15 Abril 2022
"'Todas pagaram com a solidão pela coragem e determinação com que buscaram a plena realização pessoal', lê-se na apresentação; e parece que Chiara Frugoni se reconhecia um pouco nisso, nessas mulheres a quem a sociedade patriarcal parece tê-las feito pagar por sua independência, mas que, no entanto, chegaram a se realizar. Como ela concluía no vídeo enviado à 'Storia in Piazza', às mulheres é pedido o dobro do trabalho de um homem para serem consideradas como iguais: mas para elas é fácil. Ela tinha arrancado muitas risadas, aquela frase era proferida com um sorrisinho muito irônico, muito próprio dela, que fazia desaparecer os sinais da doença. E é assim que gosto de me lembrar de Chiara", escreve a historiadora italiana Marina Montesano, professora da Universidade de Messina, em artigo publicado por Il Manifesto, 12-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eu deveria ter me encontrado com Chiara Frugoni alguns dias atrás em Gênova, durante o evento "La Storia in Piazza". Ela era aguardada para falar sobre mulheres medievais, mas depois comunicou aos organizadores que não estava se sentindo bem o suficiente para viajar e enviou um vídeo de pouco mais de meia hora. A pedido dos organizadores, um pouco preocupados com sua ausência, eu o apresentei em uma sala lotada, apesar de saberem que ela não estaria presente, e o público acompanhou atento o relato de Chiara, alternado com algumas imagens, desde sempre o ponto central de seus estudos.
Um grande sucesso, muitos aplausos e palavras de apreço, a tal ponto que pensei em enviar-lhe um e-mail para cumprimentar e sobretudo para lhe contar sobre a tarde. Depois acabei não encontrado o endereço, a que se somou a necessidade de ir embora, os compromissos, a maldita pressa de sempre, e o e-mail não foi enviado, com a ideia de que haveria outra oportunidade. Na tarde de 10 de abril, ao saber da notícia de seu falecimento, o primeiro pensamento foi justamente aquele da oportunidade perdida que não se repetirá.
Não que Chiara Frugoni precisasse de confirmação. Sua fama cresceu ao longo dos anos graças à sua rara capacidade de entrelaçar fontes escritas e icônicas e, assim, construir uma carreira inédita, acompanhada pela publicação de muitas belas monografias. Francisco e a invenção dos estigmas. Uma história através de palavras e imagens até Boaventura e Giotto (Einaudi 1993), Prêmio Viareggio de ensaios em 1994, permanece famoso e controverso por sua proposta interpretativa; sobre Francisco ela havia retornado muitas vezes: já no ano seguinte com Vida de um homem: Francisco de Assis (Einaudi 1995, com introdução de Jacques Le Goff) e depois, com mais de vinte anos de intervalo, com Qual Francisco? A mensagem escondida nos afrescos da Basílica Superior de Assis (Einaudi 2015), livro de que gostava muito porque colocava em prática os tantos anos de observação de detalhes iconográficos e que lhe permitiu descobertas importantes.
Ela havia se formado entre Roma (tanto na universidade quanto no Instituto Histórico Italiano para a Idade Média) e Pisa, e lecionou em ambas as cidades da década de 1970 até 2000. Sobre a difícil relação com seu pai, o historiador medieval Arsenio Frugoni, evidentemente também muito admirado, abriu-se nos últimos anos, também graças à escrita de memórias: é altamente recomendado pelo menos seu Da stelle a stelle. Memorie di un paese contadino (Laterza 2003).
Escreveu sobre muitos temas diferentes, com particular atenção à história cultural e das ideias, sempre mantendo no centro o fio condutor do diálogo entre texto e imagem, um campo no qual, especialmente na Itália, mas não só, ela fez escola.
O empenho feminista, não militante, mas firme e convicto, certamente fruto em parte de experiências pessoais, havia se firmado em alguns escritos, entre os quais Una solitudine abitata. Chiara d’Assisi (Laterza 2007) em que escreve: “Toda a vida de Clara foi marcada pelo encontro com Francisco. Mas Clara não viveu na sombra e da sombra de Francisco, como eu li em algum lugar”. Bem, certamente viver à sombra dos outros (pais, maridos) não era para ela.
Seu último livro, aquele Donne medievali. Sole, indomite, avventurose (Il Mulino 2021) apresentado em Gênova, contém uma galeria de figuras femininas distintas entre si, como Radegonde de Poitiers, Christine de Pizan, a lendária papisa Joana, Matilde de Canossa, Margherita Datini.
"Todas pagaram com a solidão pela coragem e determinação com que buscaram a plena realização pessoal", lê-se na apresentação; e parece que Chiara Frugoni se reconhecia um pouco nisso, nessas mulheres a quem a sociedade patriarcal parece tê-las feito pagar por sua independência, mas que, no entanto, chegaram a se realizar. Como ela concluía no vídeo enviado à “Storia in Piazza”, às mulheres é pedido o dobro do trabalho de um homem para serem consideradas como iguais: mas para elas é fácil. Ela tinha arrancado muitas risadas, aquela frase era proferida com um sorrisinho muito irônico, muito próprio dela, que fazia desaparecer os sinais da doença. E é assim que gosto de me lembrar de Chiara.
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Chiara Frugoni, amor e rigor para a Idade Média - Instituto Humanitas Unisinos - IHU