16 Dezembro 2016
Os bispos argentinos estão apreensivos. Basicamente, por dois escândalos. Primeiro, o dos abusos sexuais de alguns clérigos, contra os quais se comprometem a lutar. Em segundo lugar, contra a situação de emergência social que o país está vivendo. Por isso, denunciam que não é possível que se subordine o bem comum aos interesses eleitorais e pedem um diálogo “responsável” para sair da situação.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 14-12-2016. A tradução é de André Langer.
A Conferência Nacional dos Bispos da Argentina (CEA) anunciou na quarta-feira que trabalhará na elaboração de propostas para tratar da problemática dos abusos sexuais de menores por parte de sacerdotes. A iniciativa surgiu durante a reunião anual da Comissão Permanente da CEA, que nesta ocasião abordou, entre outros temas, este flagelo, que qualificaram como uma “realidade dolorosa que provoca o repúdio de toda a Igreja e da sociedade”.
Segundo informaram através de um comunicado, “os casos de abusos de menores por parte de sacerdotes, especialmente os últimos que se tornaram públicos, foi o centro de um longo debate” no primeiro dia desta reunião.
A Comissão Episcopal de Ministérios estará encarregada de criar um grupo especializado para estudar o tema em profundidade, analisar as experiências de outras conferências do organismo religioso e contará com a contribuição de diferentes especialistas.
Além disso, também foi aprovada a elaboração de um protocolo que obrigue todos os sacerdotes e religiosos que se transferirem para outra diocese apresentar uma declaração jurada aprovada por um superior que acredite sua aptidão e a ausência de antecedentes.
Além destas novas medidas, a CEA já conta com um “diretório de atuação no caso de denúncias dos abusos sexuais em que os acusados sejam clérigos e as supostas vítimas sejam menores de idade (ou pessoas equiparadas a eles)”.
Anteciparam também que esta problemática continuará sendo debatida na próxima Assembleia Plenária “com a finalidade de aprovar ações concretas em torno da prevenção, detecção e acompanhamento destas situações”.
No primeiro dia desta reunião estiveram presentes o secretário de Culto da Nação, Santiago de Estrada, o subsecretário, Alfredo Abriani, e o assessor desta carteira, o Dr. Octavio Lo Prete.
Por outro lado, a Igreja advertiu nesta quarta-feira que “a subordinação do bem comum a interesses eleitorais faz muito mal ao país”. Ao mesmo tempo que fez um “chamado urgente a quem tem algum grau de decisão na economia argentina, para que invista em fontes de trabalhos dignos e bem remunerados”.
“Os cálculos mesquinhos, a especulação financeira e a subordinação do bem comum a interesses eleitorais, não respondem às expectativas e fazem muito mal ao país”, afirma uma mensagem por ocasião do Natal divulgada no final da última reunião do ano da cúpula do episcopado.
A nota dos bispos é publicada após a oposição na Câmara dos Deputados aprovar uma reforma do imposto sobre lucros que, para o governo, aumentava irresponsavelmente o déficit fiscal, mas que, na terça-feira, foi vetada no Senado, abrindo-se uma instância de diálogo.
Também a Casa Rosada vem se queixando porque os empresários não estão investindo após a troca de governo, o que retarda a reativação da economia, que sofre uma recessão nos últimos cinco anos. E que agrava a situação social, já que mais de um milhão e meio de argentinos caíram na pobreza este ano.
Os bispos, além disso, insistem no exercício do diálogo diante das dificuldades que o país enfrenta. “Como povo, precisamos nos sentar à mesa, dispor-nos para o diálogo responsável e permanente, e assim fortalecer a nossa ainda frágil convivência cidadã. Que ninguém se sinta excluído deste convite, porque a hora da pátria reclama de todos gestos de grandeza”, manifestam.
Nesse sentido, dizem que “nada é fácil na Argentina de ontem e de hoje, sobretudo para os que dependem de um ou dois salários, e nem pensar se a família com vários filhos está à margem do sistema de trabalho e previdenciário. Aí nossa nação mostra seu pior rosto, porque custa acreditar que na terra abençoada do pão, um de cada três argentinos está sem comida, trabalho, saúde, educação e igualdade de possibilidades para progredir”.
“As estatísticas – acrescentam – visibilizam o número dos pobres, mas nunca chegarão a refletir a dor, a angústia e a indignação dos pais que não podem sustentar as suas famílias. A emergência social, declarada há alguns dias pelo Estado Federal, nos exime de dar mais exemplos e comprova esta dura e cruel realidade que hoje sofrem muitos compatriotas”.
“Jesus entra na nossa casa para ficar.”
1. Faltam poucos dias para celebrar o Natal. Faremos memória e festa pela notícia mais bela, alegre e verdadeira de todos os tempos, que segue iluminando o mundo: “Nasceu-nos um Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2, 11). Quando nos reunirmos como família diante do presépio, contemplemos o mistério da humildade de Deus que vem para nos salvar. Esta festa da fé, vivida em família, nos convida a fortalecer nossos vínculos. Deixemo-nos comover por este Deus manso, que entra em nossa casa para ficar!
2. Temos motivos para agradecer a Deus pelos dons espirituais com que quis encorajar o nosso caminho como Igreja na Argentina. O Jubileu do Ano Santo nos uniu mais à pessoa do Papa Francisco, incansável apóstolo da misericórdia divina. Estamos convencidos de que seus ensinamentos nos comprometem a baixar às mãos a nossa fé, para que se traduza em gestos de caridade diante de toda miséria humana: “Passaram-se mais de dois mil anos e todavia as obras de misericórdia continuam a tornar visível a bondade de Deus” (Misericordia et Misera, 18). Confessar novamente um Deus compassivo e misericordioso nos aproximou da origem amorosa da nossa existência.
3. O Menino Deus de nossos presépios revela o rosto da misericórdia e, ao fazer-se como um de nós (cf. Fl 2, 7), nos ajuda a confiar no perdão generoso do Deus Pai e nos convida a perdoar de coração os nossos irmãos. Neste transbordar de graças, a Igreja confirmou a santidade de dois filhos da nossa terra: São José Gabriel del Rosario Brochero a Beata María Antonia de San José. Ambos foram entusiastas evangelizadores, solícitos com os doentes, os pobres e os presos. Que bom seria se suas imagens estivessem junto da Virgem Maria e de São José no presépio! Neles também se manifestou o amor de Deus por seu povo peregrino na Argentina.
4. Nada é fácil na Argentina de ontem e de hoje, sobretudo para os que dependem de um ou dois salários, e nem pensar se a família com vários filhos está à margem do sistema de trabalho e previdenciário. Aí a nossa nação mostra o seu pior rosto, porque custa acreditar que na terra abençoada do pão, a um de cada três argentinos falte comida, trabalho, saúde, educação e igualdade de possibilidades para progredir. As estatísticas visibilizam o número dos pobres, mas nunca chegarão a refletir a dor, a angústia e a indignação dos pais que não podem sustentar as suas famílias. A emergência social, declarada há alguns dias pelo Estado Federal, nos exime de dar mais exemplos e comprova esta dura e cruel realidade que hoje sofrem muitos compatriotas.
5. Fazemos um apelo urgente a quem tem algum cargo de decisão na economia argentina, para que invista em fontes de trabalho dignos e bem remunerados. Os cálculos mesquinhos, a especulação financeira e a subordinação do bem comum a interesses eleitorais, não respondem às expectativas e fazem muito mal ao país. Como povo, precisamos sentar-nos à mesa, dispor-nos para o diálogo responsável e permanente, e assim fortalecer a nossa ainda frágil convivência cidadã. Que ninguém se sinta excluído deste convite, porque a hora da pátria reclama de todos gestos de grandeza.
6. Diante do olhar do Menino Deus no presépio, que sendo rico em misericórdia compartilhou a nossa miséria, nos sentimos chamados a ser uma Igreja mais humilde, necessitada de purificação pelos pecados de todos nós. O Filho de Deus, recém-nascido, nos recorda que somos irmãos para que não percamos a esperança de um renovado encontro fraterno entre os argentinos.
7. Então sim poderemos desejar: Feliz Natal para todos!
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“Custa acreditar” que um de cada três argentinos seja pobre “na terra do pão”, denuncia a Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU