04 Outubro 2016
O Mons. Piero Coda relata os trabalhos da Comissão Internacional Mista entre Católicos e Ortodoxos (reunida em Chieti, Itália, de 16 a 22 de setembro), comentando os muitos lugares de encontro e as dificuldades que permanecem.
A reportagem é de Piotr Zygulski, publicada no sítio Settimana News, 29-09-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mons. Piero Coda, você participou da sessão de trabalho da Comissão Internacional Mista de Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, realizada em Chieti, entre os dias 16 e 22 de setembro. Do que se trata?
A comissão tinha sido instituída em 2005 para retomar o caminho do diálogo teológico iniciado entre altos e baixos depois do Concílio Vaticano II. Em 2007, tinha sido aprovado em Ravenna um documento muito importante, em que a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa concordavam que a sinodalidade – isto é, o caminho junto, com todo o povo de Deus – e o primado – entendido como serviço à unidade – são duas dimensões interdependentes na vida da Igreja, que se encontram em todos os níveis: em nível local, em nível da comunhão entre as Igrejas em uma região e em nível da Igreja universal.
Sobre o encontro em Ravenna, o Patriarcado de Moscou, naquela ocasião, tinha ido embora antes da conclusão dos trabalhos. Desta vez, no entanto, ele também assinou o documento conclusivo, intitulado "Sinodalidade e primado no primeiro milênio. Rumo a uma compreensão comum a serviço da unidade da Igreja".
Sim, em 2007, o Patriarcado de Moscou havia abandonado a sessão no início dos trabalhos, mas não por motivações inerentes precisamente ao diálogo, mas por questões internas ao mundo ortodoxo. Portanto, o documento Ravenna não traz a assinatura do Patriarcado de Moscou. Desta vez, porém, ele participou ativamente e está entre os signatários. Mas este último documento aprovado em Chieti não foi assinado pelo Patriarcado da Geórgia.
O papa, no dia 30 de setembro, era esperado justamente na Geórgia, e chegam notícias de manifestações contra a sua visita. Quais são as reservas que os georgianos têm?
No mundo ortodoxo – assim como, em outros aspectos, no mundo católico – há alas minoritárias de oposição à abertura do diálogo ecumênico. A Igreja da Geórgia é particularmente afetada por essas dificuldades internas, razão pela qual a delegação da Geórgia não quis aprovar o documento, não tanto pela substância do próprio documento, mas por causa das repercussões sobre a comunhão dentro da Igreja Ortodoxa georgiana que tal assinatura poderia provocar.
Alguns problemas já tinham surgido por ocasião do Sínodo pan-ortodoxo realizado em junho passado em Creta. Em Chieti, falou-se dessa dificuldade?
Não, as delegações das Igrejas ortodoxas, intencionalmente, não fizeram referência explícita ao Sínodo pan-ortodoxo e às suas problemáticas. No entanto, o que influenciou positivamente no resultado do diálogo foi o profundo entendimento que se manifestou em diversas ocasiões entre o Papa Francisco e o Patriarca Bartolomeu – pensemos na visita a Lesbos e na participação de ambos, nos mesmos dias da sessão de diálogo, na reevocação da jornada de Assis – e também o encontro em Cuba entre o Patriarca Kirill de Moscou e Francisco, o que indica boas relações entre as duas Igrejas.
Um dos temas divisivos diz respeito às Igrejas uniatas: como ele foi abordado?
O problema do uniatismo, ou seja, da recomposição da comunhão com a Igreja de Roma por parte de alguns membros da Igreja Ortodoxa, certamente é um ponto sensível, difícil e de incompreensão entre as duas Igrejas. Já anteriormente, em Balamand, tinha sido discutido esse problema, oferecendo um quadro de interpretação global sobre o percurso histórico. O uniatismo se coloca em um momento preciso da Igreja Católica e das suas relações com a Igreja Ortodoxa, mas o documento de Chieti diz respeito apenas à concordância de interpretação sobre o estado das relações no primeiro milênio cristão. É provável que, na continuação do diálogo, a questão do uniatismo seja retomada, quando vier a se tratar do segundo milênio da era cristã, mas o fundamental é que, nesse caso, ela será vista, da parte católica, à luz da visão de Igreja-Comunhão presente no Concílio Vaticano II e na encíclica Ut unum sint, de São João Paulo II.
Quais foram as conclusões mais significativas do encontro de Chieti?
O maior ganho desse documento – na linha do que Ravenna já tinha garantido – é o fato de que a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, em nível teológico, reconhecem que, no primeiro milênio cristão, o bispo de Roma exerceu um ministério de unidade no nível da Igreja universal, que não envolvia uma jurisdição direta sobre as Igrejas do Oriente. Essa situação eclesiológica se apresenta como um modelo inspirador importante para reencontrar a plenitude da unidade no terceiro milênio cristão em que estamos avançando.
A Igreja Católica já tinha dado passos de abertura nesse sentido. Poderia mencionar alguns?
A abertura com o mundo ortodoxo, que teve o seu selo na revogação das excomunhões recíprocas entre a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica, por parte do Papa Paulo VI e do Patriarca Atenágoras, com o seu encontro, primeiro em Jerusalém e depois em Constantinopla, se desenvolveu até a sua expressão mais forte, isto é, quando, na Ut unum sint, São João Paulo II declarou que o ministério do primado do bispo de Roma – ao qual a Igreja Católica está fortemente ligada – envolve hoje uma revisão das modalidades do seu exercício. O Papa Bento XVI, ainda antes, quando era cardeal, tinha afirmado repetidamente que aquilo que tinha sido experimentado na Igreja do primeiro milênio é aquilo que hoje podemos presumir como necessário para que se restabeleça a plena unidade.
Você também faz parte da Comissão de Estudo sobre o Diaconato das Mulheres. Uma eventual introdução dessa figura na Igreja de Roma poderia dificultar o diálogo com os irmãos orientais?
Ao contrário. O diaconato feminino foi objeto de estudo, há já algumas décadas, dentro das Igrejas ortodoxas; trata-se de uma prática considerada tradicional. Portanto, não haveria nenhum problema.
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Católicos e ortodoxos: sinodalidade e primado. Entrevista com Piero Coda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU