24 Abril 2021
“A questão não é quanto custa sair da pandemia, mas qual é o modo mais rápido de fazer isso.” Peter Sands, 59 anos, é o diretor executivo do Fundo Global com sede em Genebra e, com a sua experiência de ex-banqueiro inglês, contribuiu com o objetivo do Act Accelerator lançado pela OMS de arrecadar 11 bilhões de dólares para ajudar os países desfavorecidos com maquinários, testes e vacinas, mas seriam necessários pelo menos mais 22 bilhões.
A reportagem é de Francesco Rigatelli, publicada por La Stampa, 23-04-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em que ponto vocês estão?
Esta não é uma guerra, mas o G7 deveria agir como Roosevelt e Churchill, quando entenderam que, para acabar com a Segunda Guerra Mundial, era preciso intervir sem hesitação. O fim da pandemia não ocorre por acaso, mas são os líderes que á decidem. Pode ser uma questão de meses ou de anos, e depende deles.
De meses?
Se agirmos com decisão, o mundo pode se tornar mais seguro em poucos meses. Não é só uma questão de vacinas, mas de médicos e enfermeiros para injetá-las, de aparelhos de oxigênio, de farmácias, de testes diagnósticos. Sequer conhecemos a real situação do contágio em muitos países.
Qual é a primeira coisa a ser feita?
O vírus continua variando, e as suas mutações minam os instrumentos que produzimos. É muito claro aquilo que é necessário: é preciso reduzir as infecções globais o mais rápido possível.
Você disse que há o risco de uma batalha vencida pela metade, assim como para o HIV, a tuberculose e a malária...
É isso, e vemos isso pela diferença de abastecimento dos países. Metade do mundo não tem aquilo de que é preciso: uma desigualdade que o Ocidente corre o risco de pagar, porque o vírus deixado correndo solto em outros lugares poderia produzir variantes capazes de reinfectá-lo. Não é retórico dizer que ninguém pode se sentir seguro.
Quem pagaria os dois bilhões de vacinas que vocês desejam distribuir neste ano?
O objetivo é de chegar a 20% da população mundial, mas é claro que isso não é suficiente. É necessária uma estratégia abrangente de tratamentos e testes, se quisermos deter a pandemia imediatamente. Não é por acaso que gastamos oito bilhões de dólares com 900 milhões de testes neste ano.
Muitas das vacinas são produzidas na Índia, que parece não querer entregá-las...
A Índia é o maior produtor de vacinas, mas também o lugar onde o vírus corre mais forte, então há uma tensão muito compreensível. Essa é outra razão pela qual são necessários mais investimentos.
O que um ex-banqueiro está fazendo ao lidar com tudo isso?
Eu queria fazer algo diferente e aprofundar a relação entre economia e saúde. Sempre me perguntei por que agências como o Fundo Monetário não lidavam com isso, e aqui estou.
Vocês têm sede em Genebra para trabalhar com a OMS?
Sim, a OMS dá as diretrizes, nós fornecemos equipamentos, testes e vacinas em caso de epidemia, e a Gavi é especializada nestas últimas.
Como o Fundo Global é financiado?
Em 90%, pelos governos, e 10% por privados. Em 2019, antes da Covid, arrecadamos 14 bilhões de dólares e, desde então, mais quatro bilhões. Não se deve esquecer que, em 2020, a tuberculose matou o mesmo número de pessoas que a Covid e, em 2021, haverá mais. Entre a África e a Ásia, desde meados do ano passado, as possibilidades de diagnóstico de tuberculose caíram 59%; os testes de HIV, 41%; e de malária, 31%. Existem muitas doenças não detectadas e não tratadas. Infelizmente, as consequências da Covid são inimagináveis.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Pandemia: “G7 deve agir como em uma guerra. Metade do mundo ainda está sem doses” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU