29 Janeiro 2021
Na tradição judaica se fala que Deus recolhe todas as lágrimas das mulheres. Paulo, em uma das passagens mais inspiradas, proclama o fim de toda diferença graças a Jesus, inclusive aquela entre homem e mulher. "Então, por que é tão difícil para os homens não entender, mas sentir que masculino e feminino são a mesma coisa, uma dupla versão do único Adão, do único Terrestre?", pergunta o teólogo Brunetto Salvarani no prefácio de La donna nel Nuovo Testamento e nella Chiesa (Edb, p. 78, € 9,00). Um ensaio curto e interessante, do qual Salvarani é o editor, no qual o pastor valdense Paolo Ricca, a teóloga Cristina Simonelli e a biblista Rosanna Virgili analisam o feminino no cristianismo. E nas comunidades eclesiais.
O comentário é de Lucia Capuzzi, jornalista italiana, publicado por Avvenire,27-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A legislação civil finalmente reconheceu a plena cidadania à mulher, permitindo a esta última evidenciar atitudes há muito ignoradas. A Igreja tem sido capaz de apreciá-las e usá-las? O questionamento combina as diferentes intervenções. Não se trata de reivindicar poder, mas de garantir a plena comunhão de homens e mulheres, feitos um em Cristo. Afinal, enfatiza Virgili, é apenas com o advento de Eva no Éden que o Adam, o animal terrestre, se torna homem em sentido moral. É do pecado que surge não um castigo divino, mas a ruptura da comunhão entre os dois viventes e a submissão da mulher ao homem. “Aconteceu uma corrupção: o que era conatural à pessoa humana - a adesão mútua, o canto da correspondência - tornou-se um terreno de luta, dor e dominação”, afirma a biblista que também se confronta com a misoginia exegética e a leitura, no sentido patriarcal, de algumas passagens paulinas.
Ricca, por outro lado, concentra-se no fundamento teológico da ministerialidade feminina. A ponto de se confrontar, do ponto de vista protestante, com a questão do ministério ordenado. Embora não reconhecendo a diferença de essência entre o sacerdócio ordenado e o comum, somente no decorrer do século XX, a partir da Alemanha, é que as Igrejas Protestantes introduziram o pastorado feminino, originalmente devido à escassez de aspirantes do sexo masculino por causa da guerra. “Portanto, não é de todo óbvio que este inédito absoluto na história da Igreja depois do tempo apostólico veja a luz na maioria das Igrejas cristãs, de hoje e de amanhã”, é a tese de Ricca.
Falar de feminino na esfera eclesial implica também uma séria reflexão sobre a masculinidade. Uma questão, diz Simonelli, sobre a qual persiste uma espécie de “maculopatia” de gênero: “Nos contornos a visão é de alguma forma preservada, mas o centro do campo visual fica turvo, quando não completamente anulado”. A chave para construir uma relação harmoniosa mulher-homem é a sinodalidade. Em seu horizonte “homens e mulheres podem compartilhar seus dons e competências, para que suas diferenças não tenham que se hierarquizar e a diaconia de corpos e das ideias, das mãos e das palavras, da reflexão crítica e da ação solidária forme uma harmonia que pode ser discordante, mas nunca humilhante, que não tenha necessidade de um inferior ou de um inimigo para se produzir e se compor”.
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Pensar o feminino, repensar o masculino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU