18 Julho 2022
"A partir de hoje, guardarei ainda mais no coração a amável e preciosa recordação das conversas que tive com Eugenio, ocorridas nestes anos de pontificado. Rezo por ele e pela consolação dos que choram sua partida. E confio sua alma a Deus, por toda a eternidade", escreve o Papa Francisco, em texto coletado por Domenico Agasso e publicado por La Stampa, 15-07-2022. A tradução de Luisa Rabolini.
Pedimos ao Papa Francisco uma lembrança de Eugenio Scalfari. O texto foi coletado por Domenico Agasso.
Estou triste com a morte de Eugenio Scalfari, fundador do jornal La Repubblica. Nestas horas de dor, estou perto de sua família, entes queridos e todos aqueles que o conheceram e trabalharam com ele. Ele foi para mim um amigo fiel.
Lembro que em nossos encontros na Casa Santa Marta ele me contava como estava tentando apreender, investigando o cotidiano e o futuro através da meditação sobre as experiências e sobre grandes leituras, o sentido da existência e da vida. Ele se declarava um não crente, embora nos anos em que o conheci, também refletia profundamente sobre o significado da fé. Sempre se questionava sobre a presença de Deus, sobre as coisas últimas e sobre a vida após esta vida.
As nossas conversas eram agradáveis e intensas, os minutos com ele passavam voando pontuados pelo sereno confronto das respectivas opiniões e pela partilha dos nossos pensamentos e das nossas ideias, e também de momentos de alegria. Falávamos de fé e secularismo, de vida quotidiana e dos grandes horizontes da humanidade do presente e do futuro, da escuridão que pode envolver o homem e da luz divina que pode iluminar o seu caminho.
Lembro dele como um homem de extraordinária inteligência e capacidade de escuta, sempre em busca do sentido último dos acontecimentos, sempre desejoso de conhecimento e de testemunhos que pudessem enriquecer a compreensão da modernidade.
Eugenio era um intelectual aberto à contemporaneidade, corajoso, transparente ao contar seus temores, nunca nostálgico do passado glorioso, mas projetado para frente, com uma pitada de desilusão, mas também grandes esperanças de um mundo melhor. E ele era entusiasmado e apaixonado por seu trabalho como jornalista. Ele deixou uma marca indelével na vida de tantas pessoas e traçou um caminho profissional no qual muitos de seus colaboradores e sucessores estão avançando.
No início de nossas trocas de cartas e telefonemas, e durante nossas primeiras conversas, ele havia manifestado seu espanto pela escolha de me chamar de Francisco, e quis entender bem as motivações de minha decisão.
E além disso, o meu trabalho como pastor da Igreja universal o deixava muito curioso, e nesse sentido raciocinava em voz alta e em seus artigos sobre o empenho assumido pela Igreja no diálogo inter-religioso e ecumênico, sobre o mistério do Senhor, sobre Deus, fonte da paz e fonte de caminhos de fraternidade concreta entre os indivíduos, as nações e os povos.
Insistia no valor decisivo - para nossas sociedades e para a política - das relações sinceras, profícuas e continuadas entre crentes e não crentes. Ele era fascinado por várias questões teológicas, como o misticismo na religião católica e a passagem do Gênesis que diz que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. E pela composição e características das populações que habitarão a casa comum nas próximas décadas.
A partir de hoje, guardarei ainda mais no coração a amável e preciosa recordação das conversas que tive com Eugenio, ocorridas nestes anos de pontificado. Rezo por ele e pela consolação dos que choram sua partida. E confio sua alma a Deus, por toda a eternidade.
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Sempre buscou Deus na escuridão do homem. O Papa Francisco sobre Eugênio Scalfari - Instituto Humanitas Unisinos - IHU