20 Setembro 2022
"Instrumentos para a teologia. Novos e ágeis manuais oferecem informações e atualizações sobre os conceitos, temas, símbolos (mas também os perfis de teólogos) que alimentaram por séculos a nossa cultura", escreve o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 31-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
É um tanto óbvio que a palavra "teologia" tenha nascido na Hélade, dado que entrelaça duas palavras gregas, theós, "Deus", e logos, "discurso", tornando-se assim a reflexão crítica sobre a transcendência divina, sobre as verdades reveladas, sobre o mistério sagrado. Menos conhecido, por outro lado, é que foi Platão quem cunhou esse termo e precisamente na República (379a) onde o definiu como a representação de Deus em sua essência "tanto nos versos épicos ou líricos, quanto nos textos das tragédias". Seu discípulo Aristóteles, na Metafísica (1026a), aproximando-a à filosofia e à matemática, colocava-a entre as ciências "contemplativas", como a mais eleita, tendo como objeto a natureza divina.
Feita essa premissa filológica, acrescentamos uma mais epistemológica. Tendo um estatuto próprio – que a distingue, portanto, da religiosidade simples ou da devoção e da espiritualidade genérica – a teologia, ao longo dos séculos, dotou-se de uma linguagem própria, como acontece com outras disciplinas. Ela se modela segundo as épocas históricas e se cristaliza em formas e fórmulas canônicas, às vezes tão conotadas que se tornam autorreferenciais (é também o caso de alguns teólogos contemporâneos cujo ditado é tão exclusivo que beira a obscuridade oracular). É, portanto, necessário que quem não pratica a matéria de forma "profissional" recorra a um guia explicativo, muitas vezes necessário até para não crentes, pois os conceitos, temas e símbolos teológicos ao longo dos séculos condicionaram, alimentaram e provocaram a filosofia, as artes, a cultura e a práxis geral.
Assim nasceu um Pequeno Dicionário de teologia para leigos em uma série de auxílios semelhantes para as mais diversas disciplinas e sobretudo para algumas seleções linguísticas direcionadas (árabe, sânscrito e o alemão dos filósofos, hebraico, grego e latim com terminologias específicas). Na realidade, trata-se de uma reelaboração de um Pequeno Léxico de Teologia que foi publicado em 1989, e que agora é revisitado, atualizado e retrabalhado por uma patrulha de jovens teólogos liderados por seu conhecido colega Giacomo Canobbio. A sequência dos 588 verbetes tem como extremos alfabéticos o "hábito" (abito, em italiano), que não é uma vestimenta, mas o habitus clássico, ou seja, "um modo estável de ser ou de se comportar" com implicações morais, e "Zwingli", o famoso reformador protestante suíço, orgulhoso opositor da "transubstanciação" eucarística (outro lema presente na série).
Editado por Giacomo Canobbio, Dizionarietto di teologia per laici, Scholé, p. 378, € 28.
É interessante descobrir, ao lado de terminologias obsoletas, ligadas à linguagem teológica do passado, especialmente dos tratados, as novas aquisições baseadas em abordagens até aqui inéditas. Para se ter uma ideia, abrindo o dicionário ao acaso, encontramos, por exemplo, "extradiegético", adjetivo típico da narratologia recente, justaposto alfabeticamente ao antigo e famoso "extra Ecclesiam nulla salus" que tantas discussões engendrou ao longo dos séculos. Assim à “ontologia”, cavalo de batalha da Filosofia cristã, se aproxima a um inesperado “ôntico e ontológico” de matriz heideggeriana. No entanto, como é natural, imperam as grandes categorias: se nos restringirmos apenas à primeira letra do alfabeto, sempre simplificando, nos deparamos com "ágape, alegoria, analogia, alma, antropologia, apologética, arianismo" e assim por diante.
Permanecendo no horizonte da teologia, nos deslocamos, porém, para a modernidade, trazendo à tona um desfile heterogêneo, mas sugestivo, de 26 teólogos considerados - talvez com um pouco de excesso - os "gigantes" recentes sobre cujos ombros é preciso subir para intuir o futuro que nos espera (segundo a famosa metáfora medieval, cara a Eco e cunhada por João de Salisbury). Como acontece em toda seleção, certas presenças podem surpreender e, neste caso, especialmente ausências. São justificadas por um critério extrínseco que talvez seja necessário, mas questionável. De fato, como escreve Marinella Perroni em sua introdução, “decidimos tratar apenas daqueles teólogos que morreram nas duas primeiras décadas deste século”.
Editado por Marinella Perroni, Brunetto Salvarani, Guardare alla teologia del futuro, Claudiana, pp. 304, € 24.
Desta forma, foram marginalizados os verdadeiros gigantes do século passado em cujos ombros se veria muito mais longe do que é possível com esses autores, ainda que valiosos, alguns decididamente menores, cujos retratos são confiados a teólogos ou estudiosos italianos. É claro que não faltam figuras que deixaram um marco significativo; ler seus escritos é estimulante; suas propostas podem gerar percursos evolutivos e revelar também as involuções que a reflexão pós-conciliar sofreu com desdobramentos pastorais. Aliás, alguns poucos têm uma estatura digna de alguma forma de ser colocada lado a lado com aqueles "gigantes" do século passado.
Pensamos, por exemplo, em Paul Ricoeur e sua hermenêutica simbólica, em Olivier Clément, construtor de pontes entre as duas margens do Oriente e do Ocidente da Igreja, em Jacques Dupuis, mestre do pluralismo religioso genuíno, em Martin Hengel e Edward Schillebeck, estudiosos da cristologia de diferentes ângulos, ao polimórfico Raimon Panikkar, pensador de crista, ao agudo intérprete de uma "teologia política" como Johann Baptist Metz, nem se pode ignorar a poderosa e provocadora influência intercultural e inter-religiosa de Hans Küng. Naturalmente, outros dos 26 escolhidos são interessantes e é justamente por isso que o volume se torna precioso para recompor um afresco do pensamento teológico cristão mais recente.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Pequeno dicionário de “Agape” a “Zwingli”. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU