22º domingo do tempo comum – Ano B – Ouvir e por em prática a Palavra

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30 Agosto 2024

"O evangelho (Mc 7,1-8.14-15.21-23) nos fala do tema mais fascinante que temos, que é o amor. Todas as outras coisas são secundárias. Se eu misturo interesse ao amor ele se corrompe. Mesmo que seja um mínimo. Qualquer amor com sinais de interesse, torna-se impuro. Se uma mãe amar seu filho interessadamente, esse amor será impuro, apesar de ser amor de mãe. Interesse, vaidade, egoísmo, ciúme, tudo isso apaga o amor, porque não conecta com ele. O amor encanta é aquele que olha nos olhos, é o amor generoso que confia. Temos que ter isto bem presente: a única motivação para amar é amar gratuitamente! Qualquer outra razão estraga o amor. A nossa cultura da propaganda do espetáculo, do colorido, das fantasias, destrói o amor. Ficam os adjetivos e o substantivo desaparece, e aqueles sozinhos nada valem."

A reflexão é de Maria Heloísa da Silva, ascj, religiosa da Congregação Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus. Ela possui formação em Filosofia (1993) e em Teologia (1997) pela FAJE/BH, e em Espiritualidade pelo Instituto Teológico Pio XI, São Paulo/SP (2002). Atualmente atua na formação pastoral de lideranças e orientação de retiros na Prelazia de Cristalândia, no Estado do Tocantins e em outras dioceses. Além disso, colabora na formação pastoral de afrodescendentes na Diocese do Pará. Também atua na formação missionária em diferentes Dioceses.

Leituras do dia

Dt 4,1-2.6-8
Sl 14(15),2-3ab.3cd-4ab.5 (R. 1a)
Tg 1,17-18.21b-22.27
Mc 7,1-8.14-15.21-23

Eis a reflexão.

Neste 22º domingo do tempo comum, comecemos nossa reflexão com as palavras do Profeta Isaías retomadas por Jesus: Este povo me honra com os lábios,mas seu coração está longe de mim. Deus nos convida a escutar com o coração a sua palavra e colocá-la em prática. Jesus conhecia bem as pessoas do seu tempo e, por extensão, as pessoas de todos os tempos. Para os fariseus e escribas do tempo de Jesus, a pureza ritual e a adesão estrita à tradição serviam-lhes facilmente para cobrir a mesquinhez de seu coração. Com ritos, orações, jejuns e sacrifícios, acalmaram sua consciência, embora seu coração permanecesse fechado ao perdão, à misericórdia e ao amor de Deus e do próximo.

Bem, deixando de lado o que este texto bíblico tem sobre a apologia histórica do povo de Israel e sua religião, podemos nos debruçar sobre a importância dada à proximidade de Deus com seu povo. Essa proximidade de Deus a toda pessoa de boa vontade é profundamente expressa nas palavras e no comportamento de Jesus.

No livro do Deuteronômio (Dt 4,1-2.6-8) Moisés ordena a seu povo que cumpra os preceitos do Senhor, a fim de tomar posse da terra que o Senhor, o Deus de seus pais, lhes dará. Os preceitos do Senhor, diz ele, serão sua sabedoria e sua inteligência. Se eles fizerem isso, até mesmo os outros povos entenderão que o Deus de Israel é um Deus mais próximo e mais justo que os deuses de outros povos.

Deus, através de Moisés, pede ao povo que ouça e ponha em prática seus preceitos para que possam entrar para tomar posse da terra prometida. Os verbos em imperativo são orientados justamente para a observância da Lei: "cumprir", "vigiar e cumpri-los" . Fazer isso trará benefícios e será um grande testemunho para outras nações, bem como uma ocasião para destacar a grandeza de Deus, autor desses mandatos e preceitos. Fazer o contrário prejudicará o prestígio tanto do povo de Israel quanto do próprio Deus.

O apóstolo Tiago (Tg 1,17-18,21-22,27) nos exorta a "ouvir a palavra", "aceitá-la docilmente", mas acima de tudo, para colocá-la em prática. Também nos dá uma explicação: "a palavra é capaz de salvá-los" . Ele conclui, oferecendo-nos alguns exemplos muito específicos: "para visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações, ... cuidado com esse mundo corrupto" .

O evangelho (Mc 7,1-8.14-15.21-23) nos fala do tema mais fascinante que temos, que é o amor. Todas as outras coisas são secundárias. Se eu misturo interesse ao amor ele se corrompe. Mesmo que seja um mínimo. Qualquer amor com sinais de interesse, torna-se impuro. Se uma mãe amar seu filho interessadamente, esse amor será impuro, apesar de ser amor de mãe. Interesse, vaidade, egoísmo, ciúme, tudo isso apaga o amor, porque não conecta com ele. O amor que encanta é aquele que olha nos olhos, é o amor generoso que confia. Temos que ter isto bem presente: a única motivação para amar é amar gratuitamente! Qualquer outra razão estraga o amor. A nossa cultura da propaganda do espetáculo, do colorido, das fantasias, destrói o amor. Ficam os adjetivos e o substantivo desaparece, e aqueles sozinhos nada valem.

Podemos tomar qualquer outra realidade. Se a justiça é uma justiça interessada, já não será justa. Se convido alguém para uma festa interessadamente, que valor terá? A pessoa vale por simpatia, por amor, pela alegria de estar junto com ela. Qualquer outro interesse torna impuro esse convite. Jesus de Nazaré nos diz que nossos olhos devem ser transparentes. O interesse vem de dentro e suja qualquer relacionamento. As más intenções, a comercialização nos amores mancham as nossas relações. É isso que o Senhor quer nos dizer.

Outro tema muito importante para este momento da nossa política brasileira é a nossa honestidade.

A honestidade tornou-se algo que nós constantemente exigimos dos outros. Por muitos casos que temos em torno de nós, sabemos que a corrupção é um sintoma de mau comportamento, injustiça, fraude, ganância, orgulho e devassidão. Estas são as atitudes que Jesus denuncia no Evangelho deste domingo. Esta é a conclusão a que Jesus chega quando eles o censuram que seus discípulos comem com mãos impuras, sem lavar as mãos.

O dilema da honestidade é colocado diante da exigência do que é externo e do que é interior. Jesus dá toda importância à atitude interior, que vem do coração, o que a pessoa decide na parte mais íntima do seu ser. É dever ser coerente entre o modo de pensar e agir e isso está dentro de cada pessoa. E a Palavra de Deus é o que pode mudar em profundidade o coração do homem; por isso é importante que tanto crentes quanto comunidades entrem em uma crescente intimidade com ela.

Jesus era uma pessoa com um coração manso e humilde, era acolhedor e próximo de todos os que estavam cansados e sobrecarregados. Em Jesus, a proximidade de Deus com as pessoas é vista e palpável.

Vamos animar os cristãos a ter um Deus que "esteja tão perto de nós sempre que o invocarmos". Que assim seja!

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