13 Janeiro 2022
Esfaqueados, espancados, arrastados pelos cabelos, queimados, filhos arrancados de seus pais. A violência do arrastão entre os migrantes em Trípoli é confirmada pela equipe dos 'Médicos Sem Fronteiras' que conseguiu entrar no campo prisional de Ain Zara, para onde foi levada a maioria das pessoas detidas na noite entre domingo e segunda-feira. Na mesma hora, as autoridades italianas ordenaram a "detenção" do navio humanitário Sos Mediterranee e da Cruz Vermelha Internacional.
A reportagem é de Nello Scavo, publicada por Avvenire, 12-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Mais de 600 pessoas, que protestavam pacificamente para obter proteção e para pedir para serem retiradas da Líbia, foram presas e transferidas para o centro de detenção de Ain Zara, no sul de Trípoli. Centenas de migrantes e refugiados já estão detidos naquela instalação em celas superlotadas”, relatou Gabriele Ganci, chefe de missão dos MSF na Líbia. “Durante a visita semanal ao centro, onde oferecemos tratamento médico e apoio psicológico, a equipe de MSF tratou pessoas com feridas por corte, marcas de espancamentos e pessoas traumatizadas por prisões forçadas”. Entre eles, também pais "que foram espancados e separados de seus filhos durante o evento".
No total, os médicos atenderam 68 pessoas feridas durante a prisão em massa. Para 7 deles foi necessário providenciar a transferência para o hospital, enquanto a 190 pessoas foi oferecido apoio psicológico.
As imagens do arrastão confirmam a reconstrução. Dezenas de homens em uniformes pretos são vistos chegando ao acampamento espontâneo de migrantes e depois os arrastar à força. “O que aconteceu mostra, mais uma vez, como na Líbia todos os migrantes são submetidos a detenções aleatórias e arbitrárias, até mesmo aqueles que buscam proteção e tratamento de acordo com o direito humanitário”, afirma Ellen van der Velden, diretora de operações dos Médicos sem Fronteiras. “Mais uma vez, pedimos às autoridades líbias que parem com as prisões em massa e encontrem alternativas dignas à detenção. Pedimos também à UE – é o apelo da organização – que cesse todo o apoio ao sistema sem fim de detenção, abusos e violências na Líbia”. Nos últimos dois meses, as equipes dos MSF foram autorizadas a visitar o centro de detenção uma vez por semana em clínicas móveis.
Enquanto isso, na Itália, após mais de 11 horas de inspeção, uma nova ordem de detenção administrativa foi decretada para o Ocean Viking, o navio da Sos Méditerranée empenhado na busca e resgate de migrantes no Mediterrâneo. Uma equipe médica da Federação Internacional da Cruz Vermelha está a bordo. O navio, anunciou a própria ONG, foi bloqueado no porto de Trapani, devido a uma série de falhas que teriam sido detectadas na popa, onde existem contêineres para dar abrigo aos náufragos que deviam de ser registados de forma diferente.
"A certificação dessas estruturas como 'carga' é questionada, dois anos e meio depois que essas estruturas foram instaladas em um estaleiro profissional e certificadas por todos os órgãos reguladores pertinentes - diz a ONG - 5.108 pessoas foram resgatadas do perigo no mar desde o início das operações deste navio, e encontraram abrigo e segurança dentro dessas estruturas”. A bordo do Oceano. Entretanto, poucos dias após a partida do navio Mare Jonio de Trapani, uma nova carta da Santa Sé chegou aos voluntários do "Mediterranea". Foi assinada pelo cardeal Michael Czerny, prefeito interino do Dicastério para o desenvolvimento humano integral.
“O Santo Padre reza pela vossa missão, nós também rezamos por ele como sempre nos pede. Juntamente com os meus mais sinceros votos de um Santo Natal, apresento aqueles do Papa Francisco a todo o Mediterrâneo Saving Humans e a todos aqueles que colaboram convosco na missão de criar um mundo em que possamos verdadeiramente ser todos irmãos e irmãs”, relata a carta.
Por ocasião do aniversário do pontífice, uma carta de Dom Mattia Ferrari, capelão da plataforma humanitária, tinha sido enviada a ele. Alguns dias depois veio a resposta oficial de Czerny.
"Em nome do nosso Papa Francisco, agradeço imensamente por sua carta de 13 de dezembro e por suas notícias". Depois de muitos meses “em que tiveram que ficar parados, agradeço-lhe – escreveu o cardeal – também pela vossa coragem de partir com o Mare Jônio, para retomar a missão no mar junto com as outras organizações da 'frota civil'. Continuo rezando por você, assim como vocês também podem ver que o Papa Francisco continua pedindo em suas intervenções públicas que sejam abertas vias legais e seguras de acesso à proteção internacional”.
Para o cardeal, “socorrer nossos irmãos e irmãs migrantes é o maior serviço que vocês poderiam oferecer. Acompanhamos vocês com seus ‘espinhos’, críticas e calúnias”. Daí um encorajamento: "Vocês experimentaram no meio do mar que a fraternidade universal pode ser curada com o amor”.
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Líbia, MSF confirma as violências: “Migrantes esfaqueados e espancados” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU