Nesta sexta-feira, 22/7/2022, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU recebe o professor e pesquisador Mateus Uchôa que fará a conferência Multinaturalismo. Da política do conceito a um novo conceito de política. A atividade ocorre a partir das 10 horas, nas nas plataformas digitais do IHU, dentre elas o YouTube. e integra a programação da Ciclo de Estudos Decálogo sobre o fim do mundo.
“O multinaturalismo se trata, sobretudo, de uma potência de pensamento que eu entendo como geofilosófico e cosmopolítico, que opera numa lógica multiespécies. É um novo esquematismo ontológico que marca um contraste com os perspectivismos epistemológicos, geométricos, etc, que foram dominantes em nossa tradição do pensamento. O multinaturalismo é um pensamento da terra e dos terranos”, explica Mateus Uchôa em uma breve entrevista para esta reportagem, concedida por telefone.
Quando se trata de pensar o perspectivismo e a política, é importante “considerar que o multinaturalismo, por ter por base o perspectivismo, ele redistribui as potências humanas e extra-humanas na composição do mundo. O multinaturalismo se estabelece com um esforço em oferecer um pluralismo ontológico e cosmopolítico, o que é muito característico de metafísicas não eurocêntricas”, complementa Uchôa. “Algumas consequências disso é que o multinaturalismo desautoriza a ideia de que natureza e cultura são categorias opostas e, de outro ponto de vista, permite reconciliar perspectiva alinhadas a uma pluralidade de mundos”, ressalta.
Ao projetar tais reflexões como a iminência do fim do mundo, de um mundo, Mateus Uchôa nos convida a pensar, também, na possibilidade de um novo mundo outo mundo. “Falar de um outro mundo implica falar de um outro povo. E esse outro povo que o multinaturalismo traz são os terranos, portanto não se trata mais de sujeitos subalternos ou subalternizados em vista de um ideal transcendente. Eles trazem uma visão pós-antropocêntrica de um mundo perpassado por fluxos e de uma constante metamorfose, em que alguns já estão se preparando para viver como terranos no fim do mundo, como é o caso dos quilombolas, das comunidades ribeirinhas e, sobretudo, os povos indígenas”, acrescenta.
A proposta do Ciclo de Estudos Decálogo sobre o fim do mundo é discutir, de modo transdisciplinar, os desafios que o novo regime climático do planeta impõe às nossas formas de pensar, conceber e habitar o mundo. Dividido em dez conferências, a programação do ciclo retoma questões políticas, filosóficas e teológicas sobre a vida no antropoceno, considerando o ocaso e, em certo sentido, o fim/esgotamento da Modernidade.
No centro da crise, o sentido e a autorreferencialidade do ser humano em um mundo em que cada vez mais somos governados pelo que nos habituamos chamar de natureza. Trata-se, portanto, de um debate que leva em conta o deslocamento da política para a dimensão cosmopolítica. Repensar a condição humana diante do novo regime climático e a ameaça da sexta extinção em massa, justamente da espécie humana, pode ser o ponto inicial da discussão aqui proposta.
Mateus Uchôa é bacharel e mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). É também mestre em Artes pelo PpgArtes da UFC. É doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na linha de Estética e Filosofia da Arte com pesquisa sobre os mundos animais e os limites do anthropos.
Tem interesse em Filosofia da Natureza; Pluralismo Ontológico; Pensamento Ameríndio; Multinaturalismo; Estudos Multiespécies; Virada Ontológica na Antropologia; Estética e Pensamento Decolonial; Ecologia e Experiência Sensível; Cosmopolíticas e Questão Ambiental no Antropoceno.
Atualmente, é professor da disciplina Antropoceno e colapso ecológico global no master em governança ambiental e social da ESPM de Fortaleza.
Mateus Uchôa (Foto: Arquivo pessoal)
O Ciclo de Estudos Decálogo sobre o fim do mundo terá mais uma conferência. Para receber certificação, é necessário se inscrever no site do evento.
Todas as conferências serão transmitidas on-line no canal do YouTube do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Juliana Fausto possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001), mestrado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2012) e doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2017).
Atualmente é pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Paraná, com bolsa PNPD/CAPES, onde atua como professora visitante, ministrando disciplinas nos níveis de Graduação e Pós-Graduação em Filosofia. Desenvolve pesquisa na área de Filosofia e a Questão Ambiental, com ênfase na relação dos animais outros que humanos com a política, e na área de estudos feministas, com ênfase em epistemologias feministas e nos conceitos de mulheres, natureza e monstruosidade. Tem interesse em temas relacionados a Antropoceno, animais, ecofeminismo, gênero, cinema e literatura. Foi bolsista Nota Dez da FAPERJ (2015-2016).