16 Agosto 2022
"A prática das violências políticas é sustentada pela invisibilidade alimentada pela forte combinação da estrutura de partidos, cargos eletivos e líderes partidários. Juntas, essas instâncias unificam posicionamentos naturalizados também pela sociedade ensinada a entender a política 'como coisa de homem, macho branco'", escreve Ivânia Vieira, jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Comunicação, articulista no jornal A Crítica de Manaus, cofundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).
As mulheres e as juventudes brasileiras carregam nas eleições deste ano o bastão da decisão. Estão nas mãos desses segmentos o poder de posicionar vitórias e derrotas às/aos candidatas/os. Convencer ao voto mulheres e jovens eleitores são, na atual campanha eleitoral, o desafio de cabos eleitorais e dos/das candidatos/as. Exercícios mirabolantes, alguns esdrúxulos, estão sendo realizados nessa direção.
O resultado desse movimento será desdobrado em temas de estudos importantes para compreender os influenciadores na formação do eleitorado nacional: quais leituras foram feitas, quais noções de valores obtiveram apoio, como funcionaram os indicadores econômicos, de classe, escolaridade, raça/etnia, as variáveis regionais, da defesa da natureza, do urbano e do rural. Como mulheres e jovens se comportarão quanto a comunicação do voto? Que discurso alcançará mentes e corações até aquele momento privado com a urna eletrônica?
A chave racismo, violência política e gênero ganha importância nos esforços para conhecer mais profundamente o que é a violência política e a violência política de gênero no Brasil. A prática dessas violências é sustentada pela invisibilidade alimentada pela forte combinação da estrutura de partidos, cargos eletivos e líderes partidários. Juntas, essas instâncias unificam posicionamentos naturalizados também pela sociedade ensinada a entender a política “como coisa de homem, macho branco”.
Na disputa eleitoral, estudiosos e técnicos estão em campo. Debruçam-se em dados e buscam nuances com capacidade de alterar quadros. Alguns, para não perder a banca do negócio eleitoral, inventam coisas que poderão funcionar ou não. Nessa corrida, repetem-se ações de especialistas importados que ignoram o código do lugar ou a ideia de pertencimento. Esse é dado de pertinência e de complexidade à medida que as plataformas comunicacionais estabeleceram outras linguagens, aproximaram, distanciaram, realçam características e descaracterizam.
No jogo comunicacional, feito de gente e de robô, amoroso e violento, solidário e egoísta, estão 83.373.164 mulheres (ou 53% do eleitorado brasileiro), e 2.116.781 jovens de 16 e 17 anos (correspondem 1.3% do eleitorado nacional, um crescimento de 51% quando comparado às eleições de 2018). Ambos, mulheres e jovens têm o histórico de, se fisgados pela causa, articularem criativos arrastões.
Não menos expressivo é o contingente eleitoral com mais de 70 anos. São 14.893.273 pessoas (crescimento de 24% em relação há quatro anos). No total, a população apta a votar no Brasil é de 156.454.011 (os dados são do Tribunal Superior Eleitoral referentes a julho). No Amazonas, são 2.647.748 eleitores dos quais 58.984 são jovens entre 16 e 17 anos. A região Norte representa 7.91% do eleitorado do País, com 11.908.196.
De acordo com o TSE, os estados que concentram quase metade do eleitorado brasileiro (42,64%) são, na ordem, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, há 34.667.793 de votantes, sendo 18.395.545 mulheres e 16.255.921 homens. Minas Gerais reúne 16.290.870 eleitores; Rio de Janeiro, 12.827.296 eleitores. Em quarta posição está a Bahia com 11.291.528 de votantes, representando 7,22% do total do país.
A pesquisa do TSE aponta que das eleitoras brasileiras (5.33%) estão na faixa etária de 35 aos 39 anos, seguida por aquelas que têm entre 40 e 44 anos (5.32%) e as que possuem de 25 a 29 anos (5.20%). Entre o universo das eleitoras brasileiras, 87.400 estão com 100 anos ou mais.
Essas mulheres e esses jovens, caçados, têm rosto, corpo, sonhos. De que modo o processo eleitoral os impacta e como responderão ao jogo é o que posiciona a batalha ora travada em nome do voto e da democracia brasileira. Nos espaços de poder político falta ouvir as outras vozes colocadas à margem.
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O jogo eleitoral e as batalhas pelo voto. Artigo de Ivânia Vieira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU