30 Novembro 2020
Un Altro Papa.
Ratzinger, Le Dimissioni E Lo Scontro Con Bergoglio
Marco Ansaldo. Editor: Rizzoli. Ano de publicação: 2020
No mercado a partir de: 24 de novembro de 2020
Páginas: 155. Capa dura
Um pouco de luz, ainda que apenas sugerida e narrada. "Exceto Paolo Gabriele - o mordomo de Bento XVI (prematuramente falecido nesta semana, ndr), capaz de roubar os papéis secretos do armário de Georg Ganswein, o assistente pessoal do Papa (e entregá-los para o livro ‘Sua Santidade’, ndr) - acredito que conheci todos os chamados Corvos do Vaticano. Não é que se apresentassem dizendo ‘Oi, sou um informante secreto’, mas quando você se encontrava com eles, sentia de longe que estavam trazendo notícias coordenando-se dentro de um grupo. Não excluo de forma alguma que eles distribuíssem entre si as tarefas e os jornalistas de diferentes jornais, aliás, tenho certeza disso, porque de fato perguntei a alguns Corvos e eles me confirmaram”.
Este é o chocante relato de Marco Ansaldo, na época dos eventos correspondente no Vaticano e enviado especial para a política externa da "Repubblica", em seu livro "Un altro Papa" (Rizzoli). Ainda mais chocante é que a identificação dos agourentos pássaros (aos quais Edgar Allan Poe dedicou um poema angustiante O Corvo, justamente) seja por categorias de pertença.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por Huffington Post, 28-11-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
O relato de Ansaldo continua: “Funcionários do serviço secreto. Executivos da Presidência do Conselho. Prelados internos e externos da Santa Sé. Hackers e especialistas em informática. Jornalistas e correspondentes estrangeiros. Eles entravam em contato com você”. E mais ainda: "Somos cerca de vinte - um dos Corvos me disse - e estamos ramificados em todas as organizações do Vaticano, do Osservatore Romano aos dicastérios mais relevantes".
Uma intriga, portanto, não só interna ao Vaticano, mas também internacional, que envolveu personalidades italianas proeminentes. Em suma, Bento XVI estava entre os que eram espionados, isso confirma a semelhança entre os dois eventos humanos e históricos do Papa Ratzinger e seu antecessor, que carregou o nome de Bento antes dele, Bento XV.
Ansaldo também revela o propósito perseguido pelos Corvos. “Um dos Corvos em certo momento confidenciou-me: 'Nós nos concentramos em Bertone (o ex-secretário de Estado do Vaticano, ndr) para detoná-lo, e uma campanha massiva foi realizada contra o secretário de Estado, mas o verdadeiro alvo é Ratzinger. É ele que deve ser tirado para poder chegar a outro Papa, completamente diferente'”.
A questão é que, como Ansaldo escreve, o caso Vatileaks1 mirado no cardeal Bertone, finalmente atingiu o Papa Bento XVI e foi gerado pelos Corvos que o articularam vitoriosamente. O caso, Vatileaks2 que estourou no final de 2015, e o relativo processo, "os havia identificado e aniquilado". Com um adendo importante: “Quase todos”.
É nesse "quase todos" que se aninham os atuais inimigos do Papa Francisco?
Eu acho que isso é muito provável. No livro está o testemunho (demasiado atinente e alusivo) do P. Georg Ganswein, que no final do pontificado de Ratzinger evidentemente nem mesmo entendeu o que estava acontecendo e que no início deste ano foi afastado pelo Papa Francisco, depois do pastiche do livro escrito em conjunto pelo Cardeal Sarah e pelo Papa emérito (que havia assinado como Bento XVI). Um outro Papa? Com Francisco que também "renuncia", depois de Francisco, quando morrer Ratzinger? Ansaldo parece vislumbrar esse possível cenário futuro. Não que o próprio Francisco não tenha falado sobre isso em várias ocasiões, mas no ponto a que as coisas chegaram (depois do caso McCarrick e do escândalo financeiro dos fundos da Secretaria de Estado), não parece que tenha chegado a hora. Muito pelo contrário. O Papa Francisco não dá sinais de querer parar.
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Os corvos do Vaticano e o outro Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU