31 Mai 2023
"A China se beneficia ao receber um minério tão rico e mais ainda ao industrializa-lo. E assim o Pará ajuda o país a se tornar a maior potência mundial, talvez ainda nesta década", escreve Lúcio Flávio Pinto, em artigo publicado por Amazônia Real, 26-05-2023.
Lúcio Flávio Pinto é jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, é editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém, Pará, desde 1987. Também é autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra amazônica, jornalismo na linha de tiro e contra o poder (Edição Jornal Pessoal, 2005). Pela sua atuação contra as injustiças sociais, recebeu, em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005, recebeu o prêmio anual do Comittee for Journalists Protection, em Nova York, pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Também é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014.
Há quase quatro décadas, o melhor minério de ferro do mundo é levado principalmente para a Ásia, um consumidor distante 20 mil quilômetros das minas da mais importante província mineral do planeta, localizada no coração do Pará, o Estado amazônico mais próximo do litoral, distante 900 quilômetros de Carajás.
Na primeira etapa da operação dessa enorme jazida, entre 1985 e 2016, a entrega de mais da metade da enorme produção de minério foi passando do Japão para a China, acompanhando o deslocamento da hegemonia asiática entre os dois mais poderosos países da região. Hoje, a China absorve mais da metade do precioso minério, com a excepcional proporção de 65% de hematita contida na rocha, em extração realizada totalmente a céu aberto.
Foi em 2016 que Carajás deu um salto, ao incorporar à operação a maior das minas em atividade na área, a S11D, na Serra Sul. Com os 90 milhões de toneladas, elevou a produção para 230 milhões de toneladas anuais e deverá acrescentar mais 20 milhões no próximo ano.
Ao contrário do Japão, a China vai além de ser apenas a maior compradora de minério de ferro de Carajás, que pertence à Vale. Os chineses forneceram mais da metade dos equipamentos que estão em operação no S11D. Dos 14,3 bilhões de dólares investidos no empreendimento, US$ 6,4 bilhões foram aplicados na implantação da mina e da usina e US$ 7,9 bilhões na construção de um ramal ferroviário de 100 quilômetros, expansão da Estrada de Ferro Carajás e ampliação do terminal marítimo de Ponta da Madeira, em São Luís do Maranhão, onde o minério que vai para a China é embarcado em navios chineses para os portos de Dalian, Caofeidian, Rizhao e Qingdao. A partir daí a matéria prima será levada para fábricas chinesas, que os transformarão em guindastes, equipamentos de perfuração. Ônibus elétricos, smartphones e outros produtos de muito maior valor, às vezes fazendo o caminho de volta ao Brasil.
E mesmo para Carajás, onde são usados equipamentos para escavação, empilhadeiras, retomadoras e outros equipamentos de grande porte. A China se beneficia ao receber um minério tão rico e mais ainda ao industrializa-lo. E assim o Pará ajuda o país a se tornar a maior potência mundial, talvez ainda nesta década.
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Carajás: made by China. Artigo de Lúcio Flávio Pinto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU