10 Março 2022
Dom Rudolf Voderholzer é um dos poucos bispos na Alemanha que tem expressado fortemente suas ressalvas sobre o Caminho Sinodal, que é uma plataforma para os católicos no seu país para expressarem suas visões sobre a reforma e renovar a Igreja.
O bispo de 62 anos, que está à frente da Diocese de Regensburg desde 2012, está profundamente preocupado sobre as profundas mudanças defendidas por alguns alemães envolvidos nesse exercício sinodal.
Enquanto ele e seus confrades se reuniam nesta semana para a Assembleia Geral da Conferência dos Bispos da Alemanha, dom Voderholzer falou nesta entrevista sobre suas preocupações a respeito do Caminho Sinodal alemão.
A entrevista é de Delphine Nerbollier, publicada por La Croix, 08-03-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Você tem posições muito críticas ao Caminho Sinodal e um dos poucos bispos a expressá-las abertamente. Você se sente isolado na conferência episcopal?
Acompanho o Caminho Sinodal de forma ativa, mas muito crítica, porque estou convencido de que realmente precisamos de uma renovação na Igreja.
Mas creio que uma verdadeira renovação só pode acontecer através de uma nova e intensa evangelização, e que é possível uma impregnação espiritual e religiosa das funções e estruturas da Igreja.
Então, provavelmente, podemos dizer que com essa ideia sou, atualmente, minoria na Conferência Episcopal Alemã.
Quais são suas expectativas para o Caminho Sinodal? É uma boa maneira de responder à atual crise da Igreja Católica na Alemanha?
Iniciar um diálogo é extremamente importante, e isso se reflete no Caminho Sinodal.
Por meio de um diálogo aberto, livre e honesto, certos mal-entendidos podem ser esclarecidos e podem ser abertos novos horizontes de entendimento entre clérigos e crentes cristãos no mundo.
Esta é a linha que tomei na Diocese de Regensburg. Quero falar com as pessoas, ouvir o máximo possível, mas também explicar o ensinamento da Igreja.
Infelizmente, o Caminho Sinodal não oferece o ambiente adequado para isso.
O cardeal Kasper teme que isso possa levar a um resultado semelhante ao do Concílio Pastoral neerlandês de 1966-1970, ou seja, a uma quase total secularização da sociedade. Não acho que esse medo seja exagerado.
Qual dos temas abordados pelo Caminho Sinodal é o mais problemático aos seus olhos?
É possível entrar em uma boa discussão teológica sobre muitos assuntos, trazer à luz diferentes pontos de vista bem fundamentados e assim chegar um pouco mais perto da verdade.
O importante é não misturar os diferentes níveis.
Houve discussões muito boas e intensas em nível de conferência dos bispos com as vítimas de abuso sexual sobre a elucidação de tal abuso, sua gestão e prevenção.
Na minha opinião, torna-se problemático quando os objetivos políticos da Igreja se envolvem na gestão do abuso sexual.
A este respeito, considero particularmente problemática a tese fundamental do Caminho Sinodal.
Ele assume que o estudo do MHG [o relatório independente de 2018 sobre abuso sexual na Igreja Alemã de 1946-2014] provou que as estruturas de poder da Igreja, o estilo de vida dos padres e os ensinamentos sexuais da Igreja são as causas sistêmicas da violência sexual, dos abusos e que, por conseguinte, são necessárias reformas fundamentais nestas áreas.
Você teme que a Igreja Católica na Alemanha possa ficar isolada do resto da Igreja universal a longo prazo?
Não posso dizer como o relacionamento se desenvolverá a longo prazo.
Mas já noto uma clara discrepância entre as declarações de Roma sobre os temas do Caminho Sinodal e as declarações e decisões dos bispos e vigários gerais alemães.
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Alemanha. Bispo de Regensburg explica por que é contra o Caminho Sinodal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU