistindo comovidas. Para o Keith Newton (foto), 58 anos, pai e avô, a emoção ainda era maior, porque Bento XVI o havia recém nomeado para a presidência do primeiro "Ordinariato pessoal" criado na Grã-Bretanha para acolher os ex-anglicanos na Igreja Católica.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal Corriere della Sera, 17-01-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Não é uma honra que eu tenha procurado ou esperado, mas rezo para que Deus me conceda a sabedoria e a graça para responder à confiança que o Santo Padre pôs sobre mim". Agradecendo "humildemente" ao Papa, o primeiro pensamento de Newton foi pelos filhos, já grandes – Lucy completa 30 anos, Tom, 27, e James, 24, e enquanto isso chegou também um netinho – e pela mulher, porque a conversão foi também um percurso familiar: "Estou felicíssimo que Gill tenha sido acolhida comigo, no dia 1º de janeiro, em plena comunhão com a Igreja Católica".
Agora, ele será o primeiro sacerdote à frente da estrutura que o Papa criou com a Constituição Apostólica Anglicanorum Coetibus: que permite que os fiéis que saíram da Igreja da Inglaterra entrem na Igreja Católica "conservando elementos do seu característico patrimônio anglicano" e, em certas condições, concede "a ordenação como sacerdotes católicos a ministros casados que eram anglicanos".
Única limitação: os padres com mulher, como ocorre nas Igrejas Católicas Orientais, não poderão se tornar bispos da Igreja de Roma. Os três ex-bispos anglicanos continuarão sendo sacerdotes católicos. Mas, como afirmava o jornal Avvenire, o reverendo Newton enquanto Ordinário – e mesmo não sendo bispo – será o primeiro sacerdote casado a fazer parte com todos os efeitos de uma Conferência Episcopal Católica. No fundo, é o cumprimento de um percurso longo. E é significativo que ele descreva o novo Ordinário sem rupturas ou traumas, como o término de "uma peregrinação de fé iniciada com o meu batismo".
Ele há havia dito no seu último ato como bispo anglicano, na carta pastoral de despedida aos fiéis de Richborough: "Estou certo de que se dirá que deixo por causa da ordenação de mulheres no episcopado. Embora seja verdade que esse tenha sido um fator importante, no meu pensamento não foi o mais significativo, porém. A publicação da Anglicanorum Coetibus, há um ano, chegou como uma surpresa e mudou completamente as perspectivas".
Assim, ele repete agora: "Desde os anos da adolescência, desejava ardentemente e rezava pela unidade colegial com a Igreja Católica. A decisão do Papa me ofereceu a possibilidade de realizar esse sonho". Um percurso que não renega o passado: "Posso olhar para trás, para mais de 35 anos de ministério ordenado com enorme gratidão. A Igreja da Inglaterra ma alimentou na fé cristã e foi com ela que descobri, na adolescência, a minha vocação ao sacerdócio que se desenvolveu tanto na Inglaterra quanto na África".
Os estudos de teologia no King’s College de Londres, a especialização em Canterbury, os anos de serviço nas paróquias e, de 1985 a 1991, a missão no Malawi, antes de voltar para a pátria e ser ordenado bispo em 2002. Certamente, não foram escolhas fáceis. No dia da ordenação como padre católico, o reverendo Newton manifestou a sua "particular gratidão" ao arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, primaz da Igreja da Inglaterra, "pela sua paciência e gentileza nos últimos meses".
Como disse aos fiéis anglicanos, ao cumprimentá-los: "Espero que entendam que não dei esse passo por razões negativas e com relação a problemas da Igreja da Inglaterra, mas por razões positivas: em resposta à oração de Nosso Senhor, para que `todos sejam um`".
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De anglicano a padre-avô: "Graças ao Papa e à minha mulher" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU