Por: Cesar Sanson | 16 Novembro 2015
Após a meia-noite (por volta das 21h de Brasília) da sexta-feira, na casa de espetáculos parisiense Bataclan foram ouvidos até sete disparos e seis detonações. A polícia acabava de entrar. Os agentes temiam que os agressores que estavam fechados na sala com centenas de pessoas que assistiam um show da banda Eagles of Death Metal acabassem mandando-a pelos ares. Mas o massacre já havia sido feito muito antes.
A reportagem é de Álex Vicente e Daniel Verdú e publicada por El País, 15-11-2015.
O show começou às 21h (18h de Brasília). 40 minutos depois, enquanto o vocalista da banda californiana começava a tocar a música Kiss the Devil, o público escutou várias detonações junto à porta de entrada. Saídos de um veículo preto estacionado ao lado do Bataclan, três terroristas acabavam de assassinar os guardas de segurança para entrar na sala, antes de começarem a atirar à queima-roupa no público.
Faremos com vocês o que vocês fazem na Síria”, gritaram os responsáveis pelo ataque, de aproximadamente 30 anos e feições árabes, segundo várias testemunhas, e falavam francês sem sotaque. As pessoas que se encontravam perto do palco conseguiram escapar, da mesma forma que a banda. O resto do público não teve a mesma sorte. Hervé Antoine e seu filho Lheureux, presentes no show, lembram que foi tudo muito rápido. “Começamos a ouvir disparos e os membros do grupo se jogaram no chão”, recordam. “Havia sangue e cadáveres por todos os lados, era difícil não tropeçar. Não paravam de atirar, conseguimos nos esconder atrás de um balcão enquanto as pessoas caíam mortas. Mas eles continuaram atirando. Parecia não ter fim”, conta Hervé.
De acordo com os presentes, os que se moviam ou pegavam seus celulares eram mortos na hora. Seu filho lembra que, no final dessa tensa espera, a polícia entrou na sala e jogou várias granadas de efeito moral. “Aí começaram os disparos.
Acredito que nesse momento os terroristas foram liquidados, e então pudemos sair. Mas durou uma eternidade”, afirma. A operação policial que acabou com o sequestro da sala foi realizada por duas unidades de elite da polícia francesa após às 0h30 (21h30 de Brasília). Trancado nos banheiros com mais três pessoas, Pierre Janaszak, radialista, conseguiu sobreviver. De seu esconderijo, escutou os terroristas negociarem com a polícia. “É culpa de seu presidente. Não deveria intervir na Síria”, diziam.
Segundo o promotor de Paris, François Molins, também mencionaram o Iraque. Os três terroristas morreram durante o ataque. Um deles, por um disparo dos policiais. Os outros dois explodiram seu cinto-bomba nos camarins da sala de shows, segundo diversos depoimentos. Um dos autores do ataque ao Bataclan, identificado pela impressão digital de um dedo amputado, é um francês nascido em 1985 na periferia sul de Paris, fichado pelos serviços policiais por sua “radicalização”.
A casa de shows já havia sofrido outras ameaças. Em 2011, o terrorista Farouk Bem Abbes, integrante de um grupo ligado à Al Qaeda em Gaza, confessou à Secretaria Geral de Segurança Interna ter pensado em “um projeto de atentado contra o Bataclan”. Outro membro do mesmo grupo confessou em um interrogatório que o motivo era o fato dos “proprietários serem judeus”. Seu atual proprietário é o industrial Arnaud Lagardère, que adquiriu 70% das ações em setembro de 2015.
Nas imediações da sala, alguns moradores da área protestavam pela falta de proteção, lembrando que o atentado contra a redação da Charlie Hebdo ocorreu a 500 metros de distância. A maior parte dos comerciantes preferiu fechar as portas no sábado. Mas Jacky, que dirige uma loja de antiguidades em frente ao Bataclan há mais de 40 anos, decidiu abrir. “Não podemos cruzar os braços. Não nego que tenho medo de levar uma bala perdida. Mas não temos outro remédio a não ser continuar vivendo”. Em plena Praça da República, um coletivo de street art pintava o lema de Paris: Fluctuat Nec Mergitur. Sua tradução transcreve o que muitos sentiam no sábado: “Atingida pelas ondas, mas sem afundar”.
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Terroristas gritavam: “faremos com vocês o que vocês fazem na Síria” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU