02 Março 2021
Ainda estamos muito longe dos objetivos, e já há um alerta vermelho, para um mundo que vai se aquecer mais de 1,5°C em comparação com o período pré-industrial, se não conseguirmos cortar as emissões mundiais rapidamente.
A reportagem é de Giacomo Talignani, publicada por La Repubblica, 01-03-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A ONU voltou a soar o alarme: apenas 75 países de um total de 200 apresentaram até agora planos de redução das emissões, e os compromissos assumidos até aqui são insuficientes para alcançar os objetivos fixados para 2030. Nesse ritmo, com muito poucos países concretamente comprometidos com a redução das emissões que modificam o clima, aplicando políticas de corte severas, de acordo com as Nações Unidas, o aumento das temperaturas será inevitável.
Como informou o secretário-geral Antonio Guterres, os primeiros que deverão se comprometer mais com a redução das emissões são, sobretudo, os países mais poluentes, incluindo os EUA, que recentemente voltaram a entrar oficialmente no Acordo de Paris.
“Em 2021, ou vai ou racha, no que diz respeito à emergência climática mundial. A ciência é clara: para limitar o aumento das temperaturas a 1,5 grau, devemos reduzir as emissões poluentes em 45% até 2030 em comparação com 2010”, reiterou o secretário, que falou de “alerta vermelho para o planeta”, se não conseguirem conter as emissões.
We are nowhere near the level of ambition needed to meet the #ParisAgreement goals.
— António Guterres (@antonioguterres) February 26, 2021
Nationally Determined Contributions of major emitters must set more ambitious targets for 2030.
Long-term commitments must be matched by immediate actions that people & planet desperately need. https://t.co/UZQoeOUtdP
Até o fim de 2020, os cerca de 200 países signatários dos Acordos de Paris de 2015, aqueles que firmaram o compromisso para conter o aquecimento global possivelmente até 1,5 grau, deveriam ter apresentado seus planos e objetivos concretos para combater o aquecimento global.
No entanto, apenas 75 países, que representam 30% das emissões poluentes mundiais, incluindo todos os da União Europeia, apresentaram os planos. Por enquanto, segundo a ONU, o impacto geral dos compromissos de quem cumpriu o prazo representaria menos de 1% da queda das emissões até 2030 (em comparação com 2010).
Para a responsável da ONU para o clima, Patricia Espinosa, “é incrível pensar que, diante de uma emergência que pode acabar com a vida humana no planeta, e apesar de todos os estudos, os relatórios e as advertências dos cientistas do mundo inteiro, muitos países mantêm a sua abordagem de "status quo”.
De acordo com Guterres, “os mais importantes poluidores devem apresentar objetivos de redução das emissões muito mais ambiciosos para 2030 nos seus planos nacionais” e devem fazer isso “muito antes da COP-26, a conferência sobre o clima de Glasgow em novembro”.
Entre os países mais poluentes em termos de emissões, além dos EUA e da Índia, também se encontra a China, que se comprometeu a alcançar a neutralidade de carbono até 2060, mas que ainda está aquém em relação aos volumes das suas emissões para uma mudança real. Vários países, aliás, estão justificando a não apresentação dos planos com outra prioridade, a emergência sanitária ligada à pandemia.
Para Espinosa, porém, “a emergência climática não parou por causa da pandemia e não vai desaparecer porque há outra emergência. Os grandes poluidores e, em particular, os países do G20 são os que devem dar o exemplo”.
Por isso, todos os governos, principalmente os que estão à frente de países com forte impacto em termos de emissões, são convidados pela ONU a reduzir as emissões pela metade nos próximos 10 anos, se quiserem garantir um futuro para a Terra. Caso contrário, o alerta vermelho, como reiterou Guterres, dificilmente deixará de “soar”: “Os principais produtores de emissões devem intensificar os objetivos de redução das emissões e ser muito mais ambiciosos”, defende o secretário-geral.
Em particular, entre os países que preocupam pela lentidão ou pela inadequação de seus planos climáticos, está a Austrália, que até agora não apresentou planos oficiais, e cuja contribuição substancial para a luta contra o aquecimento global é considerada, pela maioria dos especialistas, como fraca demais, e também, por exemplo, o Brasil ou o México, apontados por estarem muito atrás na aplicação concreta de políticas para o clima.
Em geral, a União Europeia está melhor. Entre todos, ela deu um grande passo, ao estabelecer para si o objetivo do corte de 55%. De acordo com alguns especialistas, são ótimos os objetivos de redução de mais de 60% que, por exemplo, o Nepal, a Argentina ou o Reino Unido definiram para si mesmos.
Para todos os países do mundo, porém, será fundamental que haja uma relação real entre os objetivos anunciados e a efetiva redução das emissões. Por exemplo, a Alemanha, um dos Estados que, como reiterou Angela Merkel repetidamente, está na vanguarda da batalha contra a crise climática, chamou a atenção por suas ações contraditórias, como o recente início de usinas de carvão ou o não abandono concreto de diversos sistemas de suprimento a partir de fontes fósseis. O mesmo é verdade, em alguns casos, para o Japão.
Para salvar o planeta da ameaça da emergência climática, portanto, é preciso que os compromissos assumidos não permaneçam apenas como anúncios, mas se tornem realidade. Como aponta Guterres, “os compromissos de longo prazo devem ser acompanhados de ações imediatas e concretas para iniciar a década de transformação da qual as pessoas e o planeta precisam tão desesperadamente”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Soa o alarme da ONU: “Alerta vermelho para o clima” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU