13 Novembro 2021
15% dos trabalhadores de aplicativo saíram do ramo ao longo de 2021.
A reportagem é de Gabriel Reis, estagiário e aluno do curso de jornalismo da Unisinos, publicado por Beta Redação, 10/11/2021.
No último dia 25 de outubro a Petrobras anunciou para o dia seguinte um aumento de R$ 0,21 por litro da gasolina. De acordo com uma matéria publicada pela Revista Veja em 18 de outubro, os estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Acre, Piauí, Minas Gerais e Mato Grosso estão com a precificação dos combustíveis atingindo os 7 reais o litro, afetando diretamente as pessoas que dependem do transporte privado para se locomover ou trabalhar, como os trabalhadores de aplicativo.
Imagem: preço de combustíveis em posto localizado no Acre | Reprodução
Em uma entrevista concedida à uma matéria da BBC Brasil publicada no dia 18 de agosto, ex-motoristas de aplicativo relatam que desde o ano passado houve uma debandada de trabalhadores dos aplicativos de mobilidade urbana e que isso se deu pelo aumento no preço da manutenção dos veículos, dos preços dos combustíveis e, especificamente durante a pandemia, a baixa da demanda por motoristas. A recém criada categoria de trabalhadores de aplicativos de mobilidade urbana se encontra em situação de debilidade.
De acordo com Carina Mineia dos Santos Trindade, 42, presidenta do Sindicato dos Motoristas de Transporte Individual por Aplicativo do Rio Grande do Sul (Simtrapli — RS), a demanda por motoristas de aplicativo diminuiu entre 80% e 90% nos primeiros meses da pandemia e só foi aumentar nos meses finais de 2020. Carina também comenta que, desde o início do ano, com a alta dos combustíveis, 15% dos motoristas de aplicativo deixaram a profissão. Em outubro, as empresas 99 e Uber reajustaram o valor repassado aos motoristas. Na mesma semana, houve dois reajustes de preço nos combustíveis. “Com o reajuste da Uber, por exemplo, corridas de preço mínimo, que eram de R$ 5,21 passaram a ser R$ 5,50, não sendo suficiente para acompanhar a alta dos combustíveis. É como pagar para trabalhar. Ligar o carro hoje já gera prejuízo”, aponta Carina.
Foto: Carina Mineia dos Santos Trindade | Arquivo pessoal
Em uma reportagem publicada pelo jornal Estadão em 14 de setembro desse ano, é apontado que a crise vivida pelos motoristas de aplicativo aumentou o número de cancelamentos de corridas e tem gerando uma elevação na insatisfação dos usuários recorrentes desses serviços. Dentre as pessoas que dependem do uso dos aplicativos de mobilidade urbana, há Julia Krohn, 18, que mora em São Leopoldo/RS, residindo no bairro Feitoria e trabalhando no bairro Rio Branco na loja Duplicopias como atendente. Julia comenta que a atual maior dificuldade no uso dos aplicativos é a recorrência na qual corridas são canceladas ou nem sequer aceitas e finaliza dizendo “muitas vezes não há motoristas por perto. Então resta a algum motorista que esteja no centro ou em outro bairro próximo a aceitar, o que na maioria das vezes não acontece”.
Imagem: Julia Krohn | Arquivo pessoal
O aumento crescente do preço dos combustíveis tem afetado também motoristas particulares. Silvio Loese Junior, 40, trabalha como motorista particular e de aplicativos como Uber e 99. Silvio comenta que ao longo de 2020 teve o orçamento familiar impactado drasticamente, mas que graças ao auxílio emergencial fornecido pelo governo federal pode manter a si mesmo e a própria família. Atualmente, Silvio segue trabalhando como motorista e, em suas palavras “é preferível trabalhar de forma autônoma ou com o 99, pois o aplicativo oferece dias de taxa zero para os motoristas, podendo gerar um retorno melhor que a Uber”.
Imagem: Silvio Loese Junior | Arquivo pessoal
Sob a alegação de reverter o quadro de prejuízo da Petrobras, em outubro de 2016 o governo de Michel Temer realizou uma alteração na política de preços da estatal brasileira. Com essa alteração, os preços dos combustíveis passaram a ser calculados com base no mercado internacional, gerando variações cada vez mais constantes das precificações. Através desse movimento realizado pelo governo Temer o lucro dos acionistas da estatal se encontra crescente nos últimos anos ao mesmo tempo que a inflação sob os combustíveis chega a 30%.
Ações da Petrobras (PETR4) | Fonte: Google
Imagem: Daniela Arbex / Invest News | Fonte: ANP
Segundo uma reportagem publicada pela Uol em 25 de outubro, em 2016 a Petrobras chegou a registrar um prejuízo líquido de R$ 18,5 bilhões e no ano seguinte o prejuízo caiu para R$ 539 milhões. A partir de 2018 a empresa brasileira passou a registrar lucros ascendentes, sendo o inicial de R$ 30 bilhões e, em 2019, R$ 44,8 bilhões, com o governo de Jair Bolsonaro dando sequência ao projeto iniciado por Michel Temer. Em 2020, mesmo com a pandemia, a estatal registrou um lucro de R$ 7,6 bilhões e, em 2021, um lucro de R$ 42,9 bilhões somente no segundo trimestre do ano. Atualmente, estipula-se um anual aumento do lucro dos acionistas, da empresa e da inflação sob os combustíveis, sentida pela população brasileira e, principalmente, pelos que dependem do transporte particular.
Matéria da Revista Veja - disponível aqui.
Matéria da BBC Brasil - disponível aqui.
Matéria do Estadão - disponível aqui.
Matéria da Uol - disponível aqui.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Alta do preço dos combustíveis impacta brasileiros que dependem do transporte privado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU