04 Junho 2024
O desgaste do governo Lula nas Universidades e nos Institutos Federais tem se ampliado velozmente. Em parte, a responsabilidade se deve à arrogância e insensibilidade dos ex-sindicalistas e ministros docentes que ocupam cargos no primeiro escalão do governo, todos do PT, escreve Cesar Sanson, professor na área da sociologia do trabalho na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Algo que poucos imaginavam está em curso. O primeiro escalão do governo Lula 3 se mostra desconectado com os fatos da realidade, demonstra dificuldade em interpretar a conjuntura e, mais preocupante, revela desinteresse e arrogância em dialogar com a base social dos docentes que foi importante na eleição de Lula para um terceiro mandato.
O entorpecimento de figuras de primeira proa no governo fica evidente na forma como vem sendo tratada a greve dos docentes e técnicos administrativos das Universidades e dos Institutos Federais. A greve nestas instituições já ultrapassa, na maioria delas, dois meses e até o momento o governo tem se mostrado incapaz de encontrar uma solução. Muito menos em razão da radicalidade do movimento e muito mais em função da insensibilidade e arrogância dos ex-sindicalistas e docentes ministros que estão no governo. Todos eles do PT.
Vejamos.
Camilo Santana, ministro da Educação, ex-presidente do Centro Acadêmico Dias da Rocha, ex-diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e ex-professor do Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec) em Juazeiro do Norte, simplesmente ignora os docentes. Faz de conta que a greve é um problema do ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) e não tem nada a ver com o seu ministério, o da Educação.
Fernando Haddad, professor de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), respeitado intelectual, anda mais ocupado com as metas do déficit zero do que encontrar ou colaborar numa saída honrosa dos docentes em greve em todo o Brasil. Até que se demonstre o contrário, é sobre ele que pesa a responsabilidade maior. Ao menos é o que tem dito outra docente, a ministra Esther Dweck e o ex-sindicalista José Lopez Feijóo que sentam à mesa de negociações. Ambos culpam as restrições do ajuste fiscal haddadiano para avançar numa proposta, mesmo que mísera, daquela assinada pelo farsesco PROIFES.
Falemos um pouco mais de Esther Dweck e Feijóo.
A ministra Esther Dweck que está à frente do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) é professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A ministra docente ameaça “jogar fora a sua trajetória intelectual e acadêmica” diz um colega que a conhece bem ao legitimar – ao menos por enquanto - uma farsa patrocinada pelo governo e o PROIFES, entidade cartorial e desmoralizada que assinou de forma subserviente um acordo rejeitado inclusive em suas bases.
O comportamento, entretanto, mais deplorável e vergonhoso é do ex-sindicalista José Lopez Feijóo, o principal negociador com funcionalismo público em suas demandas salariais. Feijóo é o secretário de Relações de Trabalho do MGI e tem longa trajetória no movimento operário. Entre 1999 e 2002 foi secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. No ano seguinte, assumiu a presidência do sindicato, sucedendo o então presidente Luiz Marinho, hoje ministro do Trabalho. Foi ainda secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em 1990 e, depois, vice-presidente da Central em 2006.
Feijóo tem se revelado truculento e vem demonstrando um comportamento que está mais para o de um patrão, que tantas vezes enfrentou, do que o de um ex-sindicalista que deveria ser o facilitador nas negociações. Na última negociação à mesa com Feijóo, os sindicalistas do Sindicato Nacional dos Docentes (ANDES) foram maltratados e tratados com ironias e desrespeito. Em determinado momento, alertado de que a assinatura do acordo com o PROIFES que ratifica o 0% em 2024 para os docentes significa um “tiro no pé” por parte do governo, Feijóo afirmou, “eu vou dar um tiro no pé e vou assinar com a PROIFES, porque o limite do governo é esse. Não tem conversa, não tem diálogo”.
O “o tiro no pé” de que falam os docentes presentes na negociação é um sentimento crescente nas Universidades e nos Institutos Federais. Sentimento de decepção com o governo Lula. A questão não é apenas salarial; ela é também de recomposição orçamentária. O orçamento nas universidades vem definhando. Os recursos encontram-se praticamente congelados desde 2014 e mal conseguem dar conta do pagamento de contas ordinárias como serviços terceirizados e energia.
O sentimento de frustração é ainda maior, quando os docentes se dão conta que para algumas categorias como a Polícia Rodoviária Federal – forte base bolsonarista – recebeu reajuste salarial linear a partir deste ano. Na última década o salário de um policial federal em início de carreira superou ao de um professor universitário em início de carreira. É a arma vencendo o livro.
Poderíamos ainda fazer referências ao ex-sindicalista Luiz Marinho que por três gestões esteve à frente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Dele nada se ouve sobre a greve dos trabalhadores da educação. Como tampouco nada fala o poderoso ministro Rui Costa que já foi diretor do Sindicato dos Químicos e Petroleiros da Bahia e diretor da Confederação Nacional dos Químicos.
Todos estes ex-sindicalistas e ministros docentes são piores que Lula. O presidente ao menos numa recente manifestação de trabalhadores da Educação quando de sua presença em um evento afirmou: “Nunca deixem de reivindicar, nunca abaixem a cabeça e se conformem. Somente com muita luta é que o povo consegue ser ouvido nesse Brasil”.
Se os ex-sindicalistas e ministros docentes tivessem um pouco da ousadia de Lula poderiam alertar o presidente de que sua imagem está se desgastando de forma desnecessária nas Universidades e Institutos Federais.
Como disse o cientista político Luis Felipe Miguel da UnB, nenhum de nós irá votar em Tarcísio ou Michelle por causa da forma como o governo vem tratando esta greve, porém, o problema é que em 2026 Lula e o PT não irão precisar apenas do voto, mas do intenso trabalho de mobilização e é este entusiasmo que se está perdendo.
Nesta semana que se inicia, o governo ainda tem uma chance de rever sua postura intransigente. Caso não faça isso e não reabra as negociações, caminha-se velozmente para o derretimento da imagem do governo nas Universidades e Institutos Federais.
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A arrogância e a insensibilidade dos ex-sindicalistas e dos ministros docentes no governo Lula. Artigo de Cesar Sanson - Instituto Humanitas Unisinos - IHU