23 Novembro 2022
Cardeal Tagle: “Nada a ver com assédios sexuais ou má administração do dinheiro”. O cardeal filipino apoiará a intervenção na preparação da nova assembleia em maio.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Repubblica 22-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Bullying, provocações, confrontos pessoais que atrapalhavam a máquina das ajudas: esse é o quadro desolador que emergiu de uma investigação interna que levou o Papa Francisco à decisão de colocar sob intervenção a Caritas Internationalis, organização que a partir do Vaticano coordena as 162 Caritas presentes em todo o mundo, com uma decisão inesperada que criou certa turbulência interna.
"Gostaria de assegurar-lhes que não se trata de assédios ou abusos sexuais", explicou o cardeal Louis Antonio Tagle, presidente em saída da confederação, na assembleia que está se realizando nestes dias em Roma, "e não se trata, mais uma vez, de uma questão de má gestão de dinheiro". O orçamento da Caritas Internationalis, de fato, é reduzido.
Andrew Azzopardi, especialista maltês há um ano consultor da estrutura para a proteção dos trabalhadores, esclareceu o que aconteceu dentro dos gabinetes da Caritas Internationalis: “A justiça está feita”, comentou no Twitter. “A mensagem do Papa Francisco é clara: não há tolerância para bullying ou comportamentos abusivos por parte dos responsáveis. Agora a Caritas pode ter a liderança que merece”.
Na base da mudança de Francisco, existem duas etapas. A primeira foi a chegada da Caritas Internationalis, antes colocada sob o extinto conselho pontifício Cor Unum, agora sob o novo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, ponto de chegada oficializado pela nova constituição apostólica Praedicate Evangelium, que entrou em vigor em junho passado. Pouco depois, o Papa, que não é novato nas investigações internas nos departamentos do Vaticano, decidiu confiar a uma equipe de especialistas uma investigação interna sobre o "bem-estar funcional" da secretaria geral da Caritas Internationalis "e o alinhamento com os valores católicos de dignidade humanidade e do respeito a cada pessoa". Termos de um comunicado oficial pelos quais transparece um ambiente de trabalho, no mínimo problemático.
A equipe, composta por Francesco Pinelli, consultor organizacional familiarizado com o mundo da Igreja, e dois psicólogos, Dom Enrico Parolari e Francesca Busunelli, trabalhou por dois meses e encontrou uma situação altamente crítica. “Os trabalhos realizados não revelaram nenhuma evidência de má gestão financeira ou comportamentos inadequados de natureza sexual”, lê-se no comunicado oficial, “mas ao mesmo tempo foram evidenciadas questões e áreas que requerem atenção urgente. Foram identificadas deficiências relativas aos procedimentos de gestão que tiveram efeitos negativos também no espírito de equipe e sobre a moral dos funcionários”.
Por trás da linguagem diplomática escondem-se problemas humanos e pessoais sistemáticos e prolongados, tão profundamente enraizados que atrapalham o próprio trabalho da Caritas Internationalis, que deveria ser centrado na ajuda a populações atingidas por calamidades naturais ou guerras. Uma “missão”, como ressaltou o cardeal Michael Czerny, prefeito do dicastério vaticano responsável pela Caritas Internationalis, “não um serviço estéril ou uma simples doação a ser doada para silenciar nossa consciência”. Insatisfações, abusos de poder, rancores que agora vieram à tona.
O cardeal Tagle, um filipino escolhido pelo papa em Roma para liderar a Propaganda Fide, é o atual presidente, uma figura que, na realidade, tem um papel de representação e pouco controle sobre a organização interna, confiada mais ao secretário-geral, Aloysius John, e ao tesoureiro, Alexander Bodmann. Todas figuras agora destituídas.
Francisco nomeou agora o próprio Pinelli como comissário extraordinário, coadjuvado por Maria Amparo Alonso Escobar, atual chefe da advocacia da Caritas Internationalis, mas também um jesuíta, Manuel Morujão, com a tarefa de "acompanhamento pessoal e espiritual dos funcionários", como prova do nível deletério a que haviam chegado as relações pessoais internas. Essa equipe terá de acompanhar a Caritas Internationalis à eleição da nova direção (presidente, secretário-geral e tesoureiro), que acontecerá, conforme previsto, em maio do próximo ano. "Para a preparação da Assembleia Geral", lê-se no comunicado, "o Comissário Extraordinário será assistido pelo Card. Luis Antonio G. Tagle, que cuidará particularmente das relações com as igrejas locais e com as organizações-membro da Caritas Internationalis".
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“Bullying e abusos de poder”, Francisco faz intervenção na Caritas Internationalis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU