05 Agosto 2022
A China invadirá Taiwan? Xi Jinping será presidente vitalício? E ele está realmente pronto para travar uma guerra global com os EUA? Enquanto o termômetro da crise se inflama em Taiwan - visitado pela presidente do Congresso estadunidense Nancy Pelosi entre às ameaças de Pequim - fazemos um balanço com Francesco Sisci, sinólogo e jornalista.
A entrevista com Francesco Sisci é publicada por Formiche, 03-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
A viagem de Pelosi foi um erro?
Teria sido melhor evitar. Por que abrir uma segunda frente quando já tem uma aberta na Europa? Um conflito em duas frentes nunca é uma boa ideia. Depois, há outro risco. O de uma união política entre a China e a Rússia. O que faltou até agora diante da guerra na Ucrânia.
Por que para a China é um non plus ultra?
Com a normalização das relações diplomáticas em 1980, a China e os Estados Unidos concordaram com uma definição vaga de Taiwan. Washington havia reconhecido Pequim no lugar de Taipei. Essa visita de Pelosi aumenta sensivelmente o perfil político de Taiwan e é vista pelos chineses como um freio à normalização das relações iniciadas há quarenta anos.
Além dos Estados Unidos, quem está do lado de Taiwan?
Além do Japão, há outros estados da região que devem ter concordado com essa visita, ainda que de forma tácita, como a Coreia do Sul ou a Malásia. O motivo é simples: se não agora, quando? A elevação do perfil político de Taiwan é uma resposta ao rearmamento da China e suas crescentes ambições na região.
A viagem era inevitável?
Foi um dominó. Se Pelosi o tivesse cancelado após ameaças chinesas, depois de pressionar para realizar a viagem apesar da oposição de Biden, teria enviado uma mensagem perigosa: os Estados Unidos aceitam os ditames de uma ditadura.
A China pode arcar com uma guerra mundial?
Existem três obstáculos em seu caminho. O primeiro: a China importa grande parte de suas proteínas do exterior, da soja à carne. Ao contrário da Rússia, não tem autossuficiência alimentar. Uma guerra colocaria em risco a importação de 150 milhões de toneladas de alimentos. Além disso, travar uma guerra contra Japão, Europa e Estados Unidos significa desafiar os três pilares do superávit comercial chinês. Traduzido: desferir um golpe quase letal na economia e ameaçar o bem-estar da classe média.
No plano militar Pequim tem condições de travar uma guerra?
Aqui chego ao terceiro obstáculo: o capital humano. A política do filho único é um problema para o recrutamento obrigatório: independentemente do que se pensa, não há uma reserva infinita de jovens chineses para enviar para o front. E enviar um significa colocar-se contra dois pais e quatro avós. Multiplicado pelo exército que seria necessário, você tem uma ideia do problema.
Uma reação muscular pode ser esperada?
Acredito que a China tentará controlar a escalada. Além dos gestos militares dos próximos dias, nos próximos meses veremos novas rodadas de sanções contra a economia taiwanesa. Um aperto econômico.
Depois, há uma espada de Dâmocles: o Congresso do Partido Comunista Chinês daqui a poucos meses. Quanto pesa nas manobras chinesas?
O próximo Congresso é um verdadeiro mistério. Acompanho a China há trinta anos, e todos os anos o congresso é precedido por rumores, notícias, indiscrições: sobre este há um nevoeiro denso e impenetrável.
Qual é o objetivo de Xi?
Duas prioridades. A primeira: garantir um papel futuro, não sabemos qual. Continuará no poder, mas com que arquitetura? Talvez como secretário do partido, talvez como presidente. No final, ainda será mais poderoso. De fato, nascerá um Politburo formado por pessoas pelo menos dez anos mais jovens que ele, os idosos se aposentarão. Estamos falando de oficiais que devem toda a sua carreira no partido a Xi Jinping e são mais leais a ele.
O poder de Xi é realmente tão monolítico ou algumas rachaduras estão começando a aparecer?
Se há uma rachadura, não dá para ver. Xi, sem dúvida, colocou sua assinatura em políticas controversas, do Zero-Covid ao apoio à Rússia na invasão da Ucrânia. Um revés na questão de Taiwan pode ter consequências. Mas até agora nenhum funcionário ousou levantar a voz e o aparato está sob o controle estrito do governo central.
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Xi e Taiwan, à beira do abismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU