23 Setembro 2021
Um ano atrás, celebrando a missa com os novos cardeais, já advertia contra "reclamações e conspirações". Já faz algum tempo que Francisco deixou claro que sabe disso e não se importa. Porém, ele nunca o tinha dito isso de forma tão seca, tão francamente: “Ainda estou vivo. Embora alguns me quisessem morto. Estavam preparando o Conclave”.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 22-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa falou sobre isso em Bratislava, no domingo, 12 de setembro. Como costuma acontecer, ele reservou parte da tarde para se encontrar com seus coirmãos jesuítas na nunciatura. Diálogo transcrito e publicado ontem pela Civiltà Cattolica. O Papa mostra-se em boa forma e de bom humor, “Não estou com vontade de fazer um discurso aos Jesuítas”, diz entre risos e convida-os a lhe fazer perguntas: “Estou à espera, joguem a bola para o goleiro, vamos!". Então um coirmão começa com a pergunta mais simples, já que foi a primeira viagem após a cirurgia de cólon em julho. Ele pergunta a ele: como está? E Francisco responde: “Ainda vivo. Embora alguns me quisessem morto. Sei que até houve encontros entre prelados que acreditavam que a situação do Papa fosse mais grave do que se divulgava. Estavam preparando o Conclave. Paciência! Graças a Deus estou bem. Fazer aquela cirurgia foi uma decisão que eu não queria tomar: foi um enfermeiro que me convenceu."
A ironia de Francisco contra os opositores ultraconservadores, e seu desejo nem tão oculto de um sucessor, é a mesma que o Papa já havia mostrado em agosto ao falar à Rádio Cope, a emissora da conferência episcopal espanhola, depois dos costumeiros "rumores" romanos de renúncia iminente: “Sempre que um Papa está doente, há sempre uma brisa ou um furacão de Conclave. Eu realmente não sei de onde eles tiraram que eu estava prestes a renunciar! Nem mesmo passou pela minha cabeça!”
A situação dura há anos. A oposição a Francisco e as manobras para um próximo Conclave têm seu centro nos Estados Unidos e nos setores, muito bem financiados, da ultradireita católica, com relativas contrapartidas do Vaticano. Leigos ricos e visões econômicas ultraliberais que veem como fumaça nos olhos o magistério de Bergoglio.
Já em 2018 descobriu-se que um "Grupo para um melhor governo da Igreja" havia apresentado aos possíveis doadores uma operação chamada "Red Hat Report" que tinha um orçamento de um milhão para iniciar e elaborar, no período de dois anos, um dossiê para cada cardeal eleitor, focando em acusações e rumores de "abusos sexuais", "corrupção" e assim por diante. Um dos objetivos era modificar os perfis dos cardeais na Wikipedia. "Se tivéssemos feito isso antes, talvez não tivéssemos o Papa Francisco."
Sites, agências, editoras, centros de estudos, a trupe é sempre a mesma. No ano passado foram lançados dois livros com o mesmo título, "The next Pope" (O Próximo Papa), um do jornalista do National Catholic Register Edward Pentin e outro de George Weigel, ex-biógrafo de João Paulo II. Aquele de Weigel foi doado a vários purpurados pelo cardeal de Nova York Timothy Dolan.
Em 2019, o jornalista francês Nicolas Senèze escreveu um livro para resumir o grupo estadunidense: “Como a América quis mudar de Papa” [em tradução livre]. Quando o autor lhe deu de presente, no voo para Moçambique, Francisco riu: “Isto é uma bomba! Para mim é uma honra que os estadunidenses me ataquem”.
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O Papa: “Manobras para o Conclave, alguns me queriam morto” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU