14 Janeiro 2021
No último século, a produção global de plástico chegou à marca de 320 milhões de toneladas por ano.
A reportagem é de Fábio Marques, publicada por EcoDebate, 12-01-2021.
Agora, um estudo inédito realizado por pesquisadores de diferentes instituições médicas e acadêmicas da Itália encontrou as primeiras evidências da presença de microplástico na placenta humana.
Para a médica Jordanna Leão, que tem mais de 10 anos de experiência com acompanhamento fetal, o resultado é alarmante e reforça a importância de mudar a concepção que se tem do papel da gestante ao longo da gravidez.
De acordo com a pesquisa italiana, 12 fragmentos foram encontrados nas placentas de quatro das seis gestantes que forneceram material para o estudo. O microplástico é uma partícula com menos de cinco milímetros originada da degradação do plástico presente no ambiente.
Embora sejam necessárias mais evidências para definir o impacto desse material na gestação, acredita-se que ele possa ter influência no desenvolvimento do feto, em sua reação imunológica e na preparação da mãe. Segundo Jordanna Leão, alguns números em torno da gravidez são preocupantes e podem estar relacionados a essa descoberta.
“Hoje uma em cada quatro mulheres entra em depressão pós-parto no Brasil e menos de 40% consegue amamentar exclusivamente. Se pensarmos bem, a depressão pós-parto é a não transformação da mente da mulher. Como mamíferos, nossa mente precisa se transformar para que nosso corpo acompanhe essa mudança, mas isso não acontece quando a gente não tem tudo que precisa ou quando somos bombardeados de substâncias e informações”, argumenta.
Para a médica, isso tem relação com o uso excessivo de produtos cosméticos, mesmo durante a gestação. Os dados da pesquisa italiana reforçam que o material encontrado nas placentas analisadas também é bastante presente em itens como cremes para o corpo, unhas em gel, esmaltes, entre outros.
No mesmo sentido, Jordanna reforça que o número de gestantes que ela observa em seu consultório fazendo uso excessivo desses produtos é alto. “Muitas vezes, recebo pacientes no consultório que têm dificuldade de realizar o exame de oximetria porque estão com unhas em gel tão grandes que não cabem no aparelho”, relata.
Diante da experiência acumulada em mais de uma década de acompanhamento fetal, a médica afirma que o comportamento das gestantes em relação ao papel que desempenham na gravidez precisa ser revisto.
Ela explica que é comum que a mãe ache que seus hábitos se resumem a garantir que o feto não corra risco de morte, mas destaca que isso não é suficiente. Diante dos impactos causados pelos microplásticos, Jordanna aconselha que o uso seja drasticamente reduzido, tanto pelo risco de contaminação como pelo efeito causado na própria gestante.
“Ela enche seu corpo de cremes e produtos repletos de plástico, parabenos e outras substâncias que causam disrupção endócrina. Isso acontece porque esses cosméticos fingem ser um tipo de hormônio, mas não fazem a função hormonal”, explica.
Indo além, a médica argumenta que, embora sejam necessários novos estudos, é possível que o material que chegou à placenta também esteja presente em outros tecidos da gestante, causando efeitos nocivos ao seu desenvolvimento para a maternidade que podem ser determinantes para a saúde do bebê e para a relação da mãe.
“O que vamos começar a ver é que o mundo moderno mudou bastante. É preciso entender a importância dos cuidados, de não usar qualquer creme, de evitar as unhas em gel, enfim, de ser o mais natural possível”, completa.
Antonio Ragusa, Alessandro Svelato, Criselda Santacroce, Piera Catalano, Valentina Notarstefano, Oliana Carnevali, Fabrizio Papa, Mauro Ciro Antonio Rongioletti, Federico Baiocco, Simonetta Draghi, Elisabetta D’Amore, Denise Rinaldo, Maria Matta, Elisabetta Giorgini, Plasticenta: First evidence of microplastics in human placenta, Environment International, Volume 146, 2021, 106274, ISSN 0160-4120. Disponível aqui.
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Estudo encontra evidências da presença de microplástico na placenta humana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU