18 Novembro 2022
6.500 trabalhadores migrantes morreram em canteiros de obras de estádios e infraestruturas. Mas a violência também atinge as colaboradoras domésticas, exploradas ou abusadas por seus patrões. A Igreja alemã promove uma campanha, relançada pela religiosa beneditina e ativista Irmã Mary John Mananzan.
A reportagem é publicada por Asia News, 16-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Cartão vermelho ao Catar por falta de respeito aos direitos humanos e exploração de trabalhadores migrantes. Sejam eles os trabalhadores envolvidos nas obras de construção dos estádios para a Copa do Mundo, evento "histórico e controverso" que terá início no dia 20 de novembro, ou as colaboradoras domésticas. A campanha lançada pela Igreja alemã tem forte valor simbólico e é apoiada por uma freira filipina, famosa no passado por suas lutas pelos direitos, além de ser uma respeitada educadora e teóloga.
Uma batalha justificada pelos números, que testemunham um verdadeiro massacre: segundo o Guardian nos últimos 10 anos, desde a atribuição da principal competição de futebol do planeta, cerca de 6.500 imigrantes da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram no Catar. Muitos trabalharam em temperaturas de 50 graus e condições de vida extremamente precárias. E não é por acaso que a competição acontece entre novembro e dezembro, uma raridade em relação ao tradicional calendário de junho e julho, quando o clima na região é proibitivo. Para os jogadores de futebol, é claro, mas não para aqueles que ficaram sob o sol escaldante por anos construindo as instalações.
Foto: Reprodução
A menos de um mês do início, a Igreja alemã, por meio da ONG Missio, lançou a campanha envolvendo a irmã filipina Mary John Mananzan, beneditina protagonista no passado de muitas batalhas dentro e fora do país. A freira agita o cartão vermelho em Doha, símbolo de uma política baseada na exploração para atingir os objetivos, que também une várias petromonarquias e emirados do Golfo.
Se, por um lado, um em cada seis nativos do Catar pode contar com rendas milionárias, pelo outro, pelo menos nove em cada 10 residentes vêm do exterior e a grande maioria são migrantes do Sul e Sudeste da Ásia e da África. O custo de vida é alto, mas o salário mínimo é de apenas 280 euros por mês, insuficiente para cobrir todas as despesas. Ao longo dos anos, Doha introduziu algumas garantias, que, no entanto, não são suficientes para satisfazer os legítimos pedidos de uma plena dignidade do trabalhador.
No entanto, situações de exploração beirando a escravidão não dizem respeito apenas aos trabalhadores da Copa do Mundo, mas também a muitas colaboradoras domésticas estrangeiras (173.000 segundo algumas estimativas) empregadas pelas famílias de cidadãos (mais ou menos) ricos do Catar. E é sobre elas que a campanha pretende focar os holofotes, recolhendo histórias e testemunhos de pessoas obrigadas a trabalhar até 15 ou 20 horas por dia, muitas vezes sete dias por semana, por apenas 230 euros. A Missio denuncia também abusos e estupros que “nove em cada 10 mulheres” sofrem no emirado e sem poderem beneficiar de proteção legal, porque os tribunais acabam por punir as vítimas pelas relações sexuais realizadas fora do casamento, deixando os perpetradores impunes. E quando denunciam, se forem condenadas correm o risco de açoitamento e reclusão.
Uma dessas 173.000 é a filipina Jeannie Dizon, contratada para cuidar de uma criança pequena e depois obrigada a cozinhar, lavar e limpar para uma família de oito pessoas 15 horas por dia, por uma remuneração diária de cerca de um euro. O início às 4 da manhã, depois de descansar por algumas horas em um quarto sem janelas, vítima de assédio do dono da casa que a levou a fugir e voltar para seu país somente após assinar um acordo de sigilo sobre os abusos.
Essa situação leva as mulheres a aceitarem a violência em silêncio, tendo que enviar dinheiro para as famílias em seus países de origem. Missio cita o Nepal como exemplo, onde uma quantidade substancial de moeda estrangeira vem de trabalhadoras domésticas que emigraram para Doha. A petição de Missio "Proteja as mulheres no Catar" deveria continuar até mesmo após a Copa do Mundo. “Esta lei – denunciam a irmã Mary John, rosto da campanha – é cruel com as vítimas! Chega dessa jurisprudência, tem que ser revogada”, afirma com decisão, enquanto mostra o cartão vermelho.
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Copa do Mundo: Freira filipina mostra cartão vermelho ao Catar por direitos violados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU