16 Outubro 2020
A sobrevivência de vários povos indígenas isolados está em risco depois que incêndios foram iniciados em seus territórios. Ativistas descreveram os incêndios na Amazônia e a guerra do presidente Bolsonaro contra os povos indígenas como “as mais graves ameaças à sobrevivência dos indígenas isolados dos últimos anos”.
A reportagem é publicada por Survival, 14-10-2020.
Quatro territórios indígenas enfrentam uma crise especialmente grave:
- A Mata do Mamão na Ilha do Bananal no Tocantins, a maior ilha fluvial do mundo, é habitada por indígenas isolados do povo Ãwa. Oitenta por cento da floresta foi queimada no ano passado – os incêndios vistos este ano estão ocorrendo em uma das últimas áreas de floresta intacta. Mais de 100.000 cabeças de gado pastam agora na ilha.
- A Terra Indígena Ituna Itatá (“Cheiro de Fogo”) no estado do Pará é habitada exclusivamente por indígenas isolados. Esse foi o território indígena mais desmatado em 2019 e é bastante visado por grileiros e pecuaristas. Nos primeiros quatro meses de 2020, 1.319 hectares de floresta foram destruídos, um aumento de quase 60% em relação ao mesmo período do ano passado.
- A Terra Indígena Arariboia, no estado do Maranhão onde habitam indígenas isolados do povo Awá, que já foi amplamente invadida. Os Guardiões da Amazônia do povo indígena Guajajara, vizinhos dos Awá, estão alertando diariamente que madeireiros ilegais estão destruindo a floresta em uma velocidade alarmante.
- A Terra Indígena Uru Eu Wau Wau em Rondônia onde indígenas isolados flecharam e mataram o renomado indigenista Rieli Franciscato no mês passado – ativistas temem que o grupo esteja sendo forçado pelos invasores a sair de sua floresta.
Muitos dos incêndios estão sendo iniciados para limpar a floresta para exploração madeireira e pecuária, enquanto milhões de toneladas de soja, carne, madeira e outros produtos são exportados para a Europa e os EUA a cada ano.
A APIB, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, lançou uma campanha para destacar a ligação entre Bolsonaro, seus apoiadores do agronegócio e a violência genocida cometida contra os povos indígenas em todo o país. Eles estão pedindo a pessoas e empresas em todo o mundo que parem de comprar produtos que estão alimentando a destruição de seus territórios.
A Survival lançou uma ação global pedindo aos supermercados da Europa e dos Estados Unidos que parem de comprar produtos do agronegócio brasileiro até que os direitos indígenas sejam garantidos.
Ângela Kaxuyana, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), disse: “A grilagem de terra, o desmatamento e os incêndios criminosos ameaçam diretamente a vida dos nossos parentes em isolamento voluntário. A destruição dos territórios que são suas únicas fontes de vida, de onde garantem sua alimentação (fauna, flora e água), podem levá-los ao extermínio”.
Tainaky Tenetehar, um dos Guardiões Guajajara que protegem a Terra Indígena Arariboia para o povo Guajajara e seus vizinhos isolados Awá, disse hoje: “Nós lutamos para proteger esta floresta, e muitos de nós morreram fazendo isso, mas os invasores continuam chegando. Eles destruíram tanto a floresta nos últimos anos que os incêndios agora são muito maiores e mais graves do que antes, pois a floresta está muito seca e vulnerável. Os madeireiros devem ser expulsos – só então os indígenas isolados Awá podem sobreviver e prosperar.”
Sarah Shenker, pesquisadora e ativista da Survival, disse: “Em muitas partes do Brasil, as terras dos povos indígenas isolados são as últimas áreas significativas que ainda restam da floresta tropical. Agora elas estão sendo alvos de grileiros, madeireiros e fazendeiros encorajados pelo apoio aberto de Bolsonaro a eles. Os consumidores dos EUA e da Europa devem entender que há uma conexão direta entre os alimentos nas prateleiras dos supermercados e essa destruição genocida – e devem agir para parar. Os indígenas isoladas são os povos mais vulneráveis do planeta e, ao mesmo tempo, os melhores guardiões da natureza. Não podemos deixar sua terra queimar.”
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Povos indígenas isolados estão ameaçados pelos incêndios na Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU