27 Outubro 2023
"A jornada espiritual de Etty Hillesum foi se tecendo em torno dessa pergunta [O que deveríamos fazer?] e, no final, se há um comentário correto que podemos fazer, é que ela sabia o que tinha que fazer", escreve José Tolentino Mendonça, cardeal português e prefeito do Dicastério do Vaticano para a Cultura e a Educação, em artigo publicado por Avvenire, 26-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
"O que deveríamos fazer?". Nos momentos em que nos encontramos numa encruzilhada da nossa história pessoal, nos atormenta essa pergunta que “compungia seus corações” (Atos 2, 37).
Certamente uma pergunta dramática, com arestas vivas, mas de cuja resposta dependem a felicidade e o sentido que poderemos encontrar até mesmo nas condições mais extremas. A jornada espiritual de Etty Hillesum foi se tecendo em torno dessa pergunta e, no final, se há um comentário correto que podemos fazer, é que ela sabia o que tinha que fazer. E assim decidiu ficar, escolhendo por atravessar por um dos momentos mais sombrios da história de olhos abertos, e entendendo que seu papel era sobrepor o testemunho humilde e incansável do amor à banalidade do absoluto do mal. É por isso que não é surpreendente que Etty tenha se tornado uma mestra muito sábia no poder das migalhas. Por exemplo, com lucidez nos alerta sobre as migalhas de ódio quando escreve: “Cada migalha de ódio que se soma ao ódio exorbitante que já existe torna este mundo mais inóspito e inabitável”. Mas acima de tudo nos encoraja a reconhecer, abraçar, proteger, colocar em evidência e em prática o que, segundo ela, “é a única solução possível” para os nossos dilemas e aqueles do mundo: “Aquele pedacinho de eternidade que carregamos em nós mesmos".
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Aquele pedacinho de eternidade. Artigo de José Tolentino Mendonça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU