17 Agosto 2022
A exemplo das edições anteriores, campanha assimila o momento político atual e, neste ano, assume um tom de combate à escassez hídrica e à fome, que atingem o Semiárido de modo particular, e que demandam não só ações pontuais, mas projetos de governo centrados em políticas de bem estar social.
A reportagem é de Adriana Amâncio, publicada por Articulação do Semiárido - Asa, 15-08-2022.
A água ainda é moeda de troca da política no período de eleições no Semiárido. (Foto: José Eduardo Bernades | BdF)
A água é um dos recursos naturais mais preciosos do Semiárido. Diante disso, barganhar voto por esse bem comum, prática também conhecida como clientelismo, é histórica na região. O contexto atual, no qual um milhão de pessoas ainda não têm acesso à água de consumo humano no Semiárido e no qual a fome atinge 33,1 milhões de pessoas, de acordo com o 2º Inquérito VIGISAN, é um terreno fértil para as tentativas de compra de voto. É neste cenário sobre o qual a nuvem da desigualdade social voltou a pairar sobre as famílias agricultoras do Semiárido, que a Campanha Não Troque o Seu Voto retorna às ruas, nesta segunda-feira, 15 de agosto. Em sua sexta edição, a mobilização defende o voto em programas de governo, que considerem o desenvolvimento, por meio da garantia do acesso à cidadania das famílias agricultoras do Semiárido.
A campanha é orientada por diretrizes frutos de um debate político, mobilizado pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), durante a sua primeira plenária nacional realizada presencialmente, no final de maio deste ano, envolvendo representações de organizações membro dos dez estados do Semiárido. Na ocasião, foram discutidos problemas relacionados à escassez hídrica, à fome, à insegurança alimentar, à violência contra a mulher rural, dentre outros temas. As propostas de políticas públicas para combater esses problemas estão reunidas na Carta “ASA por um Semiárido vivo”. Esse documento, além de orientar a pauta política das organizações nestas eleições, tem sido usado como ferramenta de negociação com candidatos e candidatas às eleições de 2022.
Considerando que o combate às desigualdades sociais na região semiárida dependem de ações sistemáticas e não pontuais, a mensagem desta edição defende e orienta o voto em projetos de governos alicerçados no bem estar social. Defende o voto pelo retorno dos programas de acesso à água, por apoio à agricultura familiar agroecológica, pela recuperação da Caatinga e do Cerrado, em defesa dos quintais produtivos e da produção e armazenamento de sementes e pelo combate à violência contra a mulher rural. A importância de votar em mulheres comprometidas com mulheres também está na pauta desta edição. A ideia é ampliar a presença feminina no Congresso Nacional, hoje restrita a 15%, e no Senado Federal, que não ultrapassa 13%, além dos poderes executivos estaduais.
Os conteúdos serão veiculados em formato de spots, vídeos, entrevistas e trabalhados em ações nas redes sociais. Os materiais serão compartilhados com a Rede de Comunicadores/as Populares da ASA, ligados às mais de três mil organizações membro e que têm acesso às famílias rurais, localizadas nas comunidades mais remotas. Essa rede, mais do que acesso, possui a confiança e cultiva um diálogo estreito com essas famílias, o que facilita o compartilhamento, mas também a compreensão das mensagens. Entrevistas e matérias sobre a campanha também serão trabalhadas neste endereço.
Em 2012, ano no qual a Campanha não troque o seu voto por água estreou, a presença das cisternas nas vidas das famílias já era uma realidade e a região semiárida já caminhava rumo à meta de 1 milhão de tecnologias implementadas. Essas implementações aconteceram, por meio de políticas públicas de governo e mostraram que a água era um direito e não um favor. As famílias já desfrutavam da autonomia hídrica e política. Essa, inclusive, era a mensagem central da primeira edição da campanha “Não Troque Seu Voto por Água. A Água É Um Direito Seu!”.
As peças traziam dados sobre as conquistas sociais alcançadas pela população, de forma democrática, como também orientava a pesquisar, analisar e votar apenas em candidatos e candidatas comprometido/as com políticas públicas voltadas à agricultura familiar, a agroecologia e à convivência com o Semiárido de um modo geral. Já em 2018, com a mudança no cenário político, a Campanha amplia a sua abordagem e passa a se chamar Campanha Não Troque o Seu Voto. A ideia dialoga com o contexto político da época, marcado pela redução de investimentos em políticas de bem estar social, por meio da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 95. Naquele ano, o Programa Cisternas já enfrentava os cortes mais drásticos de orçamento registrados desde 2015.
Além disso, o Brasil havia retornado ao Mapa da Fome, o que significa que mais de 2,5% do total da população se encontrava em situação de insegurança alimentar grave. Com o agravamento das desigualdades sociais, a população fica mais vulnerável. Desta forma, muito mais do que a troca do voto por água, havia o risco de aliciamento de políticos clientelistas, ofertando cestas básicas e até o pagamento de contas de luz. Nessa nova abordagem, são pautadas questões como o que é democracia e qual a importância de votar para que este sistema mantenha-se fortalecido, pela manutenção das conquistas sociais, pelo caminho das políticas públicas de governo, além da importância de ampliar a representatividade nas composições das casas legislativas e executivas, elegendo mulheres, negros e negras e pessoas LGBTQIA +.
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Campanha Não troque o Seu Voto retorna às ruas pelo voto consciente no combate à sede e à fome no Semiárido - Instituto Humanitas Unisinos - IHU