10 Janeiro 2023
“Também nós, discípulos de Jesus, somos chamados a exercer a justiça assim, nas relações com os outros, na Igreja, na sociedade: não com a dureza de quem julga e condenam dividindo as pessoas em bons e maus, mas com a misericórdia de quem acolhe compartilhando as feridas e fragilidades de irmãs e irmãos, para reerguê-los. Gostaria de colocar assim: não dividindo, mas compartilhando. Não divida, mas compartilhe”, afirma o Papa Francisco, no Angelus, 08-01-2023. O texto é publicado por Vatican News.
Hoje celebramos a festa do Batismo do Senhor e o Evangelho nos apresenta uma cena surpreendente: é a primeira vez que Jesus aparece em público depois de sua vida escondida em Nazaré; chega à margem do rio Jordão para ser batizado por João (Mt 3,13-17). Era um rito com o qual as pessoas se arrependiam e se comprometiam a se converter; um hino litúrgico diz que o povo ia ser batizado "com a alma nua e os pés descalços" - alma aberta, nua, sem nada cobrir - ou seja, com humildade e com o coração transparente. Mas, ao ver Jesus se misturando com os pecadores, ficamos maravilhados e nos perguntamos: por que Jesus fez essa escolha? Ele, que é o Santo de Deus, o Filho de Deus sem pecado, por que fez essa escolha? Encontramos a resposta nas palavras que Jesus dirige a João: «Deixa por agora, porque é melhor cumprirmos toda a justiça» (v. 15). Cumprir toda a justiça: o que isso significa?
Ao ser batizado, Jesus nos revela a justiça de Deus, aquela justiça que Ele veio trazer ao mundo. Muitas vezes temos uma ideia estreita de justiça e pensamos que ela significa: quem erra paga e assim satisfaz o mal que cometeu. Mas a justiça de Deus, como ensina a Escritura, é muito maior: seu objetivo não é a condenação do culpado, mas sua salvação, seu renascimento, tornando-o justo: de injusto a justo. É uma justiça que vem do amor, daquela profundidade de compaixão e misericórdia que é o próprio coração de Deus, o Pai que se comove quando somos oprimidos pelo mal e caímos sob o peso dos pecados e das fragilidades. A justiça de Deus, portanto, não quer distribuir penas e castigos, mas, como afirma o Apóstolo Paulo, consiste em fazer-nos seus filhos justos (cf. Rm 3,22-31), libertando-nos das ciladas do mal, curando-nos, fazendo-nos nós de novo. O Senhor nem sempre está pronto para nos castigar, está com a mão estendida para ajudar a nos levantar. E então compreendemos que, às margens do Jordão, Jesus nos revela o sentido de sua missão: Ele veio cumprir a justiça divina, que é salvar os pecadores; veio para tomar sobre os ombros o pecado do mundo e descer nas águas do abismo, da morte, para nos recuperar e não nos deixar afogar. Ele nos mostra hoje que a verdadeira justiça de Deus é a misericórdia que salva. Temos medo de pensar que Deus é misericórdia, mas Deus é misericórdia, porque a sua justiça é precisamente a misericórdia que salva, é o amor que partilha a nossa condição humana, se aproxima, solidário com a nossa dor, entrando nas nossas trevas para trazer de volta a luz.
Bento XVI afirmou que «Deus quis salvar-nos, indo ele mesmo ao fundo do abismo da morte, para que cada homem, mesmo aquele que caiu tão baixo que já não vê o céu, possa encontrar a mão de Deus para se agarrar e ressurgir das trevas para ver novamente a luz para a qual foi feito" (Homilia, 13 de janeiro de 2008).
Irmãos e irmãs, temos medo de pensar em uma justiça tão misericordiosa. Vamos em frente: Deus é misericórdia. Sua justiça é misericordiosa. Deixemo-nos levar pela mão dele. Também nós, discípulos de Jesus, somos chamados a exercer a justiça assim, nas relações com os outros, na Igreja, na sociedade: não com a dureza de quem julga e condenam dividindo as pessoas em bons e maus, mas com a misericórdia de quem acolhe compartilhando as feridas e fragilidades de irmãs e irmãos, para reerguê-los. Gostaria de colocar assim: não dividindo, mas compartilhando. Não divida, mas compartilhe. Façamos como Jesus: compartilhemos, carreguemos os fardos uns dos outros em vez de tagarelar e destruir, olhemo-nos com compaixão, ajudemo-nos. Perguntemo-nos: sou uma pessoa que divide ou que partilha? Pensemos um pouco: sou discípulo do amor de Jesus ou discípulo da fofoca, que divide? A fofoca é uma arma letal: mata, mata o amor, mata a sociedade, mata a fraternidade. Perguntemo-nos: sou uma pessoa que divide ou uma pessoa que partilha?
E agora vamos rezar a Nossa Senhora, que deu à luz Jesus, imergindo-o em nossa fragilidade para que tivéssemos vida novamente.
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“Sou discípulo de Jesus ou discípulo da fofoca, que divide?”, questiona o Papa Francisco no festa do Batismo do Senhor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU