A Rússia e a abertura à diplomacia do Vaticano sobre a Ucrânia: o que está por trás do sinal ao Papa?

Simbolos do Vaticano e da Rússia. (Foto: Reprodução | Edição: IHU)

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14 Junho 2022

 

Moscou fez saber que vê "favoravelmente" as iniciativas do Vaticano para acabar com a guerra: uma declaração que segue uma maior prudência por parte de Francisco. Mas existem "janelas" concretas?

 

O comentário é de Luigi Accattoli, jornalista italiano e vaticanista, publicado por Corriere della Sera, 13-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Moscou faz saber que vê "favoravelmente" as iniciativas de diálogo da Santa Sé destinadas a pôr fim às hostilidades na Ucrânia: o sinal é importante pelo próprio fato de ter sido lançado em um momento de impasse nas negociações, mas é repetitivo em seus conteúdos, voltado mais para a ajuda humanitária do que para a solução do conflito, formulado tendo em vista os longos tempos e não as possibilidades imediatas.

 

No Vaticano foi recebido com o mesmo e idêntico "favor", mas sem ilusões sobre seu possível impacto operacional.

 

Aqui estão as palavras extremamente calculadas confiadas à agência Ria Novosti esta manhã pelo diretor do Primeiro Departamento Europeu do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Alexey Paramonov: "A liderança do Vaticano declarou repetidamente sua disposição de fornecer qualquer assistência possível para alcançar a paz e colocar fim das hostilidades na Ucrânia. Estas alegações são confirmadas na prática. Mantemos um diálogo aberto e confidencial sobre várias questões, principalmente relacionadas à situação humanitária na Ucrânia.”

 

Depois foi explícito - de parte de Paramonov – o esclarecimento de que a atitude favorável é estratégica e de enquadramento, não visa iniciativas imediatas: "Todas as iniciativas da Santa Sé e do Papa Francisco que podem levar à paz na Europa são vistas com grande respeito e, naturalmente, podem ser solicitadas se surgirem as condições apropriadas.”

 

Por fim, o diplomata apresentou a habitual queixa sobre o comportamento dos ucranianos - "estamos lidando com pessoas alheias a qualquer autoridade" - como que para reiterar que neste momento não existem aquelas "condições" que poderiam dar origem a uma iniciativa de paz da Santa Sé.

 

O sinal é importante devido ao fato de ser o primeiro a chegar diretamente de Moscou após o resfriamento das trocas devido à entrevista concedida em 3 de maio pelo Papa ao Corsera. Mas deve-se notar que naquela entrevista, Francisco afirmou fortemente seu desejo de "ir a Moscou" para "encontrar Putin" e sobre isso as declarações de hoje não fornecem nenhuma "janelinha" em resposta, mesmo indiretamente, ao pedido papal.

 

"Janelinha" foi precisamente a palavra usada pelo Papa para indicar uma abertura de crédito ao pedido papal. Que Moscou sempre olha com atenção positiva para os movimentos papais, já havia sido assegurado pelo embaixador russo no Vaticano, Aleksandr Avdeev, assim que leu a entrevista do Papa: “Em qualquer situação internacional, o diálogo com o Papa é importante para Moscou. E o Pontífice é sempre um interlocutor bem-vindo, desejado.” Assim, estamos sempre na mesma situação, sem qualquer nova janelinha.

 

Mas por que essas palavras de distensão chegam hoje, se não há sinais de verdadeira novidade? Para fornecer uma resposta formalmente benevolente, interlocutória, mas também dilatória, à contínua insistência do Papa sobre as emergências humanitárias e na necessidade de parar os combates. Mas talvez também para manifestar a maior prudência de palavras e gestos observada pelo Papa e seus colaboradores nos últimos quarenta dias.

 

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