14 Setembro 2021
“Cada animal está em sua espécie e em seu comportamento; o homem, com o grandioso e terrível dom da liberdade, em vez disso, pode cruzar essas fronteiras e se transformar em uma besta feroz, em um monstro, em um demônio. Aliás se existe algum animal que parece prevalecer sobre a sua natureza, é devido ao homem que consegue deformá-lo”, escreve Gianfranco Ravasi, em comentário publicado por Il Sole 24 Ore, 12-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o comentário.
Entre os animais, a criatura nascida para ser uma pomba nunca se transforma em um falcão, o que infelizmente ocorre entre os seres humanos.
Às vezes, lendo nas crônicas as descrições de certos crimes tão hediondos a ponto de provocar uma repulsa instintiva, pode surgir este pensamento: mas esse criminoso foi uma criança, ele também deve ter mostrado um rostinho frágil e inocente, em sua existência ele deve ter sentido pelo menos uma vez uma emoção de ternura e humanidade... No entanto, permanece verdadeira a frase proposta por Victor Hugo. Que existam na natureza pombas e falcões, gatos e leopardos, beija-flores e serpentes faz parte da variedade da criação e da complexidade da evolução, da adaptação ao meio ambiente, dos próprios limites da natureza que não é perfeita, eterna, infinita como seu Criador.
Cada animal está em sua espécie e em seu comportamento; o homem, com o grandioso e terrível dom da liberdade, em vez disso, pode cruzar essas fronteiras e se transformar em uma besta feroz, em um monstro, em um demônio. Aliás se existe algum animal que parece prevalecer sobre a sua natureza, é devido ao homem que consegue deformá-lo: pensemos em certos animais treinados para o combate e as relativas apostas. Houve pessoas - e a história do nazismo nos ensinou isso - que eram pais ternos, apreciadores refinados da música e da arte e que nos campos de concentração se tornavam feras humanas. Neles se verificava o que Shakespeare pôs na boca de Henrique IV: à sua mãe que lhe fazia notar que até os animais sentem piedade, ele respondia dizendo que não era uma fera e, portanto, não sentia aquele sentimento! Portanto, é necessário estar atento a cada germe de desumanidade que se insinua na alma.
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#A pomba e o falcão. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU