11 Dezembro 2023
Um acidente de trabalho envolvendo funcionários de uma empresa de internet provocou a descarga elétrica que resultou na morte de nove pessoas na noite de sábado (9) no acampamento Terra e Liberdade, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Parauapebas, sul do Pará.
A reportagem é publicada por Brasil de Fato, 10-12-2023.
Seis sem-terra e três trabalhadores da empresa morreram. Oito pessoas ficaram feridas com queimaduras e foram levadas ao hospital. Neste domingo (10), uma delas permanecia internada com queimaduras de segundo grau, conforme o MST.
Quase 2 mil famílias estavam acampadas na região e foram vítimas de uma tentativa de despejo recentemente. (Foto: MST/PA)
As informações foram divulgadas neste domingo (10) em entrevista coletiva de dirigentes do Movimento, que expressaram solidariedade às vítimas e reafirmaram a importância da luta pela terra no sul do Pará, região marcada pela ação violenta de grandes proprietários de terras reivindicadas para a reforma agrária.
Segundo o MST, funcionários da empresa de internet “sem o mínimo padrão de segurança” faziam a instalação de uma antena de internet solicitada individualmente por moradores do acampamento, que tem cerca de 2,5 mil pessoas. Após a descarga elétrica, o Samu e o Corpo de Bombeiros foram acionados. O fogo foi contido, e os sem-terra se mobilizaram para resgatar os feridos.
“Por volta das 20h, quando tentavam fixar uma antena, o equipamento teria entrado em contato com a rede de alta tensão. Esse contato incendiou todos os cabos de internet, que são feitos de material inflamável, e incendiou alguns barracos”, explicou Pablo Neri, da direção Nacional do MST.
O MST identificou oito dos nove mortos: Jovenilson Aragão Trindade; Francisco Ferreira; Francisco De Assis Pereira Rodrigues: Fernanda Sousa de Almeida; Eva Maria da Conceição Silva; Francisco Nascimento de Sousa Júnior; Gabriel Pereira da Silva e Geovane Pereira dos Santos. Os três últimos nomes são dos técnicos da internet, segundo nota divulgada pela empregadora, a G5 Internet.
"A G5 Internet, de Parauapebas, ofereceu os serviços aos acampados, que consensuaram em fechar contrato com a empresa. Como o Movimento Sem Terra não tem como fornecer internet, a decisão foi de que a empresa poderia fornecer", disse Pablo Neri.
No comunicado divulgado pela rede social Instagram, a G5 Internet lamentou profundamente as mortes dos trabalhadores, afirmou que segue dando apoio aos familiares das vítimas e fez votos de conforto e fortalecimento aos envolvidos.
“Estendemos também nossas condolências a todos que perderam seus familiares e amigos no incêndio ocorrido no acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, em Palmares II, na noite deste sábado, dia 9”, afirma a G5 Internet em nota.
O Brasil de Fato procurou a G5 Internet e perguntou se os trabalhadores atuavam com condições de segurança adequadas, mas não houve resposta até a publicação da reportagem. Caso haja retorno, o texto será atualizado.
Beatriz Luz, dirigente do MST no Pará, afirmou que os acampados pediram aos funcionários da G5 para que o atendimento fosse retomado no dia seguinte, em função do horário avançado.
“A gente identifica uma empresa que também conduz um processo de precarização do trabalho, por isso o atendimento foi estendido até aquela hora da noite, feito de forma despreparada, com poucos aparatos técnicos de proteção aos trabalhadores”, disse Luz.
De acordo com o MST, o acampamento Terra e Liberdade fica a 5 quilômetros das fazendas chamadas de Santa Maria e Três Marias, que seriam latifúndios improdutivos de terras griladas. Por isso, o Movimento solicitou que o Incra faça uma vistoria nos imóveis para determinar se eles são aptos à reforma agrária.
“Os títulos estão sob posse do grileiro de Marabá, Ítalo Toddy, e foram trocados por dívidas em negociações duvidosas com a família Miranda – latifundiários conhecidos por seu extenso patrimônio de terras públicas e por praticar crimes contra a natureza e trabalhadores/as”, declarou o MST em comunicado em novembro deste ano.
Segundo o Movimento, fazendeiros da região responderam à ocupação com um cerco aos sem-terra que conta com apoio das forças policiais do Pará. Homens armados têm intimidado os acampados, impedindo a entrada e saída de pessoas do local.
Beatriz Luz não descarta que os latifundiários usem o acidente para deslegitimar a luta pela terra na região. “Mas o que a gente tem verificado é justamente o contrário, é a vontade de permanecer no território até que a terra seja garantida”, afirmou.
Comandada por Darci José Lermen (MDB), a prefeitura de Parauapebas declarou neste domingo (10) que “não mede esforços no apoio incondicional às vítimas desse fatídico acontecimento e se solidariza com os familiares e amigos das vítimas”.
O governo municipal também disse que, desde os primeiros momentos, equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e ambulâncias de base foram para o local para prestar atendimentos.
Além disso, informou que a Defesa Civil dá apoio no local com equipes do setor social, para acolhimento e cadastramento das famílias, a fim de realizar a entrega de kits humanitários.
“Também foi montado um Comitê de Crise no Cemitério Jardim da Saudade para agilizar a necropsia e o sepultamento dos corpos, juntamente com o IML e a Polícia Civil. Agentes do Departamento Municipal de Trânsito e Transporte (DMTT) organizam o fluxo de trânsito no local, e agentes da Guarda Municipal de Parauapebas também estão na localidade”, diz a nota da prefeitura de Parauapebas (PA).
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Acidente com nove mortes em acampamento do MST foi provocado por instalação de internet inadequada, diz Movimento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU