09 Outubro 2019
O rápido desaparecimento do pardal-montês representa a maneira destrutiva como temos tratado o nosso ecossistema.
O artigo é de Johannes Herrmann ornitólogo e gerente de projetos em uma associação de conservação da natureza, publicado por La Croix Inernational, 04-10-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Esta é a história de um humilde pardal-montês. Ele vivia em uma fazenda. Gostava esconder o seu ninho em um antigo muro, capturar lagartas no jardim para os seus filhotes, recolher as pontas das gramíneas selvagens e, às vezes, cavar nos nossos campos.
Pardal-montês. (Foto: Divulgação)
Era conhecido por suas bochechas brancas, marcadas com uma mancha escura. Por volta do ano de 2000, observei a seu respeito: “O pardal-montês da Eurásia: abundante, porém muitas vezes confundido com o pardal-doméstico”.
Hoje, 20 anos depois, três quartos desta espécie desapareceram da França. E ela não é a única.
Um programa de monitoramento de pássaros nos levou a um local bastante interiorano, com poucas cercas, grama alta, árvores ocas, uma paisagem promissora... e nada aí encontramos. Alguns chapins, nenhum boubela, nenhum picanço. Nada de abelhas nem gafanhotos. O enredo é claro. A conclusão é clara: muitíssimos pesticidas são usados aqui.
Esse impacto não está visível em nossa urina e não causa câncer. Os produtos fazem o que devem fazer: matar ervas daninhas e insetos. Mas aqui fomos longe demais.
Os inseticidas neonicotinoides exterminam indiscriminadamente. O emprego massivo de herbicidas mata insetos e pássaros ao eliminar suas fontes de alimentos. Tudo em torno das nossas cultuas morre. Este é o lado oculto de um debate na área da saúde. “Não causa câncer? Sem problema! Sem problema!”
Ou mesmo… os cientistas estão advertindo. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO (na sigla em inglês) tem mostrado preocupação: sem insetos, sem minhocas, não podemos mais esperar ver os nossos campos prosperarem por muito tempo. Então, que matemos os insetos indesejados e mantenhamos os campos!
Infelizmente, os seres vivos não veem as coisas dessa forma. Diz-se que esta planta, este pardal são “prejudiciais” e aqueles outros, não. Mas coletaríamos os órgãos do nosso próprio corpo que são úteis, removeríamos eles, acrescentaríamos outros, “melhoraríamos” ao final? Pois é assim que estamos tratando os nossos ecossistemas.
Precisamos de uma abordagem ecológica global que deixe espaço a todos. O respeito devido a cada ser vivo, ao que o Papa Francisco faz referência em Laudato Si’, não é somente um desejo piedoso romântico – ele deriva de uma simples observação científica da vida.
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Pesticidas estão destruindo muito mais do que as pestes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU