01 Julho 2021
Vídeo mostra a trajetória do líder do governo Bolsonaro e pivô do escândalo da Covaxin; financiado por empresários da saúde, ministro da Saúde do governo Temer tentou sucatear o SUS; ele tem latifúndios no Piauí e quadruplicou sua fortuna em doze anos.
A reportagem é de Luís Indriunas e Alceu Luís Castilho, publicada por De Olho nos Ruralistas, 30-06-2021.
Depois de muito relutar, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) abriu o jogo durante seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid e revelou o nome do chefe do esquema de venda superfaturada da vacina indiana Covaxin: o líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O político, empresário e fazendeiro paranaense foi citado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, quando Miranda denunciou o esquema para o capitão.
Menos de uma semana depois, outra denúncia envolvendo Ricardo Barros aparece. Seu indicado para a diretoria de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, foi acusado de negociar uma propina de um dólar a mais para cada vacina AstraZeneca comprada. Menos de 24 horas depois, Dias foi exonerado e a CPI convocou-o, juntamente com Barros. Os senadores querem detalhes das negociações escusas e a relação dessas denúncias com o presidente da República.
Bolsonaro e Barros são aliados de longa data. Foram companheiros de partido por dez anos, como mostra o 13º vídeo da série De Olho no Genocídio:
Ricardo Barros vem de uma família tradicional do Paraná. Seu avô Odwaldo Bueno Neto enriqueceu comprando terras de pequenos produtores na região de Maringá, reduto eleitoral do político. O próprio Barros aumentou sua fortuna durante sua carreira política. Em 2006, quando foi candidato, ele declarou R$ 1.255.746,74 ao Tribunal Superior Eleitoral. Em 2018, esse valor tinha quadruplicado: R$ 5.529.650,21. De Olho nos Ruralistas já falou sobre sua face agrária: “Novo líder do governo na Câmara tem latifúndio em região de conflitos no Piauí”.
Anúncio do avô de Ricardo Barros publicado em jornal de Maringá.
(Imagem: Reprodução)
Os 5.204 hectares declarados ao TSE por Barros estão no município Baixa Grande do Ribeiro, uma região de transição entre a Caatinga, o Cerrado e a Floresta Amazônica. Além desses imóveis, o deputado tem declaradas outra fazenda no Paraná e participações em incorporadoras de imóveis, loteadora de terrenos, locadora de veículos, escola de ensino técnico, emissora de rádio e loja de roupas. Entre os bens não declarados, há uma sociedade em terreno em Marinalva (PR) cotado em R$ 56 milhões.
Enquanto acumula bens, Ricardo Barros ganha dinheiro de empresários do setor de saúde. Em 2014, recebeu para sua campanha R$ 100 mil de Elon Gomes de Almeida, sócio dos grupos Aliança Saúde e Qualicorp. Quando tornou-se ministro da Saúde do governo Michel Temer, em 2016, Barros defendeu a diminuição do tamanho do Sistema Único de Saúde e cortou cerca de R$ 50 bilhões do seu orçamento, além de dizer que “quanto mais gente tiver plano de saúde, melhor”.
Como ministro da Saúde de Temer, Barros queria diminuir o tamanho do SUS.
(Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil)
O empresário ficou famoso por suas declarações que menosprezavam quem precisa de atendimento médico e não pode pagar. “Homens trabalham mais, por isso não acham tempo para cuidar da saúde”, afirmou o então ministro em uma ocasião. Em outra entrevista, ele falou que “a maioria das pessoas chega ao posto de saúde com efeitos psicossomáticos”.Ricardo Barros: do feudo no Paraná às rotas da corrupção
Engenheiro civil de formação, Barros conseguiu ampliar apoio de Bolsonaro com discurso negacionista sobre a pandemia, apoiando o uso da cloroquina para tratamento da Covid. Numa troca de favores, Bolsonaro nomeou a mulher de Barros, a ex-vice-governadora do Paraná, Cida Borghetti, como conselheira da Usina de Itaipu. Com rendimentos mensais de R$ 27 mil. Dois dias antes, o deputado Luis Miranda tinha procurado o presidente para denunciar o esquema da Covaxin.
Além das declarações públicas a favor da cloroquina, a CPI da Covid mostrou que Ricardo Barros trabalhava nos bastidores. Entre os doze processos aos quais responde, há um de improbidade administrativa por fechar um contrato de R$ 19,9 milhões para compra de remédios para doenças raras com a Global Gestão Saúde, que não tinha como entregar o produto.
A Global é sócia da Precisa Medicamentos, intermediária da vacina indiana Covaxin, a mais cara entre as vacinas. Além de pressionar para que o contrato fosse fechado a toque de caixa, Barros é autor de uma emenda que facilitaria a importação da Covaxin, garantindo a entrada de vacinas importadas mesmo sem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na defesa de sua emenda, Barros citou a necessidade de compra da Covaxin.
À mídia em geral, Ricardo Barros nega envolvimento com o caso da vacina chinesa. Bolsonaro também nega: “Não tinha como saber sobre caso Covaxin“. O presidente tem evitado se pronunciar tanto sobre Barros quanto sobre Miranda.
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Ricardo Barros: do feudo no Paraná às rotas da corrupção - Instituto Humanitas Unisinos - IHU