"Não é uma cruzada. É uma guerra moderna e totalmente ideológica." Entrevista com Franco Cardini

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

28 Julho 2016

Um padre capturado no altar e assassinado: é realmente uma guerra religiosa? Franco Cardini é historiador, a sua matéria são as Cruzadas. Mas um conflito que opõe o Califado ao Ocidente não é: "Esta – diz Cardini – é uma guerra ideológica moderna".

A reportagem é de Roberto Zunini, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 27-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

O Isis fala de "a guerra contra os cruzados cristãos". No Ocidente, somente algumas direitas ou alguns fundamentalismos aceitavam essa linguagem. Estão aumentando?

A "Internacional" dos imbecis é ampla: a Guerra Santa é imaginária, não tem nada a ver com as Cruzadas históricas nem com a jihad. Poderia ter uma relação com as guerras descritas por Saint-Just no discurso para a Convenção de 1793, "as guerras do povo devem ser cruéis e totais", ou com os furores bélicos que animavam os cristeros no México, ou falangistas e anarquistas na guerra da Espanha...

Mas, desta vez, quem foi atacado foi um padre na igreja: algo muda?

Matar um padre enquanto ele celebra é uma declaração de guerra, não uma declaração islâmica. Precedentes históricos existem, e não é preciso voltar às Cruzadas: São Thomas Beckett foi morto no altar por sicários do seu rei; os assassinos do regime em El Salvador pegaram Dom Romero na sua igreja. Houve mortes de muçulmanos nas mesquitas em Jerusalém e mortes de cristãos por parte de muçulmanos em Otranto, em 1480... Mas assim, a frio, esses dois, armados apenas com uma arma branca, fizeram uma paródia blasfema do ato de Abraão. Uma coisa horrível, mas que não tem nada de cristão ou de muçulmano: é um ato de loucura política.

Mas não é diferente matar alguém no Bataclan ou em uma igreja?

Sim, mas é um ato de guerra também religiosa somente na sua mentalidade. Na realidade, são assassinatos infames, ponto.

E a resposta da França? Agora, o ex-presidente Sarkozy pede uma "resposta impiedosa". E é a direita gaullista, não a lepenista...

Isso significa que vão atacar o califa no coração do seu poder, em Mosul? Precisamos nos preocupar com o fato de que um homem como Sarkozy tenha sido presidente, e da França, não de San Marino. Até hoje, a França matou impiedosamente centenas de mulheres e crianças que não tinham nada a ver, depois que Hollande ordenou os bombardeios na Síria.

Bombardear é uma coisa. Mas como impedir que alguém que está sob prisão domiciliar circule por aí com uma faca?

Esta seria uma resposta rigorosa, não impiedosa: eu não acho que Sarkozy quer entrar na mesquita de Paris e atirar contra os fiéis, ou fazer blitzes indiscriminadas nas banlieue. Seria justamente o que o califa quer de nós: reações insanas. Até mesmo os militares não diriam "resposta impiedosa". Resposta rigorosa, sim, mas dentro do Estado de direito. Apertar os controles, sim, mas civil e legalmente. E isso requer um compromisso sério.

A Europa tem os recursos para enfrentar esses ataques sem sofrer uma modificação genética?

Historicamente, essas ameaças muitas vezes despertam o senso cívico. É necessária uma resposta séria e compacta de todo o povo francês, das instituições aos seus cidadãos, que deve passar, em primeira linha, pelos cidadãos muçulmanos. O califa quer que nós isolemos os muçulmanos, que os nossos jovens batam nos jovens muçulmanos na escola. É isso que é preciso evitar. A linguagem da resposta impiedosa serve apenas para agradar um pouco ao subproletariado que está no bar e diz: "Eu iria lá e mataria todos". Depois, você lhe pergunta: "Lá onde?", e ele não sabe responder.