10 Novembro 2021
Era só uma questão de tempo até que alguém chamasse a atenção para o problema. E essa hora chegou, aliás, já chegou há um bom tempo. Quanto plástico utilizamos durante a pandemia? Quanto foi parar no mar? Embora reconhecendo o papel fundamental que o plástico desempenhou na gestão da pandemia pelos motivos que conhecemos - é resistente, barato, lavável, muitas vezes descartável, fácil de encontrar – perguntar-se qual o impacto que teve e terá no meio ambiente é importante.
Também para identificar as áreas mais críticas da sua gestão, que mais necessitam de intervenção. Precisamente com esse intuito, uma equipe de pesquisadores espalhados entre China e Califórnia investigou a quantidade de plástico pandêmico, ou seja, produzido em conexão com a pandemia de Covid, tentando entender onde houve os maiores consumos, e também estimar a parcela que chega ao mar.
A reportagem é de Anna Lisa Bonfranceschi, publicada por La Repubblica, 09-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O problema da pandemia de plástico não é novo e está à vista de todos. Basta pensar em todo o material relacionado à pandemia necessário nos últimos meses - como o dos testes para a Covid, dos equipamentos de proteção individual, como máscaras e luvas - para entender que estamos diante de um uso excepcional de plástico em comparação com o passado. Menos óbvio, talvez, seja o aumento das compras online que provavelmente contribuiu para o aumento da produção e do consumo no mesmo período, escrevem os pesquisadores nas páginas do PNAS. Já sabemos, eles continuam, que infelizmente esses picos de produção e consumo não são correspondidos por um sistema equivalente de gestão de resíduos. Mas exatamente de quanto plástico estamos falando e de onde ele vem principalmente?
As estimativas efetuadas pelos pesquisadores (em quatro tipologias de plástico: lixo hospitalar, kits de teste, máscaras de residente e embalagens derivadas das compras online), aliadas à incidência de casos e internações, falam de cerca de 8,4 milhões de toneladas de plástico em excesso ligadas à pandemia (até agosto passado, 11 milhões, tentando estimar até o final deste ano). A maior parte é lixo proveniente de hospitais (87,4%), seguido por equipamentos de proteção individual (7,6%), embalagens (4,7%) e kits de teste (0,3%).
Se o maior número de casos ocorreu no período analisado nas Américas, seguidas de Ásia e Europa, é a Ásia (à frente da Europa) onde ocorreu a maior produção de resíduos plásticos. Como evidência, escrevem os pesquisadores, o baixo grau de tratamento de resíduos hospitalares em alguns países, como Índia e China, mas também no Brasil, em comparação com outros países com altos níveis de doença na América do Norte e Europa.
Os cientistas calcularam então que cerca de 26.000 toneladas de plástico que chegam aos oceanos vindas dos rios (cerca de 1,5% de tudo que chega globalmente dos rios e das suas bacias hidrográficas, para comparação), com o Shatt al Arab, o Indus e o rio Yangtze - e, portanto, a Ásia novamente - como principais contribuintes para o lixo no mar. Até o final de 2021, cerca de dois terços desse plástico vão parar nas praias, 16% no fundo do mar e 13% nas águas, segundo seus modelos. Com o passar dos anos, quase todo esse plástica será encontrará unicamente nos fundais marinhos e nas praias.
Estimativas à parte, a mensagem é clara. Se os plásticos estão dando uma grande ajuda na luta contra a pandemia, é mais necessário ainda pensar em como gerenciar os resíduos, também à luz dos adiamentos nas proibições de plásticos descartáveis favorecidos pela pandemia. Para isso, concluem os autores, é necessário um pouco de tudo: é preciso certamente focar no desenvolvimento de materiais mais ecológicos e em novas tecnologias de coleta e reciclagem, mas no curto prazo é preciso buscar a otimização da gestão dos resíduos, especialmente os resíduos hospitalares em países em desenvolvimento. E, em todo lugar, mais atenção.
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Existem aproximadamente 8,4 milhões de toneladas de plástico a mais ligadas à pandemia de Covid - Instituto Humanitas Unisinos - IHU