06 Setembro 2022
Cerca de 200 católicos na Bélgica discordam da síntese nacional do processo sinodal de seu país, dizendo que vai longe demais ao questionar o “magistério da Igreja”.
A reportagem é de Benoît Fauchet, publicada por La Croix, 05-09-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Um grupo de jovens católicos de mentalidade conservadora na Bélgica protestou contra a síntese nacional do processo sinodal do país, dizendo que certas questões como a ordenação de mulheres vão longe demais e são contra os ensinamentos da Igreja.
“Há apelos de todos os lados para abrir o ministério ordenado às mulheres e aos casados”, diz uma das linhas conclusivas da síntese nacional, publicada em 6 de julho.
Os redatores desse documento dizem que ele reflete as opiniões de 2 mil a 4 mil pessoas que participaram das consultas sinodais.
Mas cerca de 200 jovens católicos belgas entre 15 e 42 anos afirmam que há “uma discrepância entre algumas das exigências feitas na síntese e a realidade” que estão vivendo.
Eles se manifestaram em uma carta aberta ou petição “dirigida ao núncio apostólico na Bélgica, aos bispos e a todos os irmãos e irmãs cristãos”.
O portal da CathoBel publicou na última quarta-feira.
“Parece-nos que, em vários pontos, algumas das conclusões do processo sinodal belga testemunharam em primeiro lugar uma falta de compreensão do mistério da Igreja e de seu ensinamento”, escrevem os peticionários.
Eles se identificam como católicos “que vêm ou estão próximos de várias paróquias e comunidades” na Bélgica.
“O problema que vivemos não é o clericalismo, mas a fuga de certos pastores e a falta de orientações, porque um cristão não pode discernir sozinho”, afirmam os peticionários.
Os signatários também estão “convencidos” de que o celibato sacerdotal é “um tesouro da Igreja, porque é uma das provas da própria existência de Deus”, já que “o sacerdote que (voluntariamente) se priva do amor de uma mulher entrega-se inteiramente ao amor de Deus”.
Mas reconhecendo que “isto não é um artigo de fé”, os signatários dizem que vão acolher “o que a Igreja discernir” sobre esta questão.
A síntese belga “entristeceu” ainda mais esses jovens ao mencionar a possível ordenação de mulheres.
“João Paulo II se pronunciou sobre o assunto e explicou que a Igreja não tinha o poder de ordenar mulheres, que nunca o teria, e que essa realidade se aplicava a todos os católicos em todos os momentos”, apontam.
“Questionar essas afirmações é questionar o magistério da Igreja (e, por extensão, a adesão ao dogma), que acreditamos ser extremamente perigoso em um mundo onde já não temos diretrizes claras”, dizem.
Mais amplamente, os peticionários estão irritados que o tema do papel das mulheres possa ser colocada em uma “lógica de poder”.
Eles dizem que esse conceito é “muito contemporâneo e mundano”. Acrescentam que isso “encontra-se em alguns comentários da síntese, enquanto na Igreja devemos estar numa lógica de serviço”.
A declaração belga ocorre em um momento em que, em muitos países, muito poucas pessoas na categoria de 25 a 40 anos participaram da fase diocesana do processo sinodal.
Isso alarmou o secretariado do Sínodo em Roma, que procurou corrigir a situação lançando – tardiamente – um questionário digital para as gerações mais jovens online.
“As assembleias sinodais foram assistidas por fiéis de uma determinada faixa etária, mas muito menos jovens”, disse o recém-criado cardeal Jean-Marc Aveline, de Marselha.
Em entrevista ao La Croix, observou que “uma fotografia dos avós não dá uma imagem precisa da família e seu dinamismo”.
“Muitos de nós estiveram envolvidos neste sínodo, outros lamentam não ter estado suficientemente presentes”, escrevem os jovens peticionários belgas.
Apresentam-se como “o futuro da Igreja Católica no (seu) país”.
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Bélgica. Jovens católicos criticam a consulta sinodal: “perigosa, questionou o magistério da Igreja” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU