28 Agosto 2013
Quando se aproxima o centenário do início da Grande Guerra (1914), vem novamente à tona um episódio que apresenta curiosas analogias com a atualidade e parece dar razão a Giambattista Vico e à sua teoria dos cursos e recursos históricos. Os ingredientes são estes: uma história de espionagem que envolve o Vaticano; um papa chamado Bento; um mordomo, que na realidade era um espião.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada no jornal Corriere della Sera, 27-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas podem ficar tranquilos. Trata-se de Bento XV (nascido Giacomo Della Chiesa) e não XVI (isto é, Joseph Ratzinger), mas a história também diz respeito a um mordomo de sua Santidade ou, melhor, como se dizia então, de um camareiro secreto, Mons. Rudolph Gerlach, um nobre bávaro, que, na realidade, era um agente dos alemães e dos austríacos durante a Grande Guerra, enquanto o pontífice se esforçava contra o "inútil massacre".
Quem desempenha um papel central no episódio é um alto funcionário italiano, discreto e confiável, chamado Monti – Carlo, diretor à época do Escritório para os Assuntos do Culto, além de ligação do governo com a Santa Sé (visto que os Pactos Lateranenses ainda estavam por vir e não havia embaixadores). Monti desempenhou um papel-chave para ajudar o Vaticano naquele momento tão difícil, permitindo que Gerlach se protegesse na Suíça, apesar da acusação de espionagem e um processo.
Annibale Paloscia, que foi editor-chefe da Ansa e é especialista em história da espionagem italiana, havia reconstruído a história ainda em 2007, graças aos documentos históricos conservados no Arquivo Central do Estado, aos arquivos do Tribunal Militar e do Escritório Histórico da Marinha Militar Italiana, mas agora o livro voltou há poucos dias às livrarias pela editora Mursia.
Bento XV, depois de mais de 80 anos de escuridão, havia sido trazido à atenção, de alguma forma, pelo fato de que o sucessor de João Paulo II tinha escolhido o seu nome, mas ninguém, no momento da eleição de Ratzinger, poderia imaginar que as analogias entre os dois pontificados, embora mudando completamente o contexto e as circunstâncias dos fatos, pudessem chegar até a notícia do recente processo vaticano contra o chamado "Corvo".
Bento XV nunca acreditaria na culpa do seu mordomo (embora, enquanto isso, o monsenhor havia sido condenado à prisão perpétua à revelia) e, em uma afetuosa carta de conforto, que lhe foi entregue na Suíça, assegurou-lhe do "antigo e intacto afeto".
Paloscia argumenta que, "na origem da longa escuridão sobre esse pontífice, estão os graves segredos ainda não revelados sobre a sua relação com o monsenhor". O biógrafo de Bento XV, John Pollard (no livro Il Papa sconosciuto, Edições San Paolo, 2001), também supõe que "Bento XV tinha 'um especial afeto' por Gerlach", que era bonito, atlético e principalmente dotado de uma personalidade fascinante, e tinha sido seu aluno na Academia Diplomática da Santa Sé, na Piazza della Minerva.
O fato é que "o vínculo entre o papa e Rudolph, qual fosse a sua natureza, gerou uma grande intriga de Estado". Porque Gerlach, que era o chefe de uma poderosa rede de espionagem a serviço dos Impérios centrais em guerra contra a Itália, pela sua posição, e desfrutando da plena confiança do papa, era capaz de se apossar dos mais importantes segredos militares italianos.
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O ''corvo'' alemão de Bento XV: espionagem no Vaticano em 1914 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU