09 Setembro 2021
"Durante a pandemia, várias pessoas redescobriram a possibilidade de se alimentar da Palavra de Deus: quanto caminho a Igreja ainda tem que percorrer para que todos tenham contato vivo com as Sagradas Escrituras? Por que não alternamos encontros profundos e sistemáticos em torno da Palavra de Deus com o recurso tão insistente de contínuas celebrações eucarísticas?", escreve Roberto Oliva, padre italiano da diocese de San Marco Argentano – Scalea (Cosenza), em artigo publicado por Settimana News, 07-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
As três primeiras partes do artigo são:
O jejum eucarístico provocado pela pandemia nos primeiros meses de emergência sanitária lançou-nos em uma situação de inesperada "solidariedade" para com todas aquelas pessoas que, por motivos diversos, não pode se aproximar do sacramento da comunhão: divorciados e novamente casados, coabitantes e fiéis que residem em territórios com baixo número de presbíteros (ver as comunidades da região pan-amazônica).
Esta experiência permite-nos várias reflexões sobre as escolhas que a Igreja é chamada a fazer e que, afinal, animaram também os debates tanto durante os dois Sínodos sobre a família (2014-2015) como aquele sobre a Amazônia (2019). À comunidade eclesial em busca de sinais credíveis de renovação, a Palavra de Deus é proposta como um tesouro antigo e sempre novo: “A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras como venera o próprio corpo do Senhor [...] sempre considerou e continua a considerar as Sagradas Escrituras como regra suprema da sua fé [...] nos livros sagrados de fato o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro de seus filhos, a conversar com eles” [1].
O paralelismo com a Eucaristia não agradou a vários padres conciliares, na realidade transmite a ênfase que o Vaticano II conferiu à Palavra de Deus rezada, meditada e vivida. Um fiel ancião de uma comunidade paroquial onde servi certa vez, me contou sobre o assombro de sua mãe quando ela começou a ouvir a proclamação das leituras dominicais em italiano: “Finalmente entendemos o que Deus diz e o que Ele quer de nós!”.
O confronto constante com a Sagrada Escritura permite entrar em contato com o Deus da revelação cristã que podemos definir como sacramental [2]: por isso não serve apenas como texto informativo, mas também performativo na vida do crente. Com efeito, a Sagrada Escritura é “um ato vivo do Deus que fala, solicitando a adesão do coração e da mente aqui e agora” [3], no contexto litúrgico e comunitário sob a orientação do Espírito Santo.
Durante a pandemia, várias pessoas redescobriram a possibilidade de se alimentar da Palavra de Deus: quanto caminho a Igreja ainda tem que percorrer para que todos tenham contato vivo com as Sagradas Escrituras? Por que não alternamos encontros profundos e sistemáticos em torno da Palavra de Deus com o recurso tão insistente de contínuas celebrações eucarísticas?
Por outro lado, assume uma tarefa muito importante para a conversão pastoral das comunidades, pois “não pode haver fim do clericalismo se não houver um estado permanente de endemia da Escritura, diversamente todas as outras formas em que se tenta dar-lhe um fim são formas indevidas" [4].
O clericalismo só é superado se cada batizado recuperar a centralidade da Palavra de Deus na vida espiritual e comunitária: nesse sentido, o convite à prática da sinodalidade adquire um valor decisivo no que diz respeito à corresponsabilidade de todos os sujeitos eclesiais.
As possibilidades de difundir essa endemia da Palavra são múltiplas e já praticadas em várias comunidades ao redor do mundo. Compartilho apenas algumas entre muitas: favorecer a tradicional lectio divina (também online para quem trabalha), a leitura comunitária da Bíblia, pequenas oficinas da Palavra de Deus nas casas dos fiéis ou nos bairros, verdadeiros encontros bíblicos sobre temas específicos (criação, justiça, pobreza, escolhas, etc.) ou livros da Escritura.
Além disso, poder-se-ia pensar em uma hora semanal em que aqueles que desejam (em particular as famílias e os agentes pastorais) se reúnam em torno da liturgia da Palavra dominical para compartilhar a própria experiência humana e espiritual a fim de favorecer uma participação realmente ativa na Páscoa semanal.
Esse caminho também gera as condições para a chamada homilia participada, para o envolvimento maduro dos pais dos filhos da IC que não se sentem espectadores passivos e para a proposição de sinais ou coletas para as necessidades das pessoas mais desfavorecidas.
[1] Dei verbum, 21.
[2] Bento XVI, Verbum domini, 56.
[3] A. Bozzolo - M. Pavan, La sacramentalità della Parola, Queriniana, Brescia 2020, 322.
[4] G. Dossetti, La Parola di Dio seme di vita e di fede incorruttibile, a cura della Piccola Famiglia dell’Annunziata,, Bolonha 2002, 108.
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Caso contrário seria um desperdício / 4: uma Igreja da Palavra - Instituto Humanitas Unisinos - IHU