08 Dezembro 2020
A pandemia da COVID-19 impactou significativamente as emissões de gases do efeito estufa e poluentes na atmosfera. Entretanto, um inimigo silencioso teve um crescimento de produção. O consumo de plástico aumentou, com maior demanda por descartáveis, inclusive máscaras.
A reportagem é de Matheus Zanon, publicada por EcoDebate, 07-12-2020.
Levantamento publicado no Atlas do Plástico, da Fundação Heinrich Böll, afirma que, se toda população brasileira utilizasse máscaras descartáveis, seriam necessárias 3,5 bilhões de máscaras por mês. O total significa 10,5 mil toneladas de plástico, o equivalente ao peso de nove Cristo Redentor.
A pandemia também afetou gravemente os sistemas de reciclagem. Houve um aumento de 25 a 30% na coleta de materiais recicláveis durante o período da pandemia comparado com o ano anterior, de acordo com a ABRELPE. Porém, segundo esses dados, grande parte do volume coletado está sendo encaminhado diretamente para aterros sanitários, devido ao fechamento ou diminuição da atuação das cooperativas e unidades de triagem em diversas cidades.
No Brasil, salvo raras exceções, quase todo lixo reciclado passa pelas mãos de catadores. E esses, autônomos ou cooperados, continuaram em grande parte trabalhando para conseguir seu sustento, mesmo os que fazem parte do grupo de risco. Muitos estão sem ter onde vender o material coletado, já que as cooperativas e sistemas de triagem, em sua maioria continuam fechadas. Soma-se a esta situação, a falta de cuidados da população na hora de dispensar o lixo, uma preocupação constante no dia a dia dos catadores.
Soma-se a isso, a tentativa da indústria do plástico de “vender” a importância desses produtos para manter os alimentos livres do vírus, mesmo havendo outras formas menos impactantes ao meio ambiente, como a reutilização de materiais. Especialistas dizem, por exemplo, que lavar os copos com água quente e sabão é suficiente para destruir qualquer traço do vírus, possibilitando a sua reutilização, ao invés de copos plásticos descartáveis.
“Existe uma tentativa das corporações, impulsionada pela pandemia, de liberar novamente o uso de descartáveis em lugares onde já havia sido banido, para continuar a alta produção desse tipo de plástico. Entretanto, o plástico, além dos impactos ambientais, é um dos materiais nos quais por mais tempo permanece o coronavírus. Existem formas mais saudáveis e menos custosas que teria um resultado maior”, alerta o Coordenador de Programa e Projetos da Fundação Heinrich Böll, Marcelo Montenegro.
Em dados recentes divulgados pela Abrelpe, a média de consumo plástico aumentou mais de 25% durante a pandemia. O número tem contribuição significativa dos serviços de delivery, que viram os valores gastos com pedidos crescerem 95% entre janeiro e maio deste ano, em comparação com o ano anterior.
“Estamos tendo mais contato com plásticos do que com pessoas durante a quarentena. E grande parte são descartáveis de uso único que não podem ser reciclados, causando um verdadeiro tsunami plástico”, afirma Montenegro.
Notas:
1: Publicação do Atlas do Plástico está disponível para download aqui.
2: Todos os dados presentes no Atlas do Plástico foram checados pela Lupa, a primeira agência de notícias do Brasil a se especializar na técnica jornalística mundialmente conhecida como fact-checking. Além disso, os textos são assinados por especialistas e pesquisadores do assunto.
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Consumo e descarte de plásticos aumentou durante pandemia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU