14 Mai 2021
Eamon Duffy, o principal historiador da Igreja, certa vez explicou o problema da escassez de padres com uma única frase: “Sem padres, não há sacramentos; e, sem sacramentos, não há Igreja”.
A reportagem é de Christopher Lamb, publicada em The Tablet, 13-05-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Diante de um número cada vez menor de padres em muitas partes da Igreja, o Papa Francisco decidiu, por enquanto, não ampliar o acesso ao ministério ordenado. Ele manteve a proibição às mulheres padres e decidiu não prosseguir com a ordenação de homens casados. As diáconas podem estar em discussão, mas qualquer mudança nessa direção parece improvável em curto prazo.
O que o papa está buscando, acima de tudo, é uma visão renovada de ministério na Igreja, construir papéis para os leigos e desenvolver o que ele descreve como um cultura pastoral “distintamente leiga”, enraizada no sacerdócio de todos os batizados.
Trata-se de uma abordagem que frustra alguns, que argumentam que Francisco está permitindo que as questões candentes da falta de padres e do ministério das mulheres fiquem esquecidas.
Não se engane: o papa não está dizendo um “não” definitivo à ordenação de homens casados ou às diáconas. Ele abriu discussões nessas áreas. Mas ele deve levar em consideração a feroz resistência a qualquer mudança na compreensão do sacerdócio pela Igreja, especialmente em Roma.
Para evitar a polarização e buscar reformas que atraiam um amplo consenso, ele está levando em frente iniciativas que criem condições para uma discussão mais frutífera sobre a natureza do sacerdócio e sobre quem pode ou não ser ordenado.
Na terça-feira, o papa deu um passo a mais na implementação da sua visão com a criação de um ministério oficial de catequista, que é descrito como uma “forma estável de serviço”. Em partes da África, Ásia e na Região Amazônica, onde a escassez de padres é aguda, os catequistas leigos são frequentemente lideranças permanentes das comunidades cristãs.
Até agora, os catequistas, muitos deles mulheres, têm desempenhado esse ministério sem um reconhecimento formal. No entanto, o Vaticano deseja manter os catequistas longe do altar. Durante uma coletiva de imprensa, eu perguntei ao arcebispo Rino Fisichella se as catequistas poderiam fazer a homilia durante a missa. “Acho que não”, ele respondeu, ressaltando que o papel delas “não é principalmente litúrgico”.
As reformas de Francisco do ministério leigo estão enraizadas no Sínodo sobre a Região Amazônica, de 2019, no qual os bispos locais pediram ao papa para “promover e conferir ministérios a homens e mulheres de forma equitativa”. À luz de uma terrível escassez de padres, as lideranças da Igreja na Amazônia também pediram a ordenação de homens casados e uma maior discussão sobre as diáconas.
A Cúria Romana resistiu fortemente a essas propostas. Confrontado com a impossibilidade de criar um consenso, o papa pisou no freio. Em vez disso, ele se focou em abrir espaços dentro do ministério eclesial em que mulheres e homens possam quebrar o vínculo entre a liderança na Igreja e a ordenação ao sacerdócio.
O papa parece seguir alguns conselhos atribuídos ao seu homônimo, São Francisco de Assis: “Comece fazendo o que é necessário; depois faça o que for possível; e de repente você estará fazendo o impossível”.
A Congregação para a Doutrina da Fé também pisou no freio em relação a alguns movimentos de alguns bispos nos Estados Unidos para barrar o presidente Joe Biden da Comunhão com base no seu apoio às políticas sobre o aborto.
O que é impressionante sobre a última intervenção da Congregação é como ela contrasta com a decisão emitida contra as bênçãos das uniões entre pessoas do mesmo sexo. Enquanto ela ofereceu uma palavra “negativa” para a possibilidade das bênçãos, a carta aos bispos dos Estados Unidos oferece um marco para o discernimento. Isso sugere que o papa estava mais intimamente envolvido na sua formulação do que no documento sobre as bênçãos para as uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Disseram-me que altas autoridades vaticanas não apoiam tais movimentos para negar a Comunhão a Biden e a outros políticos católicos.
O cardeal Luis Ladaria, prefeito da Congregação, aconselhou os bispos a encontrarem um “verdadeiro consenso” sobre o tema (altamente improvável, dada a profundidade das divisões entre eles) e a dialogarem com os políticos pro-choice antes de tomar qualquer medida política. Ele também aponta que a decisão de barrar a Comunhão a qualquer católico cabe ao seu bispo local, e não a uma Conferência Episcopal.
Curiosamente, a carta de Ladaria se tornou pública no dia em que padres de toda a Alemanha ofereceram bênçãos a casais do mesmo sexo. Alguns, nos Estados Unidos, acusaram a Igreja alemã de desafiar o Vaticano e fomentar o cisma. Mas essa acusação soará vazia se os bispos dos EUA desafiarem Roma e recusarem a Comunhão a Biden.
Em fevereiro, eu dei a notícia de que o papa pensava em ir a Glasgow, em novembro, para a cúpula da COP-26 sobre as mudanças climáticas. Fontes em Roma dizem que uma viagem está sendo preparada – se a pandemia permitir –, e Francisco está ansioso para fazer tudo o que puder para encorajar os líderes mundiais a agirem para proteger o planeta. Se houver uma viagem, segundo me disseram, ela será curta (possivelmente de um dia) e se concentraria na cúpula.
As especulações de que o papa pode visitar a Escócia foram alimentadas novamente com a visita de Alok Sharma, o presidente da COP-26 do Reino Unido, ao Vaticano na segunda-feira. Sharma encontrou-se com o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, e com o arcebispo Paul Gallagher, secretário para as Relações com os Estados. Se a viagem ocorrer, lembre-se de que leu primeiro na The Tablet...
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Catequese, Comunhão a políticos e mudanças climáticas: notícias de Roma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU